Foto: Verônica Almeida.
Peças do Artesão Véio, no Sítio SóArte,
em Nossa Senhora da Glória-SE
em Nossa Senhora da Glória-SE
Por Jorge Henrique · Nossa Senhora da Glória, SE
Uma visita ao Sítio SóArte, no interior do Estado de
Sergipe, é, sem dúvidas, uma experiência inesquecível e singular. O sítio, de
propriedade do artesão Cícero Alves dos Santos, o Veio, localiza-se mais
precisamente na BR 206, entre os municípios de Nossa Senhora da Glória e Feira
Nova, na altura do Km 8.
Já da estrada, o visitante vislumbra um cenário insólito.
Esculturas em madeira bruta expostas a céu aberto, dispostas nas laterais do
acesso à residência do artesão, como a prepararem um corredor que envolve e
acolhe aqueles que cruzam o estranho umbral.
Ao atravessar o caminho, o visitante sente-se como quem
observa cenas de um mundo incomum, ao mesmo tempo em que é observado por seres
bizarros. Contudo, à medida que o impacto inicial se dissipa, é possível
perceber que as esculturas refletem a vida do sertanejo, em suas mais diversas
manifestações sócio-culturais, construindo um universo que materializa o
imaginário nordestino.
As peças, praticamente em estado bruto, são apenas
readaptadas para sua nova existência, re-significadas para integrarem este
mundo particular e único. O próprio artista afirma: “A inspiração nasce da
visão. Então, numa árvore dessas, eu vejo todo tipo de escultura que eu posso
aproveitar. Só de olhar, eu já sei o que eu vou fazer e qual a história de cada
peça”.
É neste mundo que o artista vive: “Aqui eu converso com
eles. Eles têm vida, têm alegria, têm tristeza. Cada peça dessas é uma pessoa,
é um filho, é um irmão, é uma família”.
Com isso, Véio redimensiona o princípio de atemporalidade da
arte, uma vez que suas peças não permanecerão para outras épocas. O próprio
artista afirma: “Ninguém é eterno. Então aqui morre peça, se acaba peça e nasce
peça. Então, enquanto tem uma se deteriorando, se acabando, ficando velhinha,
eu vou chegando todos os dias com novas peças para irem substituindo. Não substitui
a peça, mas coloca no elenco uma família que morre e que nasce também”.
Assim, suas peças, expostas a sol e chuva, têm vida curta,
adoecem, envelhecem e morrem. E este mundo extraordinário só permanecerá
existindo enquanto a mão do artista, tal qual uma mão divina, o mantiver em
movimento.
Felizmente, há registros que guardarão para a posteridade
esta obra magnífica. Um deles é o filme VEIO, de Adelina Pontual, produzido
pela REC Produtores Associados e CHÁ Cinematográfico (PE), sob o patrocínio da
PETROBRAS. O documentário retrata, de uma forma simples e sutil, todas as
nuanças da obra desse artesão magnífico.
Imagem e texto reproduzidos do site: overmundo.com.br
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