domingo, 10 de setembro de 2017

Wesley Lemos fala sobre a nova Galeria Jenner Augusto

 Wesley Lemos ressalta como o projeto da 
nova Galeria "abraçou" as obras de Fábio Sampaio.

Obras de Fábio Sampaio são expostas na 
Galeria jenner Augusto em Mostra Aracaju 2017
Fotos: Xico Diniz.

Publicado originalmente do Portal Infonet, em 09/09/2017.

Wesley Lemos fala sobre a nova Galeria Jenner Augusto

Ele participou das dez edições da Mostra Aracaju

Com 18 anos de carreira e tendo participado das dez edições da Mostra Aracaju, o arquiteto Wesley Lemos conta um pouco do seu trabalho e experiência nesta entrevista com o Portal Infonet. Aqui, ele comenta sobre sua assinatura na galeria Jenner Augusto, inspirações e destaques do seu trabalho.

Portal Infonet- Este ano você ficou responsável pela Galeria de Arte Jenner Augusto na Mostra Aracaju. Podemos dizer que é o coração da Sociedade Semear? Você se sentiu privilegiado ao ambientar este espaço?
Wesley Lemos- Com muita honra e alegria que assino a galeria Jenner Augusto, pois é um sonho realizado como arquiteto. A arte sempre fez parte da minha vida e assinar um projeto desse porte, com a importância que a Galeria Jenner Augusto tem para a sociedade sergipana e dentro do contexto do circuito de artes de Sergipe, é muito gratificante. Não só para mim, mas também para minha equipe, que, há 18 anos, vem trabalhando com artistas locais nacionais e internacionais dentro dos nossos projetos. Sou frequentador da galeria desde sua inauguração, há 15 anos, e me sinto honrado em dividir esse projeto com Sociedade Semear.

Infonet - A área da Galeria de Arte e as salas que lhe dão apoio, a exemplo do gabinete e lavabo, medem 195m2. O tempo para confecção do projeto e obra foi uma das dificuldades para finalizar a galeria? Ela ficou como você gostaria?
WL - O projeto de fazer uma Galeria de Arte é bastante desafiador. A princípio parece ser simples, aparentemente é só fazer piso, colocar forro, iluminação e pintar paredes, mas desconstruir a antiga galeria de forma espacial e reconstruir um novo significado sem perder de vista todos os conceitos que foram construídos, é uma experiência desafiadora. O projeto do arquiteto Rui Almeida, o qual sou admirador do trabalho, fez-me despir do decorador que sempre assinou grandes áreas das Mostras como: salas, banheiros e cozinhas, para mostrar meu lado social de arquiteto. Foi importante contemplar um projeto democraticamente livre de preconceitos e que possa receber pessoas de diferentes níveis sociais, culturais e econômicos. Isso, para mim, é um grande desfio: sair do privado e trabalhar para o coletivo num espaço semi público. Gostei muito da aceitação do público e isso é muito relevante para nosso trabalho. Só pego um projeto quando acredito e sempre acreditei nas artes como saída para um novo movimento para a vida e para o futuro.

Infonet- Você disse que escolheu a contemporaneidade, com um lado urbano, para o seu trabalho na galeria. Como podemos analisar essa escolha na prática? Os espaços “conversam” entre si ou você escolheu um estilo para cada ambiente?
WL- Quando falo de contemporaneidade parece uma palavra batida, mas ser contemporâneo é ser atual, é viver o presente preservando o passado e de olho no futuro. A arte contemporânea tem essa provocação e o meu trabalho na galeria foi permear todos os ambientes, criando um fio condutor entre a arquitetura, o urbanismo, o paisagismo e o design. Nesse trabalho os espaços conversam entre si, estão conectados. Os acabamentos, como a pedra neolimestone, tem o toque urbano do concreto, mas tem a sensação visual de uma pedra natural, que uniformiza todos os ambientes sociais da galeria. Em contraponto usamos um revestimento chamado Pier, são réguas amadeiradas que tem 53 padrões de texturas diferentes, para dar a sensação de madeira. Essa é uma característica do meu trabalho: a  mistura do sofisticado com o natural, que cria uma conexão entre as partes. A galeria ganhou um panorama com tom de cinza urbano da Coral nas paredes e a frieza do espaço é proposital, só é quebrada com o recheio das obras de artes de Fábio Sampaio, chamada “Reinvenção da Paisagem Doméstica”.

Infonet - Você viaja muito. Podemos dizer que você trouxe algumas fontes de inspirações? Pode revelar algumas delas?
WL- Sempre gosto de viajar. Para mim, é um alimento da minha alma e me carrega de inspirações para o dia a dia. Adoro museus, galerias, a parte cultural me engrandece muito. Nesse projeto específico, fui a duas viagens para Florença, na Itália, berço das rates no mundo, além de Milão, também na Itália e Paris. São cidades que me mostraram muito o que queria nesse projeto, a questão do presente, do passado e do futuro. Um projeto que me inspirou muito foi a fundação Prada, que tem a característica de preservar o passado, como a casa da década de 60. Então usamos neste projeto, a beleza do vazio, com recheio de plasticidade. Por isso usamos poucos móveis e poucas variações de acabamentos. Demos ênfase a novas texturas, que uniformizam a parede, tirando o ar asséptico que uma galeria tem, e dando envolvimento ao projeto, fazendo com que o visitante se integre com as obras.

Infonet - O que um visitante não pode deixar de observar no seu espaço?
WL- O mais importante desse trabalho é apreciar a delicadeza, o lado expográfico e a força, que estão bem vivas no projeto, o qual participou também a minha equipe. Ver como a gente se sensibilizou ao abraçar o trabalho do Fábio, ao dispor na galeria, e a força com que as instalações apresentadas por ele, nos arrebatou. Assim, trouxemos um novo panorama para as artes plásticas brasileira. Aceitar que a arte contemporânea é importante, assim como mostra o trabalho do Fábio, que é uma mola propulsora e instigante do novo e por isso abraçamos esse projeto. Também vale ressaltar o empenho e toda dedicação do curador Mario Brito que fez toda essa engrenagem funcionar.

Infonet- Você foi convidado a participar de todas as edições da Mostra Aracaju. O que você tem de diferencial?
WL - A gente sempre trabalhou a questão do design da arquitetura nas exibições de Mostras, como diferencial do nosso escritório. Meu primeiro projeto já foi de Mostra. Foi criado em parceria com a Deca e a Unit, onde estudei e me formei. Esse projeto, que levou o nome de Banheiro Público, foi criado para um concurso e premiado na primeira edição da Mostra Aracaju. O resultado foi minha inserção no mercado. De lá para cá, vim criando uma carreira galgada em projetos e nunca deixei de lado essa coisa do novo para as Mostras.

Infonet- Você tem alguma Mostra que foi a sua preferida? Em alguma das dez edições você pode mostrar melhor o seu estilo como arquiteto?
WL- Grandes sucessos foram apresentados ao longo dos 10 anos de Mostra, em 18 anos de carreira. Todos os projetos tem sua importância, mas existem aqueles que são destaques, como a Sala Preta do Cultart. O Living do Colecionador foi criado em um tempo em que poucas pessoas falavam de arte ou tinham coleção de arte. Nesse projeto eu trouxe essa novidade, junto com ela uma coleção de fotos de Sergipe que ganhou grande destaque em nosso estado.
Fizemos também uma Sala Branca em 2008 no Palácio de Veraneio. Foi um marco dentro da mostra, onde trouxe peças de design, fotografias de grandes fotógrafos nacionais, que dialogaram com a arte sergipana. Mas acredito que 2010 foi o ano que meu trabalho ganhou destaque, quando criei um Bangalô Africano numa casa, em homenagem ao meu trabalho, utilizando a minha coleção de arte africana. O ponto mais alto, certamente, é o Refúgio do Velejador em 2012, que traz um life style casual e elegante, que representa verdadeiramente a essência do que eu faço. Mas a Galeria Jenner Augusto coroa de fato nosso trabalho, porque mostramos que o sergipano tem um jeito próprio de viver, essa é a nossa grande inspiração.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br

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