Percílio "conversa" com uma coruja.
Infonet - Blogs - Lúcio Prado - 27/06/2008.
O Universo de Percílio.
Por Lúcio Antônio Prado Dias.
O ambiente natural ao pé da serra, bem arborizado, com uma
bela visão dos arredores e, sobretudo, o espetáculo dos vôos rasantes dos belos
falcões adestrados que pousam em nossas mãos num toque de mágica, tornam um
local um templo sagrado.
Fui conhecer no domingo passado, o Parque dos Falcões,
localizado em Itabaiana. Havia combinado comigo mesmo que um dia iria ao lugar,
atendendo aos insistentes convites formulados por Dinho Duarte, um dos grandes
entusiastas desse projeto que Sergipe ainda não deu o devido valor e que
resiste a funcionar (com muita dificuldade) há 8 anos, sob o comando de José
Percílio.
O projeto de Percílio não é comercial, não tem fins
lucrativos, não foi concebido preliminarmente visando o turismo e o que se
observa no ambiente é a constatação clara da relação de um homem com cada ave
que cria, que cuida, que acaricia, que com ela troca diálogos e carinhos, em
simbiose perfeita, homem e ave cúmplices numa processo que foi iniciado quando
ele tinha apenas 7 anos.
O pequeno ovo que chegou as suas mãos de criança e que deu
origem a Tito, uma rapina hoje com 24 anos de idade, marcou o início da paixão
de Percílio pela aves. Tito (apesar do nome, trata-se de uma fêmea) foi seu
companheiro de infância, seu amigo de todas as horas, um confidente. Tito
ensinou a Percílio a técnica do adestramento. Não precisou fazer cursos,
estágios e esquentar bancos acadêmicos, para entender e praticar essa arte
milenar. Para ele, bastou somente o “conversar com os bichos”, observar os seus
hábitos, seus ruídos, o seu canto e o seu vôo, numa integração plena.
No entanto e paradoxalmente, Percílio é mais conhecido fora
do estado. Recebe convites para ministrar cursos no Japão, na China e em outros
países da Europa. Já foi entrevistado no Programa do Jô Soares, mostrou suas
habilidades no Programa do Faustão e no de Ana Maria Braga. É um talento
reconhecido internacionalmente. Sua fama corre o mundo através de publicações
em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras. Seu projeto é reconhecido
pelo Ibama, que lhe envia aves doentes ou mutiladas para que ele as trate e as
recupere. Mantém o parque as suas expensas e com a contribuição individual de
curiosos e turistas, na maioria de outros estados. Sergipe, lamentavelmente,
não valoriza o seu ofício. Não recebe qualquer tipo de apoio, ajuda,
colaboração ou incentivo dos poderes públicos, quer seja municipal, estadual ou
federal.
Para se chegar ao local, saindo de Aracaju, é só seguir a
BR-235 em direção a Itabaiana. Na altura do km 43 (povoado Gandu), entra-se à
direita em direção à Serra de Itabaiana. Não há placas indicativas adequadas (
o acesso é por uma estrada de barro estreita e esburacada, cheia de valas e
córregos, com uma extensão de 2,5 km, onde só passa um veículo pequeno de cada
vez).
Visita de políticos e falsas promessas não faltam. Há algum
tempo, o Secretario de Turismo no Governo João Alves Pedrinho Valadares visitou
o local, levou técnicos, alimentou sonhos que, entretanto, não saíram do papel.
Tenho visto por esse Brasil afora e até mesmo no exterior, atrações ditas
turísticas que não se comparam nem de longe com o que temos no Parque dos Falcões.
Mas são valorizadas, ao turista é oferecida uma logística admirável.
O ambiente natural ao pé da serra, bem arborizado, com uma
bela visão dos arredores e, sobretudo, o espetáculo dos vôos rasantes dos belos
falcões adestrados que pousam em nossas mãos num toque de mágica, tornam um
local um templo sagrado. São mais de 300 aves entre falcões, gaviões e corujas,
acomodadas em seus abrigos precários e nas frondosas árvores que existem no
local, naquele que é considerado o primeiro centro conservacionista de aves
silvestres do Brasil e o segundo no gênero na America Latina. Tudo isso ainda
se mantém graças à obstinação desse homem, que prefere estar no convívio
simples do campo, desempenhando a sua arte e o seu ofício, recusando convites
insistentes para ministrar cursos de adestramento pelos quatro cantos do mundo
para ficar ao lado das suas aves.
Sergipe tem uma dívida com José Percílio dos Falcões e nunca
será tarde resgatá-la.
Texto e foto reproduzida do site: infonet.com.br/lucioprado
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