Publicado originalmente no site da PMA, em 11/03/2010.
Professores de antigamente
Por Ivan Valença*
O lançamento do livro da professora Carmelita Fontes,
"Sementes na Calçada", ao qual por um infortúnio do destino (não
estava me sentindo bem, por conta da minha velha e querida diabetes, no dia da
festa) não pude comparecer, trouxe-me a mente os mestres que fizeram a escola
dos anos 50, quando, a partir de 1957, comecei a estudar no Colégio Tobias
Barreto.
Só fui aluno da professora Carmelita na segunda metade dos
anos 60, quando a "redentora" já tinha se instalado e eu já cursava o
primeiro ou segundo ano da Faculdade Católica de Filosofia. Mas, ela não me era
estranha: acompanhava-a pelas páginas do jornal "A Cruzada", onde
semanalmente escrevia sob o pseudônimo de Gratia Montiel.
Ela lecionava português, mas não posso dizer que fui bom
aluno ou ao menos aplicado. Na verdade, era até um pouco relapso, porque já
carregava nas costas o peso da responsabilidade de editar o jornal "Gazeta
de Sergipe". Era salvo, quase sempre, pelas anotações de colegas como Alva
Virginia e Cacilda que entendiam o meu trabalho e procuravam colaborar comigo.
Mas, no velho Tobias Barreto não tinha disso não.
Costumava-se dizer que lá valia o slogan "papai pagou, passou". Podia
até ser, mas comigo não funcionava. Eu tinha que estudar mesmo. A obrigação,
porém, mais das vezes, era fator de alegria. Por exemplo: uma aula da
professora Ofenisia Freire, de tão bem explicada, eram 50m de informações
preciosas, era uma delicia de assistir. Aliás, menos de 50m, porque ela abria a
aula, chamando um dos 30 alunos da classe para ler, em voz alta, um conto ou
uma poesia.
Tive dois ótimos professores de matemática, e só lamento
hoje a minha falta de interesse para com o assunto. Não tenho porém do que me
queixar: professores Gesteira e Misael dominavam a ciência como poucos. Eu é
que era relapso mesmo. O Professor Misael mal cumprimentava os alunos, fazia a
chamada, voltava-se para o quadro e começava a decifrar equações
complicadíssimas.
De repente, virava-se e mandava este ou aquele que estivesse
em pé para fora. Fui o escolhido certa vez. Fiquei tão triste com isso que fui
tomar satisfação com ele. "Professor, não era eu que estava a
conversar". "Mas, era você que estava de pé"... Gostava, porém,
das aulas de geografia do professor Thiers Gonçalves que, mesmo na sala de
aula, não largava o inseparável cigarro. Será que, depois que se tornou juiz,
ela fazia audiências também fumando? Outro que fumava à beça era o dr.
Monteirinho, também professor de geografia. Usava uma piteira, da qual não
largava nunca
Por essa época tive uns dois ou três professores que estavam
se lixando para as conversas paralelas dos assuntos. Um deles ensinava
história. De memória, ditava, com pontos e vírgulas, textos que estavam na sua
memória. Memória prodigiosa. Não me recordo bem o nome dele, agora que digito esse
texto. Eu, e meus colegas - principalmente o hoje drº Fedro Portugal e José
Luiz, um gaúcho - prestávamos bastante atenção e ficávamos até impressionados
com os detalhes e as minúcias que ele revelava. Outra ótima professora de
história, talvez uma das melhores que tive no período, foi a professora Zamor.
Ela hoje está com 102 anos. Viva ela, portanto.
Fedro era filho do professor Portugal, que nos ensinava
inglês. Gordo ao extremo, o que tinha de gordura tinha de brincalhão. Mas era
um dos melhores mestres que eu jamais tive. A convite dele, passei a acompanhar
as aulas de língua estrangeira que ele ministrava nos domingos pela manhã, das
7h ao meio-dia - e meio-dia em ponto começava a última classe, de russo... - na
sua própria residência. O que sei de francês e italiano devo a ele.
Não posso deixar de lembrar do professor de química, Caetano
Quaranta. Torcedor doente do Sergipe, suas aulas eram um misto de química... e
futebol. Os colegas torcedores do Confiança ficavam doentes, ter que agüentar
aquela gozação de um torcedor do Sergipe. Caetano era também um amante de
teatro. No TECES, o Teatro do Colégio Atheneu Sergipense, ele encenou várias
peças, descobrindo em seus alunos talentos extraordinários para a arte cênica,
como Francisco Varela e Washington Camillo.
O professor de Física era Esmeraldino Casali, cuja dicção me
parecia diferente. Sei hoje que ele tinha a língua presa, mas na época a gente
ficava intrigado. A professora Lindinalva (ou era Lindalva?) lecionava ciências
e, algumas vezes, íamos para um quartinho onde ficavam os apetrechos de química
e física, mais os de ciências naturais...
Simpatia e competência misturavam-se na figura do professor
Sérgio, que nos ensinava desenho. Os colegas, porém, não gostavam das aulas de
latim, ministradas pelo professor João Cajueiro. É que este não era de falar
muito, mas exigia um bocado. Já o Padre Pedro era querido por todos. Aquela
estória de declinações - a, ae, ae, am, a, a - era recitada por eles, a todo
início de aula.Havia muito mais professores, evidentemente. Estes, porém,
formavam a nata do Colégio Tobias Barreto, na época sob a direção do professor
Alcebíades Vilas Boas.
*Ex-aluno do Tobias Barreto e da Faculdade Católica de
Filosofia, jornalista da Gazeta de Sergipe, crítico de cinema e co-fundador do
Jornal da Cidade.
Texto e imagem reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br
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