Texto publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 25/08/2017
Mostra Aracaju aposta na inserção da arte no dia a dia das
pessoas
Com mais de 300 obras distribuídas nos 29 ambientes, a
Mostra Aracaju 2017 inova ao trazer espaços pensados a partir da arte.
Por: JornaldaCidade.Net
Com mais de 300 obras distribuídas nos 29 ambientes, a
Mostra Aracaju 2017 inova ao trazer espaços pensados a partir da arte. É a
primeira vez que o Estado recebe tantas obras em um mesmo local. A Sociedade
Semear, na Rua Vila Cristina, foi repaginada para receber o acervo mais
importante da arte sergipana, juntamente com outras obras do mundo inteiro,
transformando-se em um grande ponto de encontro.
“Como todos os anos, temos sempre esse desafio de pensar um
tema novo que desperte a curiosidade. E como essa é a Edição Ouro da Mostra
Aracaju, somada à parceria com a Sociedade Semear, nós decidimos eleger a obra
de arte como tema central. Foi assim que surgiu o nosso “Viver com Arte”,
transformando o evento em uma grande galeria”, explica Mercês Souza,
coordenadora da Mostra Aracaju.
Com a poética visual alicerçada no olhar sobre o cotidiano,
na memória, na reutilização e no reaproveitamento de materiais e objetos, Elias
Santos traduz a arte dele na série Cinzentos. As obras compõem o projeto Jardim
da Galeria, da arquiteta e paisagista Lainy Lemos, na Mostra Aracaju, onde o
concreto dá vida ao ambiente.
Para o artista Elias Santos, que aos seis anos já
demonstrava a aptidão para a arte com os desenhos feitos com giz nas calçadas
no Bairro 18 do Forte, em Aracaju, inserir fragmentos da Série Cinzentos foi mais
uma oportunidade de apresentar o trabalho que começou sem a intenção de ver
transformado em exposição. “Para mim, tem sido uma sequência de surpresas essa
exposição. Primeiro, veio o edital da Galeria J. Inácio; depois, o do Sesc
Centro; e, agora, a Mostra Aracaju. É desafiador expor e dar visibilidade,
focar a luz em um trabalho que surgiu exatamente da concepção contrária,
daquilo que ninguém vê, que ninguém olha, do abandono dos cachorros de rua.
Durante três anos, busquei cães de rua perdidos, largados e fui fotografando
eles dormindo. Ver essa arte contextualizada no que há de mais moderno na
proposta da Mostra Aracaju superou toda a minha expectativa. Estou muito feliz
em fazer parte desse projeto”, detalha o artista.
Segundo a arquiteta e paisagista Lainy Lemos, o projeto
nasce a partir das conexões. Para ela, a exposição mexe com as emoções de quem
observa. “Ela vem com vida, tira a frieza do concreto, presente também nos
revestimentos, ao mesmo tempo que se mistura aos tons do espaço. A intenção não
é ser decorativo. É ser intervenção. É inserir a obra no ambiente de forma
natural, mas intrigante, à medida que há sempre o questionamento: “Ele é real?
Está vivo?”. Assim, Cinzentos está no Jardim da Galeria para possibilitar que a
arte contemporânea seja acessível, conectando o urbano às pessoas”, explica.
Contemplação
Partindo dali e seguindo pelos ambientes, o visitante da
Mostra Aracaju mergulha em um universo de contemplação nas mais variadas
formas. São esculturas, pinturas, xilogravuras, fotografias, de todos os
estilos e de todos os períodos. Da contemporaneidade de Elias Santos à pintura
acadêmica de Horácio Hora do século IX, artista laranjeirense, que se mudou
para Paris onde estudou desenho, recebeu o título de Aluno Modelo e ganhou o 1º
prêmio no concurso geral de todas as escolas de Paris, classes adultas de 1876-1877.
Com uma produção em torno de 300 trabalhos que reúnem beleza
e harmonia sintonizadas entre inspiração, paixão e técnica, Horácio Hora é um
dos maiores pintores da escola romântica do Brasil. A Paisagem com Cavalete, de
1885, pode ser admirada na Varanda, projeto de Rodrigo Fonseca e Verah
Carvalho, que traz ainda a modernidade da obra Fishermen Star, da ucraniana
Oksana Valentina, residente no Brasil e de uma relação visceral com a
fotografia.
Encantada pelas cores que a luz transforma, dependendo da
potência e do ângulo, a paixão dela é fotografar a natureza, os sentimentos e
as pessoas. Um contraponto ousado de um ambiente descontraído. “Trabalhar com
arte é sempre muito importante. E no ambiente da Mostra Aracaju, como é uma
homenagem a uma pessoa que vive cercada de arte, um ambiente íntimo do curador
para relaxamento, ouvir música, escolhemos obras de diferentes épocas, a fim de
que a arte estivesse realmente presente em sua integralidade”, explica o
arquiteto Rodrigo Fonseca. Este ano, a Mostra Aracaju homenageia o colecionador
e curador Mário Britto.
De ambiente em ambiente, as obras vão tecendo a história da
arte, culminando com o recorte da exposição (re)Invenção da Paisagem Doméstica,
de Fábio Sampaio, grande artista de reconhecimento internacional, com
participação na Bienal de Arte Contemporânea em Florença, na Itália, e exposta
na Galeria Jenner Augusto, do arquiteto Wesley Lemos, que prioriza a inserção
expressiva de obras da arte sergipana, reconhecida, madura e consolidada.
Fábio Sampaio considera a exposição um presente pelo
amadurecimento. Afinal de contas, segundo ele, são 20 anos ininterruptos de
produção de arte. “Esse recorte interliga duas cidades, duas influências da
minha vida: a que nasci, Santos, e a que vivo, Aracaju. Com pinturas, desenhos,
esculturas, instalações e vídeos, comunico essas duas experiências. Uma
história de arte que vai ser consolidada em um livro, organizado por Mário
Britto, e que vai ser lançado em setembro na Mostra Aracaju”, comemora.
Mário Britto, por sua vez, comenta que ser homenageado por
tantos profissionais talentosos e ainda fazer o que mais ama, que é a curadoria
da exposição, vai ficar marcado como um dos momentos mais importantes da vida
dele. De acordo com o curador, a arte na Mostra Aracaju pode ser apreciada de
várias formas: da visão panorâmica aos detalhes. “O exemplo está nessas obras
que foram listadas aqui. São quatro diferentes vertentes de manifestação da
arte, mas que atravessam três séculos de História. “Viver com Arte” é viver a nossa
história, a história do mundo com a leveza e a perspicácia do olhar de cada
artista. A Mostra Aracaju possibilita isso: uma grande celebração ao trabalho
de cerca de 80 artistas”, ressalta Mário Britto.
Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
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