Foto: Márcio Garcez.
Publicado originalmente no site Jornal do Dia Online, em
25/11/2015.
Melação da boa em Brasília
Por Rian Santos
Para acompanhar o trabalho de Márcio Garcez, muita sola de
sapato. Pouca gente tem tanta disposição para correr os caminhos do folclore
sergipano assim de perto, a custa de poeira e barro. O fotógrafo, no entanto,
parece ter encontrado na gente simples de um caminho ensolarado o sujeito de
uma espécie de poética festiva, movida a calos e sopapos. A mostra 'Lambe Suje
X Caboclinhos' - documentada em livro, e abrigada desde ontem pelo Memorial de
Justiça do Distrito Federal - é parte, portanto, de uma história maior e mais
antiga que, apesar de vacilante, esteve sempre repleta de verdade.
O próprio fotógrafo manifestou a preocupação com a
sobrevivência de tais valores, em conversa com o titular da página, em
oportunidade anterior. "Nós temos uma grande riqueza cultural, porém, essa
diversidade precisa ser melhor explorada de forma prática, a fim de trazer
benefícios para a comunidade que promove os folguedos, municípios e estado.
Entendo que seja preciso uma política cultural que vise a auto sustentabilidade
dos que fazem essas manifestações, a médio prazo".
Lambe-sujo X Caboclinho - A exposição traz registros da
festa do Lambe-Sujo, que acontece anualmente no segundo domingo de outubro em
Laranjeiras, Sergipe, a 23km da capital Aracaju. Trata-se de uma manifestação
folclórica que representa a luta entre negros (escravos dos quilombos) e os
índios caboclinhos, usados pelos brancos na captura de escravos fugitivos e
destruição dos quilombos.
Na encenação, os lambe-sujos se pintam com tinta xadrez
preta, melaço de cana, e se vestem com calções e gorros vermelhos. Como arma,
usam foices de madeira, em alegoria ao instrumento de trabalho usado nos
canaviais. Já os caboclinhos se pintam de tinta xadrez vermelha, usam cocares e
saiotes de pena, pulseiras e colares e se armam de arco e flecha. Os
caboclinhos formam um grupo disciplinado, todos em fila dupla comandados pelo
"chefe" (cacique), enquanto os lambe-sujos, debochados, saem correndo
pelas ruas, sob o ritmo agitado da batucada e sujando pessoas que não ofertem
algum dinheiro.
Para o pesquisador Maurício Albuquerque de Melo Júnior, o
trabalho do fotógrafo tem o poder de evocar memórias. "Sergipe arcaico
ressuscita na emoção de quem olha as fotografias que, mesmo estáticas, têm o
poder de despertar esperanças e que trazem aprisionada toda a alma de uma
gente".
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldodiase.com.br
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