Publicado pelo JornaldaCidade.Net, em 08/03/2012.
Amendoim é patrimônio do Estado.
Iguaria foi tombada há um ano juntamente com outros
alimentos, como pé-de-moleque e beiju macasado e saroio.
Tira-gosto dos mais apreciados por sergipanos e turistas que
vêm ao Estado, o amendoim verde cozido é um dos alimentos típicos sergipanos
que foram reconhecidos como patrimônio imaterial de Sergipe. Embora daqui a
duas semanas completa um ano que o decreto 27.720/2011 foi assinado pelo
governador Marcelo Déda fazendo o reconhecimento, poucas pessoas sabem disso.
Nem os próprios comerciantes do produto sabem da grandiosa importância do
alimento.
Segundo a presidente do Conselho Estadual de Cultura de
Sergipe, Ana Luiza Dorta Valadares, o decreto 27.720, de 24 de março de 2011,
publicado no Diário Oficial de 14 de junho do ano passado, reconhece o amendoim
verde cozido, bem como a queijada, o manauê, bolachinha de goma, o doce de
pimenta do reino, o pé-de-moleque de massa puba, o beiju de tapioca, macasado e
saroio como patrimônios imateriais de Sergipe. Ela acrescentou que foi a lei
2.770/1989 que disse que compete ao Conselho de Cultura pronunciar-se sobre o
tombamento de bens culturais pelo poder público.
Ana Luiza Dortas explicou que com o reconhecimento fica assegurado
que o amendoim cozido de Sergipe apenas na água e sal, como esses outros
alimentos típicos da nossa culinária, é essencialmente sergipano. “Com o
reconhecimento, ninguém vai aparecer dizendo que o amendoim ou qualquer outro
desses alimentos surgiu primeiro em outro Estado”, explicou. Ela acrescentou
que eles podem até ser feitos em outros locais, mas o reconhecimento assegura
que é um produto típico nosso e os outros é que foram se originando do nosso.
O subsecretário de Patrimônio Histórico e Cultural de
Sergipe (Subpac), Luiz Alberto, informou que desconhece o estudo que foi feito
de que essa iguaria é uma exclusividade sergipana. Mas disse que é importante
destacar que o amendoim cozido só com água e sal lhe parece que é uma coisa
muito peculiar de Sergipe, pois em outros locais come-se o amendoim torrado.
“Acho que o reconhecimento é um destaque importante, porque quando se declara
um bem imaterial se fala de algo que faz parte da identidade de um povo. São
elementos que fazem com que o sergipano seja sergipano”, afirmou. Ele
acrescentou que quando há um tombamento tem um conjunto de procedimentos que
precisa ser adotado e por isso são solicitadas orientações ao próprio Conselho
de Estado da Cultura para saber como é que se dá a sua preservação.
Desconhecimento
Passado quase um ano de o decreto ter sido assinado, os
vendedores de amendoim verde cozido nem imaginavam que o produto que
diariamente comercializam em cestos no Mercado Albano Franco, em sacos nas
feiras livres, ruas ou na orla de Atalaia é agora um alimento com selo de
patrimônio imaterial de Sergipe. “É mesmo! Não sabia. Isso é bom”, disse o
vendedor José Antônio dos Santos. A divulgação mais ampla de que o nosso
amendoim cozido entre vendedores e sergipanos como um todo poderia resultar em
estímulo para valorizar o produto e até melhorar as estratégias de
comercialização.
O vendedor José Ricardo Batista dos Santos, que trabalha em
uma das bancas que comercializam amendoim cozido no Mercado Albano Franco,
também não sabia da novidade e ficou feliz em ver o prestígio da matéria-prima
de seu trabalho diário. Para ele, essa é uma boa notícia, um atrativo a mais na
hora de convencer cliente a levar mais uma latinha do nosso amendoim.
Grande parte do amendoim verde cozido comercializado em Aracaju
vem dos municípios de Itabaiana e Lagarto. Segundo o vendedor, a produção desse
tira-gosto tão apreciado tem todo um processo, que vai desde a colheita do
fruto, ainda verde ou um pouco mais maduro, seleção e cozimento, para que
mantenha a característica do nosso amendoim cozido. “Ele é colhido no dia,
cozido à noite e vem de madrugada para ser vendido aqui. Às vezes até chega
quentinho ainda”, garante o Ricardo, enfatizando que não é conversa de vendedor
quando diz que “o amendoim é novinho, cozido hoje”, um dos bordões mais usados
pela categoria para cativar o cliente.
Durabilidade
Embora seja um produto perecível, os vendedores asseguram
que o amendoim cozido chega a durar até três dias depois de cozido. Os mais
maduros aguentam até cinco dias, sem começar a visgar ou esverdear a casca,
quando não está mais próprio para consumo. Como bom vendedor, Ricardo Batista
procura cativar a pessoa que chega à banca, sempre procurando dar dicas de como
aproveitar melhor o fruto. Ele disse que tem turista que já contou que deixou o
amendoim cozido no freezer durante um ano, com o produto em condições de ser
consumido. “Tem turista que leva muito amendoim quando vai embora de Sergipe.
Leva numa caixa de papelão e quando chega em casa coloca na geladeira. Quem quer
guardar por mais tempo coloca no congelador, pois ele não congela, apenas
conserva, e dura um ano, mantendo o sabor. Eles fazem isso porque lá fora não
encontram o amendoim cozido para vender”, revelou.
Sem contar detalhes, Ricardo disse que no caso de turista
tem todo um processo que os vendedores fazem para que o amendoim cozido resista
mais tempo. Ele somente revelou que precisa deixar vagem do amendoim mais seca,
para que a pessoa quando for consumir coloque na água quente. “Mais detalhes a
gente não pode falar, porque é segredo de Estado”, disse.
Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
Foto reproduzida do blog: dralucianagranja.blogspot
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