segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O Gênio da Humanidade.


O Gênio da Humanidade.

Sou eu quem assiste às lutas,
Que dentro d’alma se dão,
Quem sonda todas as grutas
Profundas do coração:
Quis ver dos céus o segredo;
Rebelde, sobre um rochedo
Cravado, fui Prometeu;
Tive sede do infinito,
Gênio, feliz ou maldito,
A Humanidade sou eu.

Ergo o braço, aceno aos ares,
E o céu se azulando vai;
Estendo a mão sobre os mares,
E os mares dizem: “passai!…”
Satisfazendo ao anelo
Do bom, do grande e do belo,
Todas as formas tomei:
Com Homero fui poeta,
Com Isaías profeta,
Com Alexandre fui rei.

Ouvi-me: venho de longe,
Sou guerreiro e sou pastor;
As minhas barbas de monge
Têm seis mil anos de dor:
Entrei por todas as portas
Das grandes cidades mortas,
Aos bafos do meu corcel,
E ainda sinto os ressábios
Dos beijos que dei nos lábios
Da prostituta Babel.

E vi Pentápolis nua,
Que não corava de mim,
Dizendo ao sol: “eu sou tua,
Beija-me… queima-me assim!”
E dentro havia risadas
De cinco irmãs abraçadas
Em voluptuoso furor…
Ânsias de febre e loucura,
Chiando em polpas de alvura,
Lábios em brasas de amor!…

Travei-me em lutas imensas;
Por vezes, cansado e nu,
Gritei ao céu: “em que pensas?”
Ao mar: “de que choras tu?”
Caminho… e tudo o que faço
Derramo sobre o regaço
Da história, que é minha irmã:
Chamam-me Byron ou Goethe,
Na fronte do meu ginete
Brilha a estrela da manhã.

E no meu canto solene
Vibra a ira do Senhor:
Na vida, nesse perene
Crepúsculo interior,
O ímpio diz: “anoitece!”
O justo diz: “amanhece!”
Vão ambos na sua fé!…
E às tempestades que abalam
As crenças d’alma, que estalam,
Só eu resisto de pé!…

De Deus ao sutil ouvido
Eu sou como que um tropel,
E a natureza um ruído
Das abelhas com seu mel,
Das flores com seu orvalho,
Dos moços com seu trabalho
De santa e nobre ambição,
De pensamentos que voam,
De gritos d’alma, que ecoam
No fundo do coração!…

Tobias Barreto, 1866.

Texto e imagem reproduzidos do blog: poetajorge.blogspot.com.br

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