Publicado originalmente no Portal Infonet, em 08/04/2014.
Josa 'O Vaqueiro do Sertão' está longe dos palcos
Aos 85 anos o forrozeiro sofre de alzheimer , mas passa bem.
Por Leonardo Dias e Raquel Almeida.
Foi com mais de 52 anos dedicados a apresentações nos palcos
forrozeiros, que o sergipano José Gregório Ribeiro, popularmente conhecido como
“Josa, o vaqueiro do Sertão" construiu a sua caminhada no forró. Fã declarado
do rei do Baião, Luiz Gonzaga, Josa que completou no último dia 12 de março, 85
anos, deu uma parada na carreira musical após a descoberta de um Alzheimer.
A reportagem do Portal Infonet esteve na residência de sua
filha, Joseane de Josa, em um apartamento localizado na zona Sul de Aracaju,
local onde se encontra em repouso o Vaqueiro do Sertão. Durante entrevista,
Joseane de Josa falou sobre momentos marcantes da carreira musical do
forrozeiro, que inclui conquistas, amores e vida pessoal.
De origem humilde e do interior de Sergipe, o filho de
lavradores do Povoado Jacaré, em Simão Dias, município distante 100 km de
Aracaju, se tornaria em pouco tempo, uma das grandes referências da música
popular nordestina. Autor de mais de 300 composições no forró, Josa fez questão
de retratar toda a realidade vivenciada em suas composições. “Ele era um
montador de cavalo, adorava as lidas do gado, sempre ligado na natureza e com
10 anos já ouvia Luiz Gonzaga. Sempre que ia vender banana na feira livre de
Simão Dias ele já ia ouvindo no auto falante achando o rei”, conta Joseane.
Carreira do sergipano é marcada de inúmeros sucessos
Aos 18 anos, Josa decidiu ir ao Rio de Janeiro para seguir
carreira militar, mas um acidente mudou os seus planos e fez com que ele
investisse na carreira musical. “Ele foi para o serviço militar e depois foi
prestar concurso na Guanabara, antiga capital do país, no Rio de Janeiro, e aí
concorreu com mil pessoas para a Polícia Militar (PM), passou em 3º lugar, e
sempre ouvindo Luiz Gonzaga. E foi na PM que ele ingressou como sargento
músico, mais era de clarinete. Só que como ele tinha uma dificuldade na arcaria
dentária, o maxilar inferior cobria o superior, estava dando dificultando na
sua atuação. Em 1959, ele estava domando um cavalo bravo, e acabou caindo do
animal e fraturou a tíbia e o peronho do pé esquerdo. Com essa queda, ele
amputou um dedo e se aposentou”.
Aposentado, Josa foi até uma loja de instrumentos musicais
localizada rua Uruguaiana, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), e comprou o seu
primeiro acordeom. Com o novo instrumento, ele retornou a solo sergipano e
passou a tocar forró por todo o Estado. Sempre usando o chapéu de couro, símbolo
característico do Vaqueiro. “Painho comprou um acordeom que até hoje está com
ele. Em Sergipe ele começou tudo que sabia de clarinete ao acordeom, e se
tornou Josa, o vaqueiro do Sertão”.
Autor de mais de 300 composições no forró, Josa fez questão de
retratar toda a realidade vivenciada em suas composições
Foi com inúmeras participações em programas de rádio da
época, que Josa conquistou em pouco tempo o seu espaço, e acabou ganhando o seu
próprio programa na Rádio Difusora, atual Rádio Aperipê AM. E foi por meio do
programa intitulado ‘Nas sombras de uma Jaqueira’, título de canção carro chefe
do cantor, que ele conheceu o Rei do Baião, Luiz Gonzaga. Um encontro marcado
de histórias e emoções.
“Luiz Gonzaga o rei do Baião, estava hospedado em uma pousada
em Caldas de Cipó, na Bahia, e a dona do local ouvia assiduamente todos os dias
o programa de Josa no rádio. Então ele ouviu o programa e gostou e disse que
queria conhecer esse caboclo. Em seguida telegrafou para painho, e veio
conhecer ele aqui em Sergipe. Durante esse encontro, na época, quem estava no
auge era o cantor Roberto Carlos, e eles se conheceram na rádio e acabaram se
estendendo no horário do programa ao ponto que a rede desligou o sinal do
programa de painho. Eles acharam isso um absurdo, e para saíram em manifesto
pelas ruas de Aracaju, questionando porque cortaram o rei do baião Luiz Gonzaga
para por o do Roberto Carlos. E olhe que era programa de auditório, painho e
Luiz foram com a platéia fazer um protesto na frente do Palácio do Governo para
questionar isso (risos)”.
O primeiro disco do sergipano foi um compacto simples,
“Fazendo Zabumba”, que contou com a participação de Luiz Gonzaga. O forrozeiro
gravou ainda um disco duplo; dois LP’s com 12 músicas cada, além de realizar
várias participações em coletâneas no Estado de Sergipe.
No auge de sua carreira musical, ele fez várias tournées e
chegou a se apresentar no programa de Abelardo Barbosa "Chacrinha" no
Rio de Janeiro/RJ. Josa também teve suas composições regravadas por cantores
respeitados no forró, a exemplo de Clemilda, Alcimar Monterio, Mestre Zinho do
Acordeon, Erivaldo de Carira, Zé Américo, Jailson do Acordeon, dentre outros.
Relacionamentos
Josa foi casado por duas vezes
A vida de Josa foi marcada por vários romances. Ele foi
casado por duas vezes e tem nove filhos, sendo quatro fruto do primeiro
relacionamento, e cinco do segundo.
Ele também se tornou amigo fiel da sergipana Maria
Feliciana, no qual a criou desde os 16 anos. “Ele conheceu ela em um show na
cidade de Amparo de São Francisco que painho conheceu uma menina nova que já
tinha 2,25m. Ela se chamava Maria Feliciana e não ia a escola enclausurada
devido ao seu tamanho pelo contexto daquela época de ficar como uma vitrine, e
painho fez o convite ao pai dela para ela deslanchar no basquete, saindo do
contexto e tentar uma outra forma de vida. Os pais de Maria deram a tutela a
painho e eles vieram para Aracaju Ela me criou durante 8 anos, e painho teve
uma temporada de 8 anos com ela”.
Doença
Há 10 anos, um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e um
Alzheimer tiraram o vaqueiro dos palcos. “Hoje a doença tirou a fala dele, a
marcha, e ele não fala mais. A última vez que ele foi aos palcos ele tava com
70 anos; Em nenhum momento eu senti a não aceitação de painho com a doença. Ele
é um homem muito de Deus, falava sempre em religião, havia esse respeito, o
temor ao senhor. Ele sempre dizia que o homem nasce, cresce, e se desenvolve.
Ele entendia esses processos da natureza. - A vida é ilusão, porque tanto
orgulho, se todos são abrolhos que se acabam no chão – dizia painho”.
Josa teve seu trabalho reconehcido e ganhou diversas
premiações
Reconhecimento
Mesmo fora dos palcos, Josa é bastante lembrado pelos
sergipanos. E teve o seu trabalho reconhecido em diversas premiações. “Em 1968,
houve um encontro dos sanfoneiros aqui em Sergipe para escolher o melhor dos
sanfoneiros, e painho recebeu o troféu da sociedade de reconhecimento no forró.
Ele tabém teve a oportunidade de participar do 10º Fórum do Forró de Aracaju e
de inclusive ter sido um dos homenageados; Foi homenageado ainda no Troféu
Sanfona de Ouro, e de universidades particulares e instituições públicas”.
Josa, o vaqueiro do Sertão
Mas o que Josa sempre procurou na sua vida, foi um cenário
igual a sua música – Nas sombras da Jaqueira – e ele encontrou na cidade de
Areia Branca, local que residiu por 38 anos. “Ele procurou um lugar que tivesse
jaqueira para terminar seus dias e ele encontrou em Areia Branca, que é a
propriedade dele, tudo o que dizia a sua música - Nas sombras da Jaqueira – e
por 38 anos ele viveu lá, na cidade que ganhou o título de 3ª capital do forró
no país. Com a doença, há dois anos ele está morando comigo aqui em Aracaju”.
A filha de Josa, a cantora Joseane de Josa
Bastante emocionada, Joseane encerrou a entrevista falando
do que o seu pai representa para a sua vida. “Para mim ele é o patrimônio
cultural de Sergipe. Todos os colegas artistas têm muito respeito e amizade a
ele, e eu entendo, sou filha suspeita para falar, mas eu entendo que é mérito,
porque ele foi um cara que soube fazer a marca dele. Teve a moda do duplo
sentido e ele não se corrompeu, e conseguiu se manter naquilo que ele defendia,
e para mim ele é símbolo de força e coragem. Ele é um guerreiro e me mostra
isso a cada dia nessa revolução de santidade. É o meu orgulho”, finaliza.
Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/cultura
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