domingo, 3 de setembro de 2017

Mostra Aracaju 2017 (de 16/08 a 15/10)


Texto publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 25/08/2017 

Mostra Aracaju aposta na inserção da arte no dia a dia das pessoas

Com mais de 300 obras distribuídas nos 29 ambientes, a Mostra Aracaju 2017 inova ao trazer espaços pensados a partir da arte.

Por: JornaldaCidade.Net

Com mais de 300 obras distribuídas nos 29 ambientes, a Mostra Aracaju 2017 inova ao trazer espaços pensados a partir da arte. É a primeira vez que o Estado recebe tantas obras em um mesmo local. A Sociedade Semear, na Rua Vila Cristina, foi repaginada para receber o acervo mais importante da arte sergipana, juntamente com outras obras do mundo inteiro, transformando-se em um grande ponto de encontro.

“Como todos os anos, temos sempre esse desafio de pensar um tema novo que desperte a curiosidade. E como essa é a Edição Ouro da Mostra Aracaju, somada à parceria com a Sociedade Semear, nós decidimos eleger a obra de arte como tema central. Foi assim que surgiu o nosso “Viver com Arte”, transformando o evento em uma grande galeria”, explica Mercês Souza, coordenadora da Mostra Aracaju.

Com a poética visual alicerçada no olhar sobre o cotidiano, na memória, na reutilização e no reaproveitamento de materiais e objetos, Elias Santos traduz a arte dele na série Cinzentos. As obras compõem o projeto Jardim da Galeria, da arquiteta e paisagista Lainy Lemos, na Mostra Aracaju, onde o concreto dá vida ao ambiente.

Para o artista Elias Santos, que aos seis anos já demonstrava a aptidão para a arte com os desenhos feitos com giz nas calçadas no Bairro 18 do Forte, em Aracaju, inserir fragmentos da Série Cinzentos foi mais uma oportunidade de apresentar o trabalho que começou sem a intenção de ver transformado em exposição. “Para mim, tem sido uma sequência de surpresas essa exposição. Primeiro, veio o edital da Galeria J. Inácio; depois, o do Sesc Centro; e, agora, a Mostra Aracaju. É desafiador expor e dar visibilidade, focar a luz em um trabalho que surgiu exatamente da concepção contrária, daquilo que ninguém vê, que ninguém olha, do abandono dos cachorros de rua. Durante três anos, busquei cães de rua perdidos, largados e fui fotografando eles dormindo. Ver essa arte contextualizada no que há de mais moderno na proposta da Mostra Aracaju superou toda a minha expectativa. Estou muito feliz em fazer parte desse projeto”, detalha o artista.

Segundo a arquiteta e paisagista Lainy Lemos, o projeto nasce a partir das conexões. Para ela, a exposição mexe com as emoções de quem observa. “Ela vem com vida, tira a frieza do concreto, presente também nos revestimentos, ao mesmo tempo que se mistura aos tons do espaço. A intenção não é ser decorativo. É ser intervenção. É inserir a obra no ambiente de forma natural, mas intrigante, à medida que há sempre o questionamento: “Ele é real? Está vivo?”. Assim, Cinzentos está no Jardim da Galeria para possibilitar que a arte contemporânea seja acessível, conectando o urbano às pessoas”, explica.

Contemplação

Partindo dali e seguindo pelos ambientes, o visitante da Mostra Aracaju mergulha em um universo de contemplação nas mais variadas formas. São esculturas, pinturas, xilogravuras, fotografias, de todos os estilos e de todos os períodos. Da contemporaneidade de Elias Santos à pintura acadêmica de Horácio Hora do século IX, artista laranjeirense, que se mudou para Paris onde estudou desenho, recebeu o título de Aluno Modelo e ganhou o 1º prêmio no concurso geral de todas as escolas de Paris, classes adultas de 1876-1877.

Com uma produção em torno de 300 trabalhos que reúnem beleza e harmonia sintonizadas entre inspiração, paixão e técnica, Horácio Hora é um dos maiores pintores da escola romântica do Brasil. A Paisagem com Cavalete, de 1885, pode ser admirada na Varanda, projeto de Rodrigo Fonseca e Verah Carvalho, que traz ainda a modernidade da obra Fishermen Star, da ucraniana Oksana Valentina, residente no Brasil e de uma relação visceral com a fotografia.

Encantada pelas cores que a luz transforma, dependendo da potência e do ângulo, a paixão dela é fotografar a natureza, os sentimentos e as pessoas. Um contraponto ousado de um ambiente descontraído. “Trabalhar com arte é sempre muito importante. E no ambiente da Mostra Aracaju, como é uma homenagem a uma pessoa que vive cercada de arte, um ambiente íntimo do curador para relaxamento, ouvir música, escolhemos obras de diferentes épocas, a fim de que a arte estivesse realmente presente em sua integralidade”, explica o arquiteto Rodrigo Fonseca. Este ano, a Mostra Aracaju homenageia o colecionador e curador Mário Britto.

De ambiente em ambiente, as obras vão tecendo a história da arte, culminando com o recorte da exposição (re)Invenção da Paisagem Doméstica, de Fábio Sampaio, grande artista de reconhecimento internacional, com participação na Bienal de Arte Contemporânea em Florença, na Itália, e exposta na Galeria Jenner Augusto, do arquiteto Wesley Lemos, que prioriza a inserção expressiva de obras da arte sergipana, reconhecida, madura e consolidada.

Fábio Sampaio considera a exposição um presente pelo amadurecimento. Afinal de contas, segundo ele, são 20 anos ininterruptos de produção de arte. “Esse recorte interliga duas cidades, duas influências da minha vida: a que nasci, Santos, e a que vivo, Aracaju. Com pinturas, desenhos, esculturas, instalações e vídeos, comunico essas duas experiências. Uma história de arte que vai ser consolidada em um livro, organizado por Mário Britto, e que vai ser lançado em setembro na Mostra Aracaju”, comemora.

Mário Britto, por sua vez, comenta que ser homenageado por tantos profissionais talentosos e ainda fazer o que mais ama, que é a curadoria da exposição, vai ficar marcado como um dos momentos mais importantes da vida dele. De acordo com o curador, a arte na Mostra Aracaju pode ser apreciada de várias formas: da visão panorâmica aos detalhes. “O exemplo está nessas obras que foram listadas aqui. São quatro diferentes vertentes de manifestação da arte, mas que atravessam três séculos de História. “Viver com Arte” é viver a nossa história, a história do mundo com a leveza e a perspicácia do olhar de cada artista. A Mostra Aracaju possibilita isso: uma grande celebração ao trabalho de cerca de 80 artistas”, ressalta Mário Britto.

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net

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