Obra ‘Balança’ faz parte da mostra ‘Flutuações’.
Fotos: Rodrigo Lopes/ Divulgação.
Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 19/09/2017
Arthur Bispo do Rosário ganha exposição na Casa Museu Eva
Klabin, no Rio
“Flutuações” apresenta obras inesquecíveis de um dos maiores
nomes da arte contemporânea brasileira.
A Casa Museu Eva Klabin apresenta, novamente à Zona Sul do
rio de Janeiro, obras de Arthur Bispo do Rosário em Flutuações, exposição que
marca a 22ª edição do projeto Respiração, com curadoria de Marcio Doctors.
Considerado uma das maiores referências da arte contemporânea brasileira, Bispo
do Rosário é o primeiro artista morto a ser convidado para participar do
projeto, que faz parte do circuito vip do ArtRio. A exposição acontece até o
dia 14 de janeiro de 2018.
Em Flutuações, nada na Casa será tirado do lugar e as obras
de Bispo do Rosário não encostarão em nenhum objeto já presente. As doze obras
selecionadas ficarão suspensas, como se estivessem flutuando, espalhadas pela
sala renascença, hall principal, sala inglesa, sala de jantar, sala verde,
quarto de dormir, closet e banheiro. No auditório com capacidade para 80
pessoas, será exibido o filme “O Prisioneiro da Passagem” (Hugo Denizart,
1982), onde é possível conferir depoimentos e imagens exclusivas de Bispo do
Rosário.
“’Flutuações’ nos traz dois personagens que viveram em uma
mesma época, numa mesma cidade, atravessaram o mesmo tempo, mas que eram
totalmente distintos. Com diferentes perspectivas e percepções do mundo que os
cercava, criaram suas próprias realidades, que podem ser interpretadas a partir
de suas particularidades e diferenças sociais, nos deixando um legado singular
de suas passagens pelo mundo. Hoje, duas grandes potências espirituais, Eva Klabin
e Arthur Bispo do Rosário, se encontram, sem se encostar, como foi assim em
vida, em uma intervenção reflexiva e emocionante, marcando a 22ª edição do
Respiração”, disse o curador Marcio Doctors.
O artista
Arthur Bispo do Rosário nasceu em 1909, na cidade de
Japaratuba, em Sergipe. Nordestino, negro e semianalfabeto, alistou-se como
marinheiro no Quartel Central do Corpo de Marinheiros Nacionais, no Rio de
Janeiro, em 1926. Sete anos depois, foi desligado da Marinha por indisciplina.
Em 1938, teve seu primeiro surto. Na noite de 22 de dezembro
daquele ano, saiu em uma espécie de peregrinação para uma apresentação na
igreja da Candelária. Foi dado como louco e encaminhado ao Hospital Nacional
dos Alienados, na Praia Vermelha, onde o diagnosticaram como portador de
esquizofrenia paranoide. Tempos depois, foi transferido para a Colônia Juliano
Moreira, em Jacarepaguá, e alojado em uma ala reservada aos pacientes mais
agressivos e agitados.
Após uma série de idas e vindas a instituições psiquiátricas
diversas, Bispo retornou definitivamente à Colônia em 1964 e, a partir daí,
iniciou sua extensa produção de objetos. Ainda naquele ano, após ser preso em
uma solitária, ouviu uma voz, que lhe deu sua missão: a de representar “os
materiais existentes na Terra para o uso do homem”. Com o aumento de sua
produção, expandiu seu espaço para as dez solitárias do pavilhão.
Ao longo de 50 anos, Bispo produziu mais de 800 objetos em
um processo contínuo. Em seu processo criativo, aproveitou-se de tudo que tinha
à mão para a produção de bordados, objetos e esculturas. Em um trabalho
meticuloso, desmanchava os uniformes dos internos, retirando deles as linhas
que serviriam como matéria-prima para a trama de suas peças. Talheres, tênis e
garrafas - tudo era reaproveitado pelo artista que, ordenado por um deus, era
incumbido a inventariar o mundo.
Texto e imagens reproduzidos do site: jornaldacidade.net
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