Publicado no blog Sergipe Educacao e Cultura, em 24 de março
de 2012.
A Baianidade de Jenner Augusto
Por GILFRANCISCO SANTOS
Nascido em Aracaju em 11 de novembro de 1924, desde muito
jovem dedicou-se à pintura. Dedicou-se a registrar as coisas e pessoas da sua
terra, através da pintura, a que se dedica há 60 anos, desde quando descobriu a
arte de outro pintor, seu conterrâneo Horácio Hora (1853-1890).
Em 1945 e 1948 realizou exposições em Aracaju. Na primeira
vendeu apenas um quadro, o que o obrigou a voltar à pintura de faixas e
cartazes comemorativos. A segunda foi um marco na sua carreira, ao romper com
os padrões acadêmicos, substituindo-os pelas perspectivas do modernismo. Logo
depois executou a pintura decorativa do Bar Cacique, na sua querida Aracaju.
Em 1949 fixa residência na Bahia, integrando-se no movimento
de renovação das artes plásticas em Salvador. “Minha constância é a Bahia e o
Nordeste. A Bahia, pelo lado lírico, o Nordeste, pelo trágico. Mas a Bahia é o
meu maior motivo. Tenho um apego e fascinação às coisas da Bahia. É a cidade,
que vivi durante 51 anos, a cidade que eu amo”.
A partir daí, Jenner Augusto da Silveira saiu pelo mundo,
estabelecendo uma convivência com pintores consagrados (Mário Cravo, Carlos
Bastos, Genaro de Carvalho, Carybé, Poty, Rubem Valentim, Pancetti e
Portinari), participando de exposições coletivas, realizando suas individuais,
ganhando prêmios, medalhas, citações e homenagens, em reconhecimento pela
genialidade da sua obra: Medalha de Ouro, no VI Salão Baiano (1956), viagem ao
país do Salão Nacional do Rio de Janeiro (1959) e o Grande Prêmio de Pintura,
do Salão de Artes Plásticas do Rio Grande do Sul (1962).
Na Bahia, Jenner participa de mostras (novos Artistas
Baianos) e realiza exposições individuais (Galeria Oxumaré – 1952), é
selecionado para o I Salão Baiano de Belas Artes, executa o painel Evolução
Humana, no Centro Educacional Carneiro Ribeiro. De lá sai para o Rio de Janeiro
(Salão Nacional de Arte Moderna) e exposições em galerias de São Paulo. Hoje,
com mostras em quase todos os Estados brasileiros e no exterior – Estados
Unidos, Espanha, Alemanha, Itália, Portugal, Bélgica e França, dentre outros –
a sua obra mereceu sala especial na I Bienal Nacional de Artes Plásticas e três
livros.
Em 1954, morando no Rio de Janeiro, embarca na onda mundial
do abstracionismo. Num encontro que teve com o amigo Jorge Amado, após esse
retornar da Europa, acabou com um conflito que enfrentava: não satisfeito com o
trabalho que vinha realizando, a conversa com o amigo escritor foi a luz para a
retomada do figurativismo.
Jenner Augusto teve influência de Jorge Amado na sua vida e
na sua obra, sendo o ilustrador do romance Tenda dos Milagres, onde consegui
captar a alma dos personagens, ricos e fundamentais elementos formadores da
cultura baiana, tão representada pelo universo das personagens criadas pelo
escritor baiano.
Autodidata, é um artista figurativista, abordou a paisagem
urbana, sobretudo o Alagados, de Salvador. “O Alagados, aquela fase, foi onde
transformei aquela miséria, aquela rusticidade, aquela pobreza, numa coisa
bonita. O Alagados era planos abstratos, mas sem esquecer que existiam seres
humanos ali. Era uma pintura de conotação social, onde o tema era um pretexto,
pois a minha pretensão ia bem além. Posso dizer, sem modéstia, que descobri o
Alagados, pois muito pouco se falava nele naquela época. Era a denúncia de um
fato social, um tema figurativo, uma preocupação abstracionista na arte. Eu
gosto da pintura que diz sem dizer. Que insinua sem a preocupação de configurar
demasiadamente aquilo que está pintando”.
Jenner percorreu também uma fase expressionista, com
temática baseada no sofrimento do nordestino. “Sou muito chegado à pintura
expressionista. Para meu temperamento, ela diz tudo”.
Um de suas obras mais conhecidas, o painel de azulejos Os
primeiros habitantes de Sergipe, realizado em 1961, para um dos saguões do
antigo Aeroporto Santa Maria, de Aracaju, foi recentemente restaurado e agora,
encontra-se instalado na sede da Energipe.
Desconfiado, o artista é de temperamento quieto, caladão e
de uma finura no trato a toda prova. Casado, com dona Luiza, sua companheira
desde 1953 e mãe dos seus cinco filhos, dois deles também pintores.[1].
[1] Aracaju. Jornal da Cidade, 06.mar.2003.
GILFRANCISCO: jornalista, professor universitário, membro do
Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e, do Instituto Histórico e
Geográfico de Sergipe e Diretor de Imprensa da Associação Sergipana de
Imprensa.
Texto e fotos reproduzidos do blog:
sergipeeducacaoecultura.blogspot
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