segunda-feira, 10 de junho de 2013

Série "Conhecer Sergipe": Monte Alegre de Sergipe



Série "Conhecer Sergipe": Monte Alegre de Sergipe.

Monte Alegre conta sua história

Monte Alegre: as terras que hoje pertencem a Monte Alegre, a 156 quilômetros de Aracaju, já foram de Porto da Folha, cidade colonizada por Tomás Bernardes. Diz a tradição que o primeiro núcleo populacional que deu origem ao povoado foi fundado no final do século XIX, em uma fazenda localizada às margens da estrada que liga Nossa Senhora da Glória a Porto da Folha.

Conforme pesquisas da professora aposentada Valdete Alves Oliveira - que está escrevendo um livro sobre a história da cidade - o local onde iniciou-se a povoação era muito movimentado porque ali se encontravam os viajantes de Nossa Senhora da Glória, Poço Redondo e Porto da Folha.

O nome do município foi inspirado numa fazenda de Antônio Machado Cabelê, que se chamava Monte Alegre. Ele se reuniu com outros fazendeiros e decidiram chamar a nova povoação de Monte Alegre, porque no local existia um pequeno monte considerado bonito e alegre. A partir daí sua fazenda passou a se chamar Monte Alegre Velho.

Um desses fazendeiros era um baiano de Jeremoabo, o Januário Costa Farias, que foi o primeiro habitante do município. Ele passou a viver na região depois de ter fugido de sua cidade, obrigado pelo pai, por ser um dos discípulos de Antônio Conselheiro e estar jurado de morte.

Sem ter para onde ir, Januário procurou o frei Doroteu, que o encaminhou para colonizar o sertão, junto com o casal de índios Caboclinho e Maria Ciliata. O casal montou um casebre de taipa, mas um dia a índia bebeu demais, desmaiou e acabou morrendo por insolação.

Segundo a professora Valdete Alves, a fazenda de Januário ficava em um ponto de muito movimento, e o pai dela, João Alves de Lima, que morava em Porto da Folha, começou a ir nesse local para comercializar queijo e tecido. “Meu pai sempre deixava parte de suas mercadorias com Alexandrina da Costa Farias, filha de seu hospedeiro Januário, para que ela vendesse às pessoas de outras propriedades vizinhas”, lembra ela.

O ambulante João Alves Lima fez um convite a Januário para fazer um dia de feira, junto com os fazendeiros José Inácio de Farias, Francisco Alves da Silva, João Joaquim de Santana, Manoel Ferreira de Paula e outros.

Marcado o dia, coube ao jovem João Alves Lima trazer o padre de Porto da Folha para celebrar uma missa e fazer uma festinha. No domingo, 1º de janeiro de 1920, Monte Alegre teve sua primeira feira e até hoje ela acontece aos domingos, sendo uma das maiores da região.

Após alguns meses, foram construídas as primeiras casas residenciais e comerciais. Os primeiros comerciantes a se instalar foram João Alves de Lima, Manoel Ferreira dos Santos, Gustavo Melo, Antônio Joaquim da Silva e José Inácio de Farias. Este último primogênito de Januário e que muito contribuiu para o povoamento da cidade. Doou terrenos de sua fazenda para a construção de casas populares.

Valdete informa que outro filho de Januário, Leandro, ficou com uma fazenda que passou a se chamar Olinda, onde havia um casarão de andar já muito deteriorado onde na parede estava escrito Olinda, dezembro de 1641. Dentro da casa havia vários objetos e um cadáver vestido com roupas vermelhas e sapatos. Não se sabe ao certo, mas acredita-se que esse casarão tenha sido construído por holandeses. Na cidade existe uma lenda que no local ainda se encontra uma botija com um tesouro.

De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, Monte Alegre de Sergipe, localizado no noroeste do Estado, sempre sofreu com longos períodos de estiagem, por isso teve um progresso muito lento. Além da seca, os habitantes da cidade tiveram como grandes inimigos os cangaceiros, liderados por Virgulino Ferreira, o Lampião.

O pouco que o município ainda produzia era tomado pelos bandidos, que quando não eram atendidos, devastavam fazendas matando o gado e muitas vezes assassinando também os proprietários (Veja box abaixo com história sobre o Rei do Cangaço).

Monte Alegre pertenceu ao município de Porto da Folha até 1932, quando então passou a pertencer a Nossa Senhora da Glória. Em 1940, era um pequeno povoado, com menos de 80 casas. Em 25 de novembro de 1953, com o objetivo de incrementar o progresso de algumas regiões, a Lei estadual nº 525-A criou mais 19 municípios, entre os quais estava incluído Monte Alegre de Sergipe. A partir daí o povoado foi elevado à categoria de cidade.

Monte Alegre, antes mesmo de ser instalado, já aparecia como cidade, município, distrito único e termo judiciário da Comarca de Nossa Senhora das Dores, aprovado pela Lei estadual nº 554, de 6 de fevereiro de 1954, para vigorar até 1958. Através dessa lei, o município teve seu território delimitado e desmembrado do de Nossa Senhora da Glória.

O município foi solenemente instalado no dia 31 de janeiro de 1955, quando foi empossado o primeiro prefeito Antônio José dos Santos, e constituída, também, sua primeira Câmara Municipal, composta por cinco vereadores.

A Lei estadual nº 823, de 24 de julho de 1957, veio, porém, alterar a situação judiciária do município, que passou a pertencer à nova Comarca de Nossa Senhora da Glória.

Monte Alegre hoje, além da sede municipal, tem dois povoados (Lagoa do Roçado e Maravilha) e cinco comunidades (Lagoa da Estrada, Lagoa das Areias, Juazeiro, Uruçu e Santo Antonio). As principais festas da cidade são a do padroeiro Sagrado Coração de Jesus, em junho, e a de São João.

A professora Valdete Alves Oliveira lembra que Virgulino Ferreira vendia redes em Pão de Açúcar-AL e que seu pai, João Alves Lima, estudava lá e comprava rede a ele. Algum tempo depois, Virgulino Ferreira já era o conhecido cangaceiro Lampião, estava em Monte Alegre e foi direto à bodega de João Alves, que era a mais sortida da cidade. “Quando ele chegou, viu meu pai deitado em uma rede vendida por ele e começaram a conversar sobre o passado. Lampião contou que tinha virado cangaceiro porque mataram toda sua família. Meu pai encheu as bolsas dos bandidos de alimento e Lampião disse que ninguém podia tocar em meu pai”, lembra ela.

João Alves Lima passou a ser o delegado de Monte Alegre e tinha de apoiar a volante. Um dia, em 1938, ele percebeu que estavam sumindo algumas munições e um amigo seu lhe disse que um soldado estava entregando aos cangaceiros. Ele e outros da volante seguiram o soldado e descobriram que ele entregava a intermediários que levavam para os cangaceiros.

Um dia a volante e o Exército seguiram essas pessoas e descobriram que a munição foi para Propriá, na fazenda de Antônio Caixeiro. De lá embarcou para Piranhas-AL e depois aportou em Angico, onde o bando de Lampião estava escondido. “Por isso que Lampião e seu bando foram mortos”, informa a professora.

Ela diz que pouco antes de Lampião ser encontrado, seu pai prendeu o soldado que estava roubando a munição, mas depois ele mesmo foi preso sem nem saber por que. Passou 45 dias na penitenciária de Aracaju, e quando foi liberado, não podia voltar para Monte Alegre por causa da ameaça dos cangaceiros de que iriam arrancar seus olhos azuis.

João Lima ficou em Nossa Senhora da Glória por algum tempo. “O comércio da nossa família ficou abandonado e minha mãe e a gente passou muita privação. Meu pai, que era bem de vida, morreu pobre”, lamenta Valdete Alves.

Fonte: Cinform Municípios.

Foto: TiagoSS

Texto e fotos reproduzidos do site: skyscrapercity.com

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