Foto: Aventuracao.com.br
Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 27 de agosto de 2018
Cavernas de Sergipe poderiam ser exploradas para turismo de
aventura
São 103 cavidades naturais distribuídas em 18 municípios.
Com o registro de 103 cavidades naturais distribuídas em 18
municípios - Laranjeiras, Socorro, Maruim, Divina Pastora, Rosário do Catete,
Japaratuba, Siriri, Itabaiana, São Domingos, Campo do Brito, Macambira,
Lagarto, Simão Dias, Canindé do São Francisco, São Cristóvão, Capela, Tobias
Barreto e Umbaúba - , Sergipe tem um novo e bom potencial para explorar pelo
chamado turismo de aventura, como já fazem Estados como a Bahia, Minas Gerais,
São Paulo e Rio de Janeiro.
Os 103 casos revelados no parágrafo anterior representam
apenas cavidades naturais confirmadas in loco, durante expedições do Centro da
Terra – Grupo Espeleológico de Sergipe, mas há vários relatos e outras
informações sobre cavidades em municípios que ainda não foram prospectados.
“É importante frisar também que consideramos cavidades naturais
subterrâneas aquelas formadas por processos naturais e que possuem
características que as classificam assim, de acordo com suas dimensões que vão
de 5 metros de desenvolvimento horizontal, no caso de tocas, até mais de 300
metros no caso de algumas grutas. Sendo assim, podemos encontrar em um
município uma cavidade natural subterrânea do tipo toca, de apenas 6 metros, a
exemplo da Toca dos Macacos, em Tobias Barreto; ou uma gruta de mais de 60
metros, a exemplo da Gruta do Rei, em Canindé; e ainda abismos que são
cavidades horizontais com mais de 10 metros de desnível, a exemplo do da Furna
do Dorinha, com 50 metros, em Simão Dias”, destaca o espeleólogo Elias Silva,
associado fundador do Centro da Terra .
Silva lembra que não temos em Sergipe cavernas de grandes
dimensões, como as que normalmente vemos na TV, a exemplo das cavernas em Minas
Gerais, São Paulo e Bahia. As cavernas de Sergipe são em sua maioria pequenas,
mas com grande riqueza biológica e importância cultural. A exploração turística
de cavernas em Sergipe é possível apenas em uma minoria, porque a maioria
apresenta características que limitam ou mesmo impossibilitam a visitação e
acesso interno. São cavidades que apresentam grandes colônias de morcegos, e
consequentemente muito acúmulo de guano (fezes de morcegos), e associados a
esse guano há diversos seres como insetos e aracnídeos e mesmo em algumas é
possível encontrar alguns fungos patogênicos.
Visitas Guiadas
A maior caverna de Sergipe e que apresenta possibilidades de
visitação é a Toca da Raposa, em Simão Dias, com aproximadamente 400 metros de
desenvolvimento total (somando-se todos os condutos da caverna). Encontra-se em
uma propriedade particular e os proprietários, participaram de um curso
ministrado pelo CENTRO DA TERRA, já realizam visitas guiadas e agendadas. Há
outras cavidades em Sergipe que mesmo de pequenas dimensões, se planejadas,
permitem visitação de cunho científico, educacional e mesmo contemplativo. São
exemplos a Gruta da Pedra Furada, Matriana e Faleiro, em Laranjeiras; a Gruta
do Pórtico em Simão Dias, e algumas cavidades em Canindé associadas a atrativos
já existentes.
Elias Silva afirma que a possibilidade de um roteiro
turístico em Sergipe com foco em cavernas é algo factível, desde que haja
planejamento para evitar o turismo desordenado, que gera impactos negativos
para o ambiente cavernícola. Há necessidade também de estudos específicos para
elaboração de Planos de Manejo Espeleológico*, além de sensibilização e
treinamento das comunidades locais.
“Quando comparados a outros investimentos turísticos que tem
sido feitos no Estado, e que resultam em gastos públicos mal utilizados por
falta de planejamento, viabilizar turisticamente o Patrimônio Espeleológico em
Sergipe é algo tangível e não muito caro. Recuperação e manutenção de áreas
degradadas do entorno de cavernas, contratação de profissionais para realizar
Planos de Manejo Espeleológico, implantação de infraestrutura externa e
interna, após aprovação do Plano de Manejo Espeleológico e Licenciamento
Ambiental, cursos de capacitação da comunidade e de funcionários dos órgãos de
turismo e meio ambiente, municipais e estaduais, campanhas de sensibilização e
divulgação, são alguns exemplos do que poderia ser feito para viabilizar o uso
turístico do Patrimônio Espeleológico e do quão caro seria”, explica Elia
Silva.
O grupo
O CENTRO DA TERRA atua desde 2002 na identificação,
exploração e registro de cavernas, além de proteção e divulgação do Patrimônio
Espeleológico sergipano. Estamos sempre em busca de novos registros, pois além
dos 18 municípios já prospectados sabemos de outros municípios com potencial
para ocorrência de cavernas e que ainda não exploramos. Propriá, Indiaroba,
Poço Verde, Japoatã, e tantos outros municípios são apenas alguns exemplos de
áreas com probabilidade de novas ocorrências.
Atualmente estamos com pouco mais de 12 associados, dentre
estudantes universitários e profissionais das áreas de biologia, história,
arqueologia, turismo, geologia, administração e profissionais liberais. No
grupo há diversas atuações, desde trabalhos administrativos, palestras,
sensibilização de comunidades, até prospecção e topografia de cavernas,
monitoramento, coleta de dados, publicações em congressos, etc.
O espeleólogo lembra que “eventualmente somos procurados por
estudantes universitários de cursos como geologia, biologia e arqueologia. Há
pouca procura por parte da população geral interessada em conhecer as cavernas,
mas talvez porque ainda é um tema pouquíssimo conhecido em Sergipe”.
O grupo é uma Organização da Sociedade Civil e nunca recebeu
apoio direto contínuo de nenhuma instituição particular ou governamental, tendo
que se manter por si só através de doações de seus associados para custear
despesas de aluguel de sede, luz, água, internet, além das atividades de
exploração e educação ambiental.
Laranjeiras
Nos últimos três anos é que começamos a escrever projetos, a
exemplo do Projeto Pro Cavernas Laranjeiras, financiado pela prefeitura em
2012, e do projeto Expedição Centro da Terra que foi aprovado em edital lançado
pelo Ministério da Justiça e desde 2013 realizamos prospecção, pesquisas,
capacitação das comunidades, que resultaram em descobertas de novas cavernas e
até de sítios arqueológicos antes desconhecidos. Esse último projeto está em
fase de conclusão e até janeiro de 2016 entregaremos os resultados para a
população sergipana - kits contendo um livro, três cartilhas e um documentário
sobre as cavernas de Sergipe.
“Após a finalização desse projeto não temos apoio nem
recursos em vista, mas vamos tentar manter o grupo ativo para continuar lutando
pela conservação do Patrimônio Espeleológico de Sergipe”, conclui Elias.
Por Eugênio Nascimento/Equipe JC
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