Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 31/08/2004.
Vultos e Vozes de Sergipe.
Por Luíz Antônio Barreto.
Desde a década de 1960, quando assumiu uma cadeira no
Atheneu, que Jackson da Silva Lima manifestou, perante os seus jovens alunos, o
compromisso com a cultura sergipana. Falava com intimidade sobre poetas e
escritores sergipanos, sem esconder sua preferência por Tobias Barreto. As
pesquisas e os estudos ampliaram tanto o seu conhecimento, como o elenco de
suas paixões: José Sampaio e Santo Souza encabeçando-o. Mais adiante, atraído
pela criação popular, descobriu em casa, com sua mãe Perolina, um repertório
imenso de romances, contos, cantigas, adivinhas, parlendas, um nunca acabar de
coisas que foi recolhendo, organizando, sistematizando como um documento
repertorial dos sergipanos.
Jackson da Silva Lima tratou com igual interesse a
literatura e o folclore, dando a Sergipe livros fundamentais, como os volumes
da História da Literatura Sergipana, O Folclore em Sergipe – Romanceiro, Os
Estudos antropológicos, filosóficos, ou, também, a organização de Obras
Escolhidas de José Sampaio, José Maria Gomes de Souza, José Jorge de Siqueira
Filho, Pedro de Calazans, Artur Fortes, e, ainda, os Esparsos e Inéditos de
Tobias Barreto e a edição, restauradora, de Dias e Noites, do mesmo Tobias.
O que Jackson da Silva Lima publicou é pouco, muito pouco,
diante do que tem nos seus guardados de pesquisador e historiador da literatura
sergipana e de folclorista. A falta de uma editora no Estado, que pudesse
sobreviver no mercado e a ausência de uma política de cultura, a mais do que os
esforços dos administradores, respondem pelo ineditismo da obra do pesquisador
e historiador.
O professor José Waldir Barreto dos Anjos, por exemplo,
proclama em alta voz que o pequeno livro dos Estudos Filosóficos de Sergipe
seja ampliado e novamente editado, como fonte, que o é, do pensamento
sergipano. De vários lugares do Brasil chegam pedidos das obras de Jackson da
Silva Lima, todas esgotadas. O próprio autor, sentindo o tempo passar roçando a
sua cabeça, faz um esforço hercúleo de tratar o vasto material pesquisado,
gravando em cd, como fez com a poesia de Garcia Rosa, José Gois Duarte, José Sampaio,
Santo Souza, Antonio Carlos Vasconcelos Lima, Giselda Morais, a partir de
gravações do Movimento Cultural de Sergipe, no seu programa da Rádio Difusora,
comandado por José Augusto Garcez, na década de 1950, do Estúdio de José Orico,
na década de 1960, conservados no PESQUISE, escritório de pesquisas de Sergipe.
Vultos e Vozes de Sergipe – 01, é o primeiro cd que Jackson
da Silva Lima produz e distribui com instituições e pessoas interessadas, fora
do comércio. É uma tentativa, heróica, de salvar vozes do passado, deixadas nas
fitas e nos acetatos como marcas testemunhais da capacidade criadora dos
intelectuais sergipanos. Garcia Rosa (1877-1960) recita Amália, Luz e Sol e
Sonhar; José Sampaio ( 1913-1956) apresenta Nós Acendemos as nossas Estrelas e
Meu Amigo o Negro Martins; J. Góes Duarte (1895-1961) declama Confronto,
Ângelus e Aquarela Noturna; Antonio Carlos Vasconcelos Lima (1928-2003) canta
Tangedô de Passarinho, Trevuada, Debaixo da Paia, Pau-de-Arara e Menino da
Praia; Santo Souza diz Elegia nº 9, Ode Órfica I, II, III e IV, Pentáculo do
Medo, 1º canto; Giselda Morais alem de recitar Pela Rua, O Ar Pesado e
Continuarei, tem sua voz gravada com o texto da exposição inicial da Tese de
Doutoramento, apresentada na Universidade de Lyon, na França.
Vultos e Vozes de Sergipe – 01 é uma experiência que diz bem
da intenção de Jackson da Silva Lima de salvar suas pesquisas e oferecer, em
suporte atualizado e de uso comum – o cd – para recircular textos importantes
de autores do primeiro grupo da literatura sergipana. É um começo, um bom
começo, como é um exemplo, um bom exemplo de responsabilidade para com a
cultura sergipana. A idéia deveria ser aproveitada pela Secretaria de Estado da
Educação para levar à sala de aula, tão carente, uma antologia da poesia
sergipana. Cito a Secretaria da Educação que tem recursos próprios, não depende
de minguadas transferências mensais de custeio, como é o caso da Secretaria da
Cultura, que resiste graças a tenacidade e a teimosia do Secretário José Carlos
Teixeira. Além do mais, a SEED tem cerca de 500 escolas e nelas são ministradas
– Deus sabe como – as disciplinas Sociedade e Cultura, no Ensino Fundamental, e
Cultura Sergipana, no Ensino Médio.
O disco é completado com as Apresentações feitas por José
Augusto Garcez e por Luiz Antonio Barreto. Ficou faltando a palavra do próprio
organizador, explicitando as suas intenções com a gravação dos poetas
sergipanos. Jackson da Silva Lima pretende gravar outros cd’s, não apenas de
poesia sergipana, mas também de prosa, de folclore em geral, produzindo um
acervo essencial da cultura de Sergipe. E tudo por conta própria, sem qualquer
apoio financeiro de entidades locais.
Felizmente em Sergipe ainda existem pessoas devotadas à
causa da cultura, capazes de custear pesquisas e edições em nome do compromisso
firmado com as diversas gerações de criadores, artistas, intelectuais, que
deram ao Estado uma marca que impõe respeito e provoca admiração e que
representa o mais elevado bem que a sociedade sergipana pode, a qualquer tempo,
partilhar: o bem cultural, imaterial, intangível, que é ao mesmo tempo corpo e
alma, síntese de vida.
Jackson da Silva Lima dá um exemplo excepcional de
engajamento, de responsabilidade, fazendo o resgate de vozes ilustres de vultos
destacados na militância cultural, pondo - os, como água, ao alcance de
qualquer ouvido, na paráfrase a José Sampaio.
Fonte: Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet.
institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Foto e texto reproduzido do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
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