Publicado originalmente no site da Folha de S. Paulo, em
15/10/2016.
Morre o escritor e acadêmico Antonio Carlos Viana, aos 72
anos
Rodolfo Viana de São Paulo.
Morreu na noite de sexta (14), no Hospital Unimed, em
Aracaju (SE), o escritor, tradutor e acadêmico Antonio Carlos Viana, autor
premiado duas vezes pela APCA (Academia Brasileira de Críticos de Arte). A
morte foi confirmada por sua editora, Marta Garcia, e por seu filho, o também
escritor André Viana.
Em 2014, Viana descobriu que sofria com mieloma múltiplo, um
câncer na medula óssea. O escritor sergipano passou por um tratamento no começo
de 2015 e se recuperou. Há duas semanas, porém, a doença retornou "com
tudo", diz André.
Mestre em teoria literária pela PUC do Rio Grande do Sul e
doutor em literatura comparada pela Universidade de Nice, na França, era
considerado um dos grandes da atualidade.
Sua obra mais recente, "Jeito de Matar Lagartas",
lançado pela Companhia das Letras em 2015, ganhou o prêmio APCA na categoria
contos daquele ano. A coletânea traz textos que, em conjunto, formam a imagem
de um desencontro perene que perpassa desde a perda da inocência na infância até
o distanciamento entre sexo e corpo na velhice.
Garcia lembra que, no começo de 2015 - quando Viana estava
mal, antes do tratamento com quimioterapia -, o livro "pulou a fila de
publicações da Companhia das Letras" para que a obra pudesse sair enquanto
Viana estava vivo.
"E depois do tratamento, ele se transformou em outra
pessoa", comenta. "De homem tímido - que poderia ser confundido com
ríspido para quem não o conhecesse -, se tornou alguém expansivo, passou a rir
mais, a usar mais o Facebook - o que foi um choque para quem o conhecia!"
"Ele era um cara macambúzio", comenta André,
"mas depois da recuperação surpreendente queria celebrar a vida."
"Jeito de Matar Lagartas" foi o segundo prêmio da
crítica de Viana. Em 2009, seu "Cine Privê", publicado em 2009 pela
mesma editora, também foi agraciado com o APCA em contos. Os contos ali trazem
personagens condenados à invisibilidade - como um homem cujo trabalho é limpar
as cabines individuais de um cinema pornô - ou a abusos - como a adolescente
pobre que troca favores sexuais por tratamento de dentes.
A cerimônia de despedida será no início da tarde de sábado,
na Biblioteca Epifanio Doria, em Aracaju. André Viana, contudo, diz no Facebook
que são se trata de um velório "porque acredito que a gente precise sair
um pouco desse quartinho triste e escuro do fim da vida e bailar no salão
iluminado dos grandes homens e mulheres, por que não?".
"O espaço estará aberto para quem quiser e do jeito que
quiser render sua homenagem ao professor Mangueira, ao contista Antonio Carlos
Viana, ao velho e querido e amado Tonho. Vale música, vale recital, vale roda
de leitura, vale circo, vale teatro, vale cuspidor de fogo, vale tudo. Vamos
fazer da arte a religião deste sábado", diz.
Viana deixa um filho e nenhum trabalho inacabado. De acordo
com André, os contos que estavam pela metade foram destruídos por Viana, quando
descobriu que a doença voltara, em setembro. "Ele não queria deixar nada
sem término, tamanho o seu rigor."
Texto reproduzido do site: folha.uol.com.br/ilustrada
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