segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Baianidade de Jenner Augusto



Publicado no blog Sergipe Educacao e Cultura, em 24 de março de 2012.

A Baianidade de Jenner Augusto
Por GILFRANCISCO SANTOS

Nascido em Aracaju em 11 de novembro de 1924, desde muito jovem dedicou-se à pintura. Dedicou-se a registrar as coisas e pessoas da sua terra, através da pintura, a que se dedica há 60 anos, desde quando descobriu a arte de outro pintor, seu conterrâneo Horácio Hora (1853-1890).

Em 1945 e 1948 realizou exposições em Aracaju. Na primeira vendeu apenas um quadro, o que o obrigou a voltar à pintura de faixas e cartazes comemorativos. A segunda foi um marco na sua carreira, ao romper com os padrões acadêmicos, substituindo-os pelas perspectivas do modernismo. Logo depois executou a pintura decorativa do Bar Cacique, na sua querida Aracaju.

Em 1949 fixa residência na Bahia, integrando-se no movimento de renovação das artes plásticas em Salvador. “Minha constância é a Bahia e o Nordeste. A Bahia, pelo lado lírico, o Nordeste, pelo trágico. Mas a Bahia é o meu maior motivo. Tenho um apego e fascinação às coisas da Bahia. É a cidade, que vivi durante 51 anos, a cidade que eu amo”.

A partir daí, Jenner Augusto da Silveira saiu pelo mundo, estabelecendo uma convivência com pintores consagrados (Mário Cravo, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, Carybé, Poty, Rubem Valentim, Pancetti e Portinari), participando de exposições coletivas, realizando suas individuais, ganhando prêmios, medalhas, citações e homenagens, em reconhecimento pela genialidade da sua obra: Medalha de Ouro, no VI Salão Baiano (1956), viagem ao país do Salão Nacional do Rio de Janeiro (1959) e o Grande Prêmio de Pintura, do Salão de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul (1962).

Na Bahia, Jenner participa de mostras (novos Artistas Baianos) e realiza exposições individuais (Galeria Oxumaré – 1952), é selecionado para o I Salão Baiano de Belas Artes, executa o painel Evolução Humana, no Centro Educacional Carneiro Ribeiro. De lá sai para o Rio de Janeiro (Salão Nacional de Arte Moderna) e exposições em galerias de São Paulo. Hoje, com mostras em quase todos os Estados brasileiros e no exterior – Estados Unidos, Espanha, Alemanha, Itália, Portugal, Bélgica e França, dentre outros – a sua obra mereceu sala especial na I Bienal Nacional de Artes Plásticas e três livros.

Em 1954, morando no Rio de Janeiro, embarca na onda mundial do abstracionismo. Num encontro que teve com o amigo Jorge Amado, após esse retornar da Europa, acabou com um conflito que enfrentava: não satisfeito com o trabalho que vinha realizando, a conversa com o amigo escritor foi a luz para a retomada do figurativismo.

Jenner Augusto teve influência de Jorge Amado na sua vida e na sua obra, sendo o ilustrador do romance Tenda dos Milagres, onde consegui captar a alma dos personagens, ricos e fundamentais elementos formadores da cultura baiana, tão representada pelo universo das personagens criadas pelo escritor baiano.
Autodidata, é um artista figurativista, abordou a paisagem urbana, sobretudo o Alagados, de Salvador. “O Alagados, aquela fase, foi onde transformei aquela miséria, aquela rusticidade, aquela pobreza, numa coisa bonita. O Alagados era planos abstratos, mas sem esquecer que existiam seres humanos ali. Era uma pintura de conotação social, onde o tema era um pretexto, pois a minha pretensão ia bem além. Posso dizer, sem modéstia, que descobri o Alagados, pois muito pouco se falava nele naquela época. Era a denúncia de um fato social, um tema figurativo, uma preocupação abstracionista na arte. Eu gosto da pintura que diz sem dizer. Que insinua sem a preocupação de configurar demasiadamente aquilo que está pintando”.
Jenner percorreu também uma fase expressionista, com temática baseada no sofrimento do nordestino. “Sou muito chegado à pintura expressionista. Para meu temperamento, ela diz tudo”.

Um de suas obras mais conhecidas, o painel de azulejos Os primeiros habitantes de Sergipe, realizado em 1961, para um dos saguões do antigo Aeroporto Santa Maria, de Aracaju, foi recentemente restaurado e agora, encontra-se instalado na sede da Energipe.

Desconfiado, o artista é de temperamento quieto, caladão e de uma finura no trato a toda prova. Casado, com dona Luiza, sua companheira desde 1953 e mãe dos seus cinco filhos, dois deles também pintores.[1].

[1] Aracaju. Jornal da Cidade, 06.mar.2003.

GILFRANCISCO: jornalista, professor universitário, membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e Diretor de Imprensa da Associação Sergipana de Imprensa.

Texto e fotos reproduzidos do blog: sergipeeducacaoecultura.blogspot

Nenhum comentário:

Postar um comentário