Fotos: Priscila Reis/Secult
Publicado originalmente no site Sergipe Cultural, em
27/11/2014.
Catálogo de Renda Irlandesa é lançado em Aracaju com
presença das rendeiras
O modo de fazer renda irlandesa em Sergipe é Patrimônio
Cultural Imaterial do Brasil. O título, concedido em 2008, só fez aumentar o
interesse de pesquisadores culturais e da indústria da moda e do design pelo
produto feito a mão por mulheres sergipanas. Para melhor divulgar essa arte e
turbinar a economia nesses municípios, foi formatado um Catálogo de Produtos da
Renda Irlandesa em Sergipe, lançado na noite de quarta-feira, 26, no Museu da
Gente Sergipana.
O catálogo é uma iniciativa da Superintendência do Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Sergipe, em parceria
com o Instituto Banese, o Governo de Sergipe, através da Secretaria de Estado
da Cultura (Secult) e outros órgãos, e da Prefeitura Municipal de Divina
Pastora. “Trata-se de uma iniciativa no contexto Plano de Salvaguarda de Bens
Registrados, que compreende ações de proteção a esses bens, organizadas em
eixos e tipos pré-estabelecidos, com metas de curto, médio e longo prazo e
resultados sistematicamente monitorados”, explica a superintendente do
Iphan/SE, Terezinha Oliva.
Representando o governador Jackson Barreto no evento, a
secretária da Cultura, Eloísa Galdino, parabenizou todos os envolvidos no
projeto. “É uma iniciativa importantíssima, tanto do ponto de vista patrimonial
quanto da economia criativa. São peças riquíssimas produizidas no interior do
nosso Estado que estão ganhando o mundo da moda e do design. Quero aqui
felicitar todos pela iniciativa, mas, especialmente, as rendeiras aqui
presentes”, discursou Eloísa.
Dona Alzira Menezes, uma das rendeiras presentes, mostrou-se
orgulhosa com o catálogo. “Estou muito feliz de ver o zelo que todos têm com o
nosso trabalho e tenho certeza de que essa felicidade também está presente em
todas as minhas amigas que aqui estão, pois vai aumentar o interesse de gente
de todo o Brasil pelos nossos produtos”, declarou.
Sobre a renda irlandesa
O Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência este
ofício em Divina Pastora, no Estado de Sergipe, é relacionado ao universo
feminino e vinculado, originalmente, à aristocracia. A partir, especialmente,
da metade do século 20, a confecção da renda surgia como uma alternativa de
trabalho, e hoje essa tarefa ocupa cerca de trezentas artesãs, além de ser uma
referência cultural. O Modo de Fazer Renda Irlandesa, tendo como referência
este ofício em Divina Pastora/SE, foi inscrito no Livro de Registro dos
Saberes, em 2009.
Constitui-se de saberes tradicionais que foram
re-significados pelas rendeiras do interior sergipano a partir de fazeres
seculares, que remontam à Europa do século XVII, e são associados à própria
condição feminina na sociedade brasileira, desde o período colonial até a
atualidade. Trata-se de uma renda de agulha que tem como suporte o lacê, cordão
brilhoso que, preso a um debuxo ou risco de desenho sinuoso, deixa espaços
vazios a serem preenchidos pelos pontos. Estes pontos são bordados compondo a
trama da renda com motivos tradicionais e ícones da cultura brasileira, criados
e recriados pelas rendeiras.
O “saber-fazer” é a qualidade mais característica da
produção da Renda Irlandesa, a qual é compartilhada pelas rendeiras sob a
liderança de uma mestra reconhecida pelo grupo. As mestras traçam o risco
definidor da peça, que é apropriado coletivamente. Fazer Renda Irlandesa é,
portanto, uma atividade realizada em conjunto, o que permite conversar, trocar
ideias sobre projetos, técnicas e pontos. Neste universo de sociabilidades, são
reafirmados sentimentos de pertença e de identidade cultural, possibilitando a
transmissão da técnica e o compartilhamento de saberes, valores e sentidos
específicos.
A cidade de Divina Pastora se tornou o principal polo da
renda irlandesa em razão de condições históricas de produção vinculadas à
tradição dos engenhos canavieiros, à abolição da escravatura e às mudanças
econômicas que culminaram na apropriação popular do ofício de rendeira,
restrito originalmente à aristocracia. A renda irlandesa é um tipo de renda de
agulha, dentre as muitas existentes no Brasil. Combina uma multiplicidade de
pontos executados com fios de linha tendo como suporte o lacê, produto
industrializado que se apresenta sob várias formas, sendo o fitilho e o cordão
os mais conhecidos na atualidade.
Texto e imagens reproduzidos do site: cultura.se.gov.br
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