quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Eu faço uma Aracaju melhor - Almir Santana



Eu faço uma Aracaju melhor – Almir.

Na última semana, no 18º andar do Edifício Estado de Sergipe (Maria Feliciana), em Aracaju, fomos recebidos com o mesmo carinho e atenção que você sente quando o vê, pessoalmente ou na mídia. Sentado em sua mesa de trabalho, Dr. Almir tem ao alcance dos olhos e das mãos os mais de 30 troféus e placas de homenagens que recebeu nos últimos anos. O número exato, ele já não sabe mais. E olhando para elas ele entende por que não pode parar.

A infância muito pobre foi marcada pela esperança de dias melhores. Filho de um motorista e uma costureira, ele encontrou no incentivo dos pais, no estudo e nas brincadeiras de ser médico, o alimento para o sonho. E não é difícil acreditar em sonhos conhecendo a história deste “sergipano de Aracaju, com muito prazer e muito orgulho”, José Almir de Santana.

Estudou no Colégio Estadual Atheneu Sergipense e não duvidou ao se inscrever no vestibular para medicina da UFS. Entrou de primeira. Aos 60 anos, completados no último dia 31 de janeiro, os cálculos mostram que Dr. Almir já dedicou quase metade da vida a ajudar outras pessoas a partir do ofício que escolheu. E continua. Entre aulas para os jovens (que ele adora), palestras, ações, eventos, visitas e entrevistas, a agenda é apertada até mesmo para a família. Sobre a esposa e os filhos, Almir confessa: ‘Eles aceitam minhas ausências, entendem o meu trabalho e a minha luta. Eles me aceitam como eu sou.’

Em 1987, quando diagnosticado o primeiro caso de Aids em Sergipe, ele foi o único a dizer sim para o tratamento da paciente que, infelizmente, veio a falecer. A partir dali, comprou uma briga que, já sabia, seria muito grande. “A exposição tem um lado bom, porque eu posso chegar a mais pessoas e informá-las, mas me custou um preço alto. Meu rosto lembra a Aids. Pacientes particulares começaram a cancelar consultas ou por medo de pegar Aids em meu consultório, ou por não serem vistas entrando e saindo de lá. Tive que fechá-lo. Eu paguei caro. Minha escolha pela saúde pública me custou o apelido de bobo. Não foi tão maravilhoso pra mim. Foi um impacto difícil.”

Não é apenas com os próprios conflitos que Dr. Almir tem que lidar. A escolha lhe outorgou missões difíceis que ele, como ninguém, aceitou. Ao narrar os tantos momentos em que abriu mão dos próprios desejos ou dos momentos de lazer e conforto ao lado da família, ele parece se emocionar. As situações são, todas elas, motivadas pelo preconceito. Encontros em praças no interior do estado, durante a madrugada, para que o remédio pudesse chegar a quem precisava dele. Resultados entregues em carros durante a noite para que ninguém pudesse notar reações. Preconceito que já o levou à delegacia para protestar contra a arbitrariedade dos próprios policiais, entre tantos outros casos.

Em uma dessas histórias, Dr. Almir se lembra de um paciente de quem cuidou até o fim. “Diagnosticado com HIV, ele foi abandonado pela esposa e pela família. Ela me disse que, quando ele morresse, não faria nada. Caberia a mim fazer o funeral.” Entendendo ser aquele apenas um momento de revolta, Dr. Almir desconsiderou o aviso da mulher. Algum tempo depois, o paciente faleceu. Quando entrou em contato com a família, ouviu uma reposta lacônica: ‘o senhor se lembra do nosso acordo?’. Ele desabafa: “Foi muito triste pra mim. Eu até entendo a revolta da mulher, que também foi infectada, mas não acho que alguém possa ser ‘jogado fora’ desta forma. Fiz o enterro sozinho e soube, naquele momento, que a pessoa com Aids não tem o direito nem de morrer com dignidade. Lamentavelmente ela também veio a falecer, igualmente sozinha.”

Apesar dos vários convites para trabalhar em outros estados, para Dr. Almir viver em Aracaju é uma decisão final e inegociável. É aqui que ele quer ficar. “A minha paixão por Aracaju é muito forte, e sei que aqui já ajudei muita gente. Quero continuar trabalhando e lutando pelos sergipanos de forma séria e respeitosa. Em momentos de desânimo eu já quis parar, recuar. Mas sempre que estou desanimando acontece um fato novo que me faz querer continuar a enfrentar. O reconhecimento popular me motiva, assim como a equipe e os parceiros que fazem esse trabalho acontecer. Mas o que me motiva mesmo é o benefício às pessoas que vivem com HIV/Aids. São pessoas frequentemente discriminadas. Continuo lutando, principalmente, por eles.”

Ao encerrarmos a entrevista, perguntamos a Dr Almir que mensagem deixaria para aqueles que desejam uma Aracaju melhor. Ele não deixou uma mensagem; fez um pedido:

“Faça o seu papel. Dentro da sua atividade, seja qual for a opção, faça o seu papel. Basta isso. Ajude a quem precisa, ajude os necessitados. Olhe para a pobreza. Se cada um fizer o seu papel, Aracaju avança.”

Foto e texto reproduzidos do site: e-sergipe.com

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