Publicado originalmente no site do JornaldaCidade.Net, em
17/02/2014.
TURISMO.
Parque dos Falcões.
Maior centro de conservação de aves de rapina do Brasil.
Por: Andrea Moura/Equipe JC.
Esqueça tudo de ruim que algum dia você ouviu sobre aves de
rapina, como por exemplo, de que corujas são presságios de coisas ruins e que o
canto delas é aviso de morte. Eu sei, é difícil mudar conceitos antigos e
passar, até, a gostar de um bichinho desses, mas, nesse caso em específico, o
remédio, ou melhor, a forma de perder o medo das aves de rapina é indo até o
Parque dos Falcões, localizado a cerca de 50 quilômetros de Aracaju, mais
precisamente no Povoado Gandu, no município de Itabaiana.
O parque, que existe há 14 anos e é uma imensa área verde
com um astral bem legal e um vento que não nos deixa perceber o calor do verão
escaldante deste 2014, está instalado numa área de 17 hectares e nela, 32
espécies, entre corujas, gaviões, falcões e urubus, estão sendo conservadas,
graças ao trabalho de um sergipano de 37 anos de idade: José Percílio Mendonça
Costa.
Não me peçam explicações lógicas sobre como ele consegue
manter um diálogo com as aves; como ele sabe o que dizem ou o que sentem; como ele
fez para tornar aves que passaram por fortes processos de trauma, como por
exemplo, mutilações, hoje serem afetuosas e já terem dado diversos filhotes
saudáveis. São tão dóceis que ficam no ombro ou braço do visitante sem que seja
necessário colocar luva, como é exigido neste tipo de contato e, por exemplo,
na falcoaria. E o melhor de tudo, a pessoa não sai com um arranhãozinho sequer.
O fato é que, basta um olhar dele, um simples toque, para o
animal ir, por exemplo, construir um ninho, ou reprovar um que tenha sido feito
de maneira errada por algum biólogo durante as aulas práticas que Percílio
ministra no local. “Tudo que sei sobre o universo deles foram eles que me
ensinaram. Eu sei o comportamento de cada um. Sei quando precisam e querem
reproduzir. Aprendi, por exemplo, que as fêmeas têm de se apaixonar para
aceitar o companheiro, senão elas os matam, já que são maiores e mais fortes.
Em alguns casos tenho que fazer o papel, digamos assim, de primeiro marido, e
depois induzi-las a aceitar o macho da espécie. Isso tudo é feito com diálogo,
com afeição. Ensino que nem todo ser humano é mau e que elas não precisam
temer”, explicou o fundador do parque.
Os ensinamentos do encantador de falcões, como Percílio e o
que ficou conhecido nacional e internacionalmente, podem ser vistos na prática
por quem for visitar a área, pois existem corujas, águias e falcões soltos na
propriedade e nenhum deles ataca o que é do local ou está na região devidamente
autorizado, sejam humanos ou não. Aproximadamente 60 coelhos correm livremente
pelo terreno e num pequeno lago têm vários tipos de peixes como tilápias e
pintados. “Aqui existe a convivência harmônica de bichos que são presas e
predadores na cadeia alimentar, mas nenhuma ave encosta nos outros. Sempre que
chega algum novato, eu chamo todos e digo: este aqui é do parque, então eles
não encostam. Mas, se for de fora, aí sim atacam”, comentou.
O mesmo serve para humanos não anunciados, por isso, as
visitas acontecem com agendamento prévio. Corujas e falcões fazem as vezes de
seguranças. Um deles, conhecido como psicopata (falcão), se perceber que alguém
não anunciado adentra ao espaço, trata logo de dar cascudos, digamos assim, no
intruso. “A população da região nos respeita muito, tanto que nunca tivemos
invasão, roubo. A não ser no caso do urubu albino, o Michael, que fora roubado
por pesquisadores cearenses que estavam coletando dados aqui. Mas, mesmo assim,
as corujas avisaram, só que as pessoas que estavam na hora não entenderam os
sinais”, lamentou Percílio, que diz ter sonhado com a chegada de outro urubu
albino à reserva. Michael foi o 1º albino da espécie, um caso raríssimo no
mundo, e foi assassinado. Em homenagem a ele, pouco antes do pórtico do Parque,
tem uma escultura imensa o representando.
Amor que muda comportamento.
Percílio diz que o parque e as aves são a vida dele, tanto
que evita estar fora do “habitat” por muito tempo, mesmo que seja para divulgar
o parque ou dividir conhecimento, não que ele se negue a isso, muito pelo
contrário, só que ele prefere que os grupos vão até ele, pois não gosta de
deixar os “filhos” sozinhos. “Eles sentem minha falta e eu a deles”, frisou.
Tanto é que ele está quase decidido a recusar ir para o Japão filmar o terceiro
filme falando sobre o Parque. As duas primeiras películas japonesas falavam
sobre a interação, a amizade homem/ave e este terceiro será sobre a vida dele,
sobre o primeiro ovo de falcão que recebeu aos sete anos de idade, quando
nasceu Tito (apesar do nome, é uma fêmea), que agora está com 30 anos. “Mas eu
não quero ir não! Bom é a casa da gente!”.
Esse homem simples e muito carismático já foi espalhar
conhecimento em vários lugares, inclusive na Ilha de Galápagos, no Equador. Foi
manchete de vários jornais e revistas nacionais, incluindo também a internacional
e respeitada National Geographic. Consequentemente, levou e elevou o nome de
Sergipe em várias instâncias e isso de forma despretensiosa e sem cobrar nada a
ninguém. Reconhecimento da importância do Parque dos Falcões para o estado por
parte de governos atuais e passados tem pra dar e vender, mas ajuda para manter
o local, que é bom, nada!
“Promessas eu já tive, e muitas, mas, como quem vive de
promessa é santo, eu vivo e faço o parque ser o que é através do meu esforço,
não espero por ninguém, por político nenhum. Já ouvi promessas de apoio e ajuda
de João Alves quando era governador; do falecido governador Marcelo Déda, mas
nada foi concretizado. O único que nos ajudou de fato foi um homem bom chamado
Marcelo Medina, quando presidente da Energisa. Mandou construir nosso auditório
equipado com tudo do que precisamos, fez o pórtico e a bilheteria. A ele eu sou
muito grato e oro pra que Deus o abençoe sempre!”, desejou.
A mais nova promessa recebida aconteceu justamente no dia da
inauguração da reforma feita pela Energisa, em dezembro do ano passado, e desta
vez partiu do prefeito de Itabaiana, Valmir de Francisquinho. Ele disse que
iria providenciar o calçamento do acesso ao Parque, por sinal, a entrada do
Povoado Gandu está em petição de miséria. A promessa já caminha para o terceiro
mês. Se Percílio dependesse de ajuda governamental pra tocar o centro de
conservação, e não tivesse paixão por morar em Sergipe, já teria levado embora
daqui o Parque, afinal de contas, propostas não faltaram para que o instalasse
em outros estados, a exemplo do Acre e da Bahia, neste último caso, mais
especificamente, na Praia do Forte. Ou poderia ir para bem mais longe, para a
Tunísia, país da África do Norte, de onde também recebeu convite.
Por muito tempo o PF foi sustentado pela mãe do fundador, e
a autonomia chegou por meio do turismo, portas que foram abertas pela
jornalista Silvinha de Oliveira, falecida em 8 de junho de 2012. Agora, em
períodos de alta temporada, a reserva recebe cerca de 700 pessoas por semana, número
que não cai muito, mesmo nos períodos de baixa temporada.
Ganhando o mundo.
Não só Percílio é convidado a dar palestras e treinamentos.
Muitas das aves que ele cria vão com ele nessas empreitadas. Diversas já
participaram de filmes brasileiros e norte-americanos. O trabalho mais recente
foi a filmagem do material publicitário e do DVD da Paixão de Cristo de Nova
Jerusalém, em Pernambuco, onde irão atuar durante as encenações da Paixão 2014.
Percílio será o braço direito do imperador, o encarregado de receber as
mensagens levadas pelos falcões e repassá-las para o chefe. Uma das cenas é o
Fórum de Pilatos, quando haverá sobrevoo da ave. “Elas se comportaram tão bem,
fizeram tudo direitinho, desde o voo ao piado, e não se intimidaram com o
cavalo que está em cena, mesmo sendo um animal estranho a elas, já que aqui não
entra cavalos”, disse todo orgulhoso.
A reserva conta atualmente com centenas de aves, tanto as
encaminhadas pelos Ibamas de todo o Brasil quanto os filhotes que nasceram lá.
Mas, nenhuma delas sai de lá em troca de dinheiro, só em troca de amor.
Percílio é radicalmente contra o comércio dos animais, tanto que só deixam o
parque ou para serem reintroduzidos à natureza para repovoamento, ou doados a
criadores autorizados pelo órgão federal de proteção ao meio ambiente. Ele não
faz esse tipo de troca nem mesmo para garantir o sustento do parque, que gasta,
apenas com comida para as aves, cerca de R$ 5 mil/mês. Por semana ele tem que
comprar cerca de 300 codornas, 150 pintos e 50 quilos de carne, além de ração.
“Isso tudo é bancado pelo ecoturismo e pelos trabalhos que fazemos pelo mundo”,
reforçou.
Curiosidades.
- O falcão peregrino atinge a velocidade de 420 km/h.
- A harpia, maior ave de rapina da América Latina e animal
ameaçado de extinção, consegue exercer, com as patas, uma pressão de
aproximadamente 800 kg, sendo capaz, inclusive, de matar um ser humano. A
existente no Parque dos Falcões é uma fêmea oriunda da Amazônia e está à espera
do macho, que deve ser levado em pouco tempo para a reserva. Pesa entre nove e
10 quilos e mede, de uma ponta a outra da asa, 2,15 metros.
Serviço.
O quê? – Parque dos Falcões.
Onde? – Povoado Gandu, no município de Itabaiana, distante
cerca de 50 km de Aracaju, acesso pela BR-235.
Quanto? – R$ 20 adultos; R$ 10 (meia-entrada) crianças com
idade entre sete e 11 anos, e idosos.
Horário de visitação? – Das 8h às 11h e das 13h às 16h. São
geralmente duas horas de visita monitorada, onde a pessoa vê um filme sobre o
Parque, como as aves chegam, conhece as espécies lá protegidas, as que estão
ameaçadas de extinção e depois segue para a visitação delas. Há ainda exibição
de aves adestradas e o contato com elas. Caminhada até a cachoeira e banho em
lagoa natural são também outras opções do passeio.
Agendamento das visitas – Através dos telefones:
(79) 9962 5457 // 9131 8496 // 9945 9020.
Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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