Ana Libório idealizou e coordenou os trabalhos de recuperação da área.
Foto: Alejandro Zambrana
Publicação - aracaju.se.gov.br - 27/07/2010.
Revitalização dos mercados...
Por Najara Lima
Uma favela a céu aberto que abrigava mais de cinco mil
pessoas em um dos locais mais nobres da cidade de Aracaju. É dessa maneira que
a arquiteta Ana Libório descreve os mercados centrais e seu entorno até o final
da década de 1990. Ela via beleza onde havia ruína e tinha vontade de, senão
mudar aquele cenário, ao menos estudar aquele local.
Na época, meados de 1987, a arquiteta formada pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fazia em Salvador uma
especialização em Conservação e Restauração de Monumentos e Conjuntos
Históricos. Para concluir o curso, Ana decidiu desenvolver, em sua tese, uma
proposta de revitalização do Mercado Municipal de Aracaju.
"Naquela época, as pessoas costumavam dizer que Aracaju
não tinha nada de patrimônio, que era uma cidade muito nova, que isso só
existia em São Cristóvão. Foi então que comecei a pesquisar sobre esse assunto
e levar para estudar no curso", conta Ana.
O objetivo era resgatar a paisagem urbana e arquitetônica
tradicional do comércio do início do século XX e, assim, recuperar um dos
pontos mais simbólicos de Aracaju, que vivia o início de um processo de
abertura turística.
Problemas
A partir da observação e do estudo da área, a arquiteta Ana
Libório constatou que era preciso encontrar uma solução para os mercados
centrais de Aracaju. "Aquilo parecia um set de cinema, com muito
engarrafamento, carroças. Os produtos eram vendidos no chão, formando o que era
conhecido como a ‘feira da lona'", lembra.
Havia na área, além dos mercados centrais, uma série de
construções que constituem o acervo ou patrimônio histórico da cidade, como a
Associação Comercial de Sergipe e o Colégio Nossa Senhora de Lourdes. Isso sem
falar na confusa rede de barracas feitas de alvenaria e madeira, que se
espalhavam no entorno dos mercados.
A ocupação irregular dificultava o trânsito e a circulação
de pedestres e degradava uma das áreas urbanas e ambientais mais belas da
cidade. "Naquela época, os prédios dos mercados ficavam vazios e o povo
ocupava as ruas. Na Rua Santa Rosa, por exemplo, não passava nenhum carro, só
tinha a feira", relata a arquiteta.
Soluções
Um conceito avançado foi utilizado para dar conta da
revitalização da região. A ideia era utilizar o que já existia na área, ao
invés de destruir tudo. Para tanto, Ana Libório estudou soluções que fossem
condizentes com as necessidades e as condições econômicas locais, e pensou
também em uma estratégia eficaz para a locomoção das pessoas.
O estudo da região foi desenvolvido entre os anos de 1987 e
1990. Em 1992, a arquiteta e sua equipe foram contratadas pela Companhia
Estadual de Habitação e Obras Públicas (Cehop) para executar o projeto de
restauro do local. Eles passaram um ano projetando, a obra começou a ser feita
em 1997 e, no dia 15 de setembro de 2000, foi entregue à população aracajuana
um novo mercado.
"Nós planejamos fazer a obra toda em etapas, para que o
comércio não precisasse ser fechado e as pessoas tivessem que sair do
local", afirma Ana. Por isso, primeiro foi feita a construção do Mercado
Albano Franco, que foi concluído em 1998 e surgiu da necessidade de ampliação
da área dos mercados. Na construção, foram aproveitados dois galpões
abandonados, o antigo Moinho Sergipe e o Armazém do Trigo.
O Mercado Albano Franco passou, então, a comportar o setor
de frigorífico e o hortifrutigranjeiro, constituindo um autêntico shopping
popular da economia informal. No projeto, foi incluída também uma praça de
eventos. "Na época, o Forró Caju acontecia na Fausto Cardoso, mas a festa
acabava degradando bastante a praça. Essa solução foi pensada no sentido de
preservar o local", diz a arquiteta.
Estilos
Ana Libório descreve a área dos mercados centrais como um
livro vivo de arquitetura. Ela conta que, no local, podem ser vistos diferentes
estilos arquitetônicos, formando juntos um conjunto bastante harmônico.
"O estilo eclético, muito comum nos primeiros anos de
existência de Aracaju, pode ser visto no prédio do Mercado Antônio Franco, que
possui a torre do relógio no pátio interno", afirma ela. Já o Thales
Ferraz obedece ao estilo neocolonial, com um grande pátio externo, arcadas e um
alpendre. O Albano Franco, que possui uma estrutura bastante diferente dos
demais, é baseado no modernismo.
Na obra, levada a cabo com a utilização de materiais
convencionais, optou-se pelo jateamento e substituição de parte do reboco
original das edificações, que foi refeito com concreto. A equipe de arquitetos
liderada por Ana decidiu manter o amarelo-ocre da caiação do Mercado Antônio
Franco, sendo que os frisos e elementos decorativos foram pintados de
branco-neve, obedecendo ao estilo eclético.
Outros prédios
Conforme conta Ana Libório, o projeto de revitalização dos
mercados centrais de Aracaju possuía uma série de desdobramentos. "Havia
prédios no entorno que também precisavam de restauro, como a Associação
Comercial de Sergipe e o do GBarbosa", cita.
A necessidade de restaurar outras construções levou a equipe
de arquitetos a se debruçar também sobre os dois prédios mencionados, além do
edifício Macêdo e do antigo Colégio Nossa Senhora de Lourdes. De acordo com
Ana, esse trabalho fez com que a memória e a qualidade ambiental do local
fossem resgatadas, possibilitando à população um reencontro com o passado.
Áreas como a Rua Santa Rosa, onde antes havia apenas uma
feira, ganharam nova vida, com o redirecionamento do fluxo de pedestres e a
transferência de todo o comércio para a área do Mercado Albano Franco. No mesmo
sentido, foi feita uma interligação entre os mercados e o terminal de
integração, além da construção de estacionamentos para carroças e caminhões de
carga.
De acordo com Ana Libório, essa foi uma obra muito grande e
complexa, que ela considera ter sido a solução ideal para aquela área. "Os
prédios do Centro da cidade são lindos e a obra realizada é maravilhosa. O
aracajuano precisa atentar para a beleza e a importância dessa área como
equipamento fundamental para o turismo em Aracaju", enfatiza a arquiteta.
Futuro
No mês de junho, num evento que contou com a presença do
Ministro da Cultura, Juca Ferreira, e do presidente do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, o prefeito de
Aracaju, Edvaldo Nogueira, assinou a participação da capital sergipana no Plano
de Ação das Cidades Históricas - PAC Cidades Históricas.
Lançado no mês de outubro, o programa é uma ação voltada aos
municípios com conjunto ou sítio protegido no âmbito federal e, ainda, a
cidades com lugares registrados como Patrimônio Cultural do Brasil.
Segundo o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, apesar de
nova, Aracaju possui um patrimônio histórico e cultural importante e que
precisa ser preservado. "Através do PAC Cidades Históricas, daremos
continuidade ao trabalho de revitalização e preservação do patrimônio histórico
e cultural que vem sendo realizado na cidade há mais de dois anos",
ressaltou.
Ainda de acordo com ele, o investimento é de extrema
importância para a capital sergipana, que terá recuperado um dos seus conjuntos
arquitetônicos fundamentais. "É preciso mobilizar a sociedade aracajuana
para preservar e cultuar o patrimônio que Aracaju já possui, que inclusive é um
importante atrativo turístico da cidade", afirma Edvaldo.
A capital sergipana deve receber um total de R$ 100 milhões
a as ações previstas no PAC Cidades Históricas devem estar totalmente
concluídas até 2013. Os investimentos serão destinados para a recuperação de
prédios e conjuntos arquitetônicos tombados e para a promoção do Patrimônio
Cultural como um todo na cidade de Aracaju. As obras na cidade devem ser
iniciadas no edifício da Antiga Alfândega, que vai abrigar o Centro de Cultura
da cidade, com previsão de recursos em torno de R$ 3 milhões.
Imagem e texto reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br
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