Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em
06/04/2015.
TURISMO.
Laranjeiras: Terra de tradição e religiosidade.
A apenas 20 quilômetros da capital, o charmoso município de
Laranjeiras, tombado pelo Iphan desde 1996, é uma aula de história a céu
aberto. São igrejas, casarios, ruas de pedra e museus que contam um pouco da
formação de Sergipe e do Brasil, durante o período colonial e auge da produção
de cana-de-açúcar.Caminhar por suas ruas, conferir seu folclore, artesanato e
cultura, é um passeio pelas raízes do Brasil. Uma excelente opção para quem
gosta do turismo histórico, a visita pode ser feita em uma manhã, passeando com
calma e visitando as principais atrações.
É possível fazer um ‘bate-volta’ a partir da capital,
Aracaju. Alguns receptivos locais organizam excursões que conjugam Laranjeiras
e São Cristóvão (a 4ª cidade mais velha do Brasil) em um só dia, mas o ideal é
conhecer uma cidade de cada vez, em ocasiões diferentes. Algumas agências
percorrem apenas o centro, deixando para trás pequenos tesouros da história
sergipana.
Chegando
Chegando em Laranjeiras, dirija-se ao Bureaux de Informações
Turísticas, em frente à Prefeitura, para pegar mapas e folders com várias
informações sobre os principais pontos turísticos da cidade. É possível
percorrer todo o centro histórico de Laranjeiras a pé, mas para conhecer o
centro e a zona rural, sugerimos o aluguel de um carro (em Aracaju) e a
contratação de um daytour na companhia de Valmir, o mais experiente guia do
local. Se não quiser um guia, o bureaux de informações turísticas dá dicas.
Fazer o tour com Valmiré uma excelente opção. Conhecedor dos
atalhos e caminhos, ele explica os detalhes dos pontos turísticos e conta
“causos” dos lugares visitados, a exemplo da ida de Lampião à cidade para
operar um de seus olhos no hospital do renomado médico Francisco Bragança.
Reza a lenda que Lampião era tão grato ao doutor Bragança
(descendente da família real), que Laranjeiras nunca foi invadida por ele e sua
tropa. Esse é só um dos “causos” contados, mas não vamos estragar a surpresa e
revelar os demais.
Zona rural.
O ideal é iniciar a visita pela Zona Rural, a partir da
Igreja de Nossa Senhora da Comandaroba. A fachada, de estilo românico, e o
pórtico, de pedra calcária, confirmam as origens desse templo, erguido pelos
jesuítas em 1731. A igreja leva este nome porque foi edificada em local onde os
índios realizavam o plantio de feijão (comandaroba quer dizer feijão na língua
tupi).
Pela proximidade, após a visita à igreja, outro ponto
interessante a ser conhecido é a bucólica ‘Gruta da Pedra Furada’, localizada
no Povoado Machado. A formação de pedra calcária já serviu como local de
celebração de missas pelos jesuítas, que se escondiam de ataques indígenas - e
como refúgio para os nativos da região.
Hoje, a gruta não é mais a mesma e o local encontra-se
bastante deteriorado devido à ação humana. O que era mata nativa virou pasto e
o que era uma imensa gruta não passa de uma faixa de pedra erodida, mas ainda
assim vale a pena prestigiar. O local é muito bom para um piquenique.
Igrejas.
Seguindo o nosso roteiro, conhecemos a mais nova das igrejas
de Laranjeiras: a do Bom Jesus dos Navegantes, construída em 1905 e de estilo
barroco. O templo é construído no alto de um morro e oferece uma das melhores
vistas panorâmicas da cidade. É possível contemplar Laranjeiras e até mesmo os
prédios de Aracaju. Por dentro o templo não está conservado, a ideia aqui é
contemplar a fachada da igreja e a vista.
Museu de Arte Sacra e Igreja Matriz.
Laranjeiras é uma cidade que guarda forte relação com o
catolicismo, que é retratada no Museu de Arte Sacra. O museu fica na Praça
Heráclito Diniz Gonçalves e está instalado no casario antigo da família
Lafayete Pimentel de Barros Franco. O interior da casa é muito bem conservado e
surpreende o visitante, que, ao ver a fachada, não imagina a suntuosidade nos
espaços interiores.
O museu não é grande, mas seu rico acervo reúne peças de
diversas igrejas da cidade, dentre mobiliários, artes plásticas, esculturas,
porcelanas e documentos. Atenção para as imagens de santos, que impressionam
pela beleza e realidade que transmitem - os olhos e as expressões dos
retratados comovem o espectador e parecem reais. Até viajantes experientes
ficam impressionados. É proibido tirar fotos da casa e do acervo do museu, pois
a população preza pela simbologia das imagens e da cultura local.
Vizinho ao museu está a Igreja Matriz Sagrado Coração de
Jesus. O estilo barroco e o seu rico interior (com direito a altar-mor, capela,
altares laterais e órgão) indicam que esta foi uma igreja frequentada pela alta
sociedade do Século XVII e XVIII, por isso também é conhecida como “Igreja dos
Brancos”.
Em Laranjeiras é possível reconhecer nas igrejas as castas
sociais da época do Império, basta comparar as igrejas dos brancos com a dos
pardos e a dos negros, a começar pelas torres: a Igreja Matriz (dos brancos)
tem duas, a Nossa Senhora da Conceição dos Pardos tem uma e a Igreja de São
Benedito e Nossa Senhora do Rosário (dos negros) não tem uma torre sequer.
Museu Afrobrasileiro de Sergipe.
Com grande população negra, descendente de negros e
escravos, Laranjeiras também possui um rico acervo no Museu Afrobrasileiro de
Sergipe, primeiro montado especialmente para o estudo da presença do negro na
formação do povo brasileiro.
A viagem pelos traços do africanismo sergipano começa pela
economia da época da monocultura canavieira, com uma mostra de peças ligadas ao
cultivo da cana e à produção do açúcar, com mobiliário e meios de transporte
utilizados pelos senhores de engenho e utensílios domésticos usados pelos
escravos da casa grande.
Há ainda instrumentos de tortura, originais,que foram
utilizados contra os negros - é impossível não imaginar o sofrimento daqueles
homens e mulheres.
O pavimento superior é dedicado ao universo da religiosidade
afrobrasileira, abordando o candomblé (com réplicas e informações sobre todos
os Orixás) e o nagô, manifestação religiosa atualmente pouco popular, mas que
ainda resiste em Laranjeiras, que tem um dos três terreiros de raiz Nagô do
Brasil em seu território.
A herança mais marcante do povo negro se traduz nos diversos
grupos folclóricos que compõem a cultura da cidade de Laranjeiras, dentre eles,
a Taieira, o Cacumbi, a Chegança Almirante Tamadaré e o Lambe-Sujos x
Caboclinhos. Todas essas manifestações culturais e seus mestres podem ser
conhecidos na Casa do Folclore Zé Candunga.
Apesar de ser organizada e estar situada num belo prédio (no
antigo fórum da cidade), esta atração peca por não explicar em que consistem os
grupos de folclore, focando mais em seus mestres. Assim, o turista que não
entende o folclore sergipano ficará um pouco perdido e não perceberá a
importância do acervo do local.
O Centro
O passeio pelo calçadão do centrinho de Laranjeiras (fica
bem perto da igreja Matriz), com seus lindos casarios antigos, faz você se
sentir em outra época. No final do calçadão, há um restaurante self service,
ideal para uma pausa ou até para um almoço. É a melhor opção da cidade.
Mais à frente, estará o Campus da Universidade Federal de
Sergipe, vizinho ao Mercado Municipal e ao Marco da Cidade. A fachada do prédio
é bela, mas o segredo está no fundo dele: lá estão as belas ruínas do antigo
trapiche, à beira do Rio Cotinguiba. O local é curioso e rende boas fotos.
Artesanato
No final, recomendamos uma passadinha no Centro de
Artesanato (que fica quase vizinho do Bureau de Informações) para dar uma
conferida nas belas peças de renda irlandesa feitas pelas artesãs no próprio
local, além das imagens talhadas em madeira feitas pelo artesão Demar.
Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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