Imagem para ilustração de artigo, postada por MTéSERGIPE.
Publicado originalmente no site SERIGY, em 24/11/2006.
Sergipe na geografia e na história brasileira.
Por Luiz Antônio Barreto.
Há na geografia e na história brasileira pelo menos três
registros sobre Sergipe: o primeiro, uma ilha na Baía de Guanabara (Rio de
Janeiro), onde os franceses aportaram em 1555 com o propósito de fundar uma
colônia, onde os huguenotes (protestantes calvinistas, perseguidos na França)
pudessem estabelecer atividades econômicas; o segundo, um rio na então
Capitania da Bahia, onde o governador Mem de Sá estabeleceu seu famoso engenho
de açúcar, cujas terras mais tarde foram passadas para o Conde de Linhares,
levando a povoação a ser denominada de Sergipe do Conde.
O terceiro, também um rio, no centro do território situado
entre os rios Real, ao sul, e São Francisco, ao norte, e que deu nome às terras
mais tarde conquistadas por Cristóvão de Barros. As terras de Sergipe, na
verdade, eram parte do Foral da Bahia, hereditariamente entregue ao donatário
Francisco Pereira Coutinho e que fracassando o sistema das Capitanias
Hereditárias reverteu à Coroa portuguesa, por idenização ao herdeiro Manoel
Pereira Coutinho, passando a ser conhecidas como Sergipe del Rey.
Corsários franceses e outros aventureiros exploravam o pau
brasil e entravam em contato com os indígenas que habitavam a terra sergipana.
Negros da Guiné, fugidos da Bahia, buscavam refúgio nas margens do rio Sergipe,
fortalecendo os ajuntamentos livres, que mais tarde foram denominados de
Santidades.
Alguns padres jesuítas estiveram no território de Sergipe,
visitaram as margens do rio São Francisco e tentaram contatos com os
grupamentos existentes, sem êxito, até que em 1575, o padre Gaspar Lourenço,
acompanhado do irmão João Salonio, empreenderam a missa catequética, fundando
missões em torno das aldeias indígenas.
O esforço dos padres da catequese não significou a ocupação
ordenada das terras de Sergipe. Depois de episódios sangrentos e igualmente
fracassados, a Coroa portuguesa determinou, em 1588, que fosse dada guerra aos
indígenas sergipanos. No Regimento Geral do governador Francisco Giraldes
estava a clara recomendação da guerra, para os fins específicos de exploração
das nitreiras, para extrair o salitre, matéria prima da pólvora, abundante em
Sergipe, e abertura de uma estrada que facilitasse a comunicação entre as
Capitanias de Bahia e Pernambuco, passando pelo território sergipano.
Morrendo em Lisboa, antes de assumir o cargo de governador,
Francisco Giraldes deixou seu Regimento para que as autoridades existentes no
Brasil cumprissem a ordem do Rei. Coube a Cristóvão de Barros, conhecido
sertanista, afamado comandante de tropas vitoriosas no Rio de Janeiro e em Cabo
Frio, organizar e chefiar a expedição conquistadora, em dezembro de 1589. A
batalha que matou e cativou milhares de indígenas, terminou no raiar do ano de
1590.
O conquistador, com o séquito de soldados e colonos, fundou
no local da guerra a povoação de São Cristóvão, em homenagem a Dom Cristóvão de
Moura, fidalgo espanhol, representante da Coroa espanhola em Portugal, dando ao
local o fórum especial de cidade. Ao fazer do ajuntamento militar uma cidade,
Cristovão de Barros deu a São Cristovão mais um título, o de 4ª cidade mais antiga
do Brasil, fazendo de Sergipe del Rey uma nova Capitania, subalterna a
Capitania da Bahia.
Antes de deixar o território conquistado, Cristovão de
Barros doou a seu filho, Antonio Cardoso de Barros, as terras entre os rios
Sergipe e São Francisco, deixando como Capitão Thomé da Rocha, com a missão de
distribuir entre os soldados e colonos que participaram da guerra lotes de
terra para as diversas lavouras e para criatórios de gado e de cavalos. Durante
30 anos os diversos Capitães que governavam Sergipe assinaram cartas de
sesmarias, colonizando Sergipe, do sul para o norte e do leste para o oeste,
ocupando os terrenos férteis das margens dos rios e as matas de Itabaiana e de
Simão Dias.
Em pouco tempo partes das terras de Sergipe estavam ocupadas
com grande número de currais de gado, e eram criados os melhores cavalos do
Brasil, como registrou Diogo de Campos Moreno no seu Livro que dá razão do
Estado do Brasil, provavelmente escrito entre 1610 e 1611. Em outras partes as
roças diversificavam a lavoura, tendo a cana-de-açúcar como o principal produto
agrícola, permitindo a instalação dos primeiros engenhos. O gado e açúcar estão
na base histórica da economia sergipana, e foram produtos essenciais e
estratégicos para o abastecimento interno e das Capitanias de Pernambuco e
Bahia, que produziam para exportação.
Além dos currais de gado o século XVI deu a Sergipe as
legendárias minas de prata de Itabaiana, cobiçadas por brasileiros,
portugueses, espanhois e holandeses. Diversas expedições vararam o território
sergipano em busca das minas de Belchior Dias Moreira, o Moribeca, e se não
encontraram prata e nem ouro seguiram procurando em outras partes, minerando o
salitre, e subindo pelo rio São Francisco até a região de Jacobina, na Bahia,
depois até Minas Gerais, onde finalmente realizou-se o sonho de riqueza.
O século XVIII foi o século dos engenhos de açúcar,
plantados nas terras pretas e gordas dos massapês, nos vales férteis do
Piauí-Piauitinga, do Vaza-Barrís, e principalmente do Sergipe-Cotinguiba-Japaratuba,
que deram a Sergipe uma grade produção açucareira, impulsionando o surgimento e
o crescimento de povoações e de vilas, estabelecendo um comércio a partir da
instalação de estruturas portuárias, trapiches, e onde floresceu a civilização
sergipana. A divisão territorial em Freguesias, de administração religiosa,
dava o contorno real da vida sergipana. Os vigários responsáveis fizeram, em
1757, o levantamento dos lugares, com seus nomes, situação, população, modos de
vida, relacionando igrejas e capelas com seus oragos.
O século XIX, conforme a Memória sobre a Capitania de
Serzipe, de autoria de Dom Marcos Antonio de Souza, de 1808, mostrava a
Capitania de Sergipe com seu progresso econômico, suas vilas mais prósperas –
Santa Luzia do Paagui, (hoje Santa Luzia do Itanhy), Tomar ( hoje Tomar do
Geru), Lagarto, Itabaiana, Santo Amaro (hoje Santo Amaro das Brotas), Vila Nova
(hoje Neópolis) e Propriá - , a situação de sua população em condições de lutar
pela emancipação política. O sentimento de liberdade tomava conta de Sergipe,
estimulando a formação de grupos favoráveis a desanexação do território
sergipano, libertando-o da Bahia.
Em 8 de Julho de 1820 uma Carta Régia do Rey Dom João VI
emancipou Sergipe, tornando-o Capitania independente, com administração
própria. Forte reação dos partidários da posição subalterna de Sergipe, que
pediam a reanexação do território, marcaram os anos seguintes, até a
proclamação da Independência do Brasil e a organização do Império. Pedro I
confirmou a emancipação concedida pelo seu pai, elevou novamente Sào Cristovão
à categoria de cidade, em 1823, e com a Constituição de 1824 Sergipe já aparece
como Província, podendo assim organizar sua vida administrativa e política.
O crescimento econômico, a produção do açúcar e de outros
importantes ítens da pauta de exportação deu novo ânimo à Província e aos
sergipanos. Os temas centrais eram discutidos nos Conselhos da Província, na
Assembléia Provincial, nos jornais que começaram a circular em 1832, formando
opinião pública sobre os problemas de Sergipe, dentre eles a necessidade de
mudar a capital, de São Cristovão para um ponto do estuário do rio Sergipe,
onde havia melhor condição para o transporte da produção açucareira.
A escolha recaiu sobre o povoado de Santo Antonio do Aracaju,
antiga povoação a margem do rio Sergipe, que a partir de 17 de março de 1855,
graças a Resolução nº 143, do presidente da Província Inácio Joaquim Barbosa,
passou a ser a capital sergipana. A situação geográfica da nova capital
permitiu ampliar os esforços do desenvolvimento de Sergipe, ampliando as
relações comerciais, fortalecendo as regiões produtoras onde vicejaram
atividades artísticas e culturais.
O acanhado povoado de Santo Antonio do Aracaju, núcleo
inicial da cidade, não atendia aos interesses que determinaram a mudança da
capital. O Governo da Província contratou os serviços de engenharia, nomeando
em comissão engenheiros militares, chefiados pelo capitão Sebastião José
Basílio Pirro, para construir a nova cidade, na parte baixa, junto ao leito do
rio Sergipe. Era preciso, contudo, vencer as condições adversas, aterrar as
áreas pantanosas, combater as febres, para construir a cidade. As doenças
causadas pelos focos existentes nos pântanos e terrenos inundados, conhecidas
genericamente como “febres do Aracaju”, vitimaram o próprio presidente Inácio
Barbosa, que morreu em Estancia, para onde viajou em busca de tratamento.
O peão e modelo de aterragem era a praça, onde seria
construído o Palácio, símbolo do Poder provincial. Da praça do Palácio (hoje
Fausto Cardoso) foram planejadas as ruas, nos três sentidos – norte, sul e
oeste, prevendo que a cidade pudesse avançar 1.188 metros em cada direção.
Aterrar os charcos, drenar os diversos pontos de armazenamento natural de água
e construir os prédios para abrigar os serviços administrativos transferidos de
São Cristovão foram as prioridades dos responsáveis pelo planejamento e construção
de Aracaju para ser a capital sergipana. O novo presidente da Província,
Salvador Correia de Sá e Benevides, levou adiante o projeto, ampliando o
trabalho com a organização portuária e os serviços de navegação a vapor. No seu
discurso de 20 de maio 1856, perante os membros da Associação Sergipense, ele
diz:
“A mudança, pois, da Capital arrancada da solidão para um
centro de vida, foi o primeiro passo percursor de uma nova era para esta
importante Província; foi o primeiro degrau que se deve conduzir ao apogeu do
progresso, riqueza e consideração a que lhe dão direito a índole dos seus
dóceis habitantes, a fertilidade prodigiosa do seu solo.”
A idéia do presidente era dotar as barras sergipanas, a
começar pela do rio Sergipe, das condições de navegabilidade, introduzindo a
rebocagem à vapor, adquirindo o rebocador Aracaju, que entrou em operação no
mesmo ano, protegendo a entrada e a saída das embarcações.
Aracaju continuava em obras. Era a segunda experiência da
engenharia militar brasileira. A primeira experiência foi no Piauí, quando dois
ou três anos antes, foi mudada a capital de Oeiras para Terezina. Aracaju
ganhava os primeiros edifícios: o da Casa de Oração São Salvador (hoje Igreja
do Salvador), na esquina da rua São Salvador ( hoje Laranjeiras) com a rua do
Barão de Maroim (hoje João Pessoa).
Um terreno na praça do Palácio estava destinado à construção
da igreja matriz de Aracaju, mas terminou cedendo lugar ao edifício da
Assembléia. A igreja catedral terminou sendo construída no centro das futuras
praças Tobias Barreto e Mendes de Morais, hoje Olímpio Campos. O Palácio do
Governo estava, provisoriamente, instalado na praça do Palácio, esquina com a
rua da Aurora (hoje avenida Rio Branco, onde sempre funcionou a Delegacia
Fiscal).
A anunciada visita do Imperador Pedro II e sua comitiva a
Sergipe, em janeiro de 1860, alvoroçou a cidade. Várias obras foram feitas em
função da visita imperial, como a Ponte de desembarque,(Ponte do Imperador), o
Forte,ou Castelo da Praça, obra do engenheiro Pirro e destinado a dar as salvas
de boas vindas, o Arco de entrada da rua do Barão, pago pelos portugueses, a
Capela ao norte da praça do Palácio, além da preparação do Paço Imperial,
adaptação do Palácio da Presidência da Província.
O Imperador visitou em Aracaju, ainda, os prédios da
Alfândega, o Cemitério, as obras do novo Quartel para a tropa de linha, a
Capitania dos Portos, as obras do novo Palácio, a Câmara Municipal, a
Tesouraria Provincial, a Tesouraria da Fazenda, o Quartel da Polícia, os Correios
e a repartição das Terras Públicas, as obras do Hospital, da Cadeia, das
repartições do Exército, algumas delas de responsabilidade do engenheiro
militar capitão Francisco Pereira da Silva e a obra da Companhia de Refinação,
entregue ao engenheiro civil Pedro Pereira de Andrade, destinada a melhorar a
qualidade do açúcar para comercialização. Tais equipamentos davam a melhor
impressão do ritmo de trabalho para construir a nova capital de Sergipe.
O Imperador Pedro II fez uma visita sentimental, ao túmulo de
Inácio Joaquim Barbosa, que à época estava na parte dos fundos da Casa de
Oração São Salvador, por força da Resolução 453, de 3 de setembro de 1856.
Depois de receber homenagens do clero, dos funcionários públicos, das Câmaras
de vários municípios, do corpo consular, Pedro II visitou a Barra dos
Coqueiros, Maroim, Laranjeiras, São Cristovão, Estancia, além das obras do
canal que liga os rios Pomonga e Japaratuba e o Engenho Escurial, em
Itaporanga, de propriedade de Antonio Dias Coelho e Melo. Em 1859, ao viajar
pelo rio São Francisco, em visita a Cachoeira de Paulo Afonso, o Imperador
Pedro II conheceu outros lugares de Sergipe, como Vila Nova (Neópolis), Propriá
e Porto da Folha, incluíndo a Ilha de São Pedro.
A imagem que Pedro II levou da Província de Sergipe, e de
sua capital, era certamente fiel a história que os sergipanos construíam,
cotidianamente, em todas as partes do território entre os rios Real e São
Francisco. Uma história de afirmação da inteligência e da tenacidade de um povo
decidido a promover os avanços necessários para melhorar a vida da Província.
Os dados não mentiam.
Em 1870 era criado em Aracaju o colégio Ateneu Sergipense,
que funciona, ininterruptamente, até hoje. Logo depois, foi criada a Escola
Normal (hoje Instituto de Educação Rui Barbosa), garantindo a escolarização dos
jovens sergipanos. Àquela época, Sergipe ganhava destaque em todo o País, pela
contribuição cultural de muitos dos seus filhos, como o poeta Pedro de
Calasans, o filósofo Tobias Barreto, o crítico Sílvio Romero, os políticos
Fausto Cardoso, Coelho e Campos, Olímpio Campos e Martinho Garcez, o filólogo
João Ribeiro, dentre muitos outros vultos ilustres, com suas obras.
Em vários pontos da Província eclodiram os movimentos contra
a escravidão e a propaganda republicana. Jornais, clubes, sociedades passaram a
dedicar suas atenções às questões da atualidade. Vários sergipanos, militares e
intelectuais, tomaram parte na campanha abolicionista e tiveram papel especial
na proclamação da República. Felisbelo Freire, Silvio Romero, Fausto Cardoso,
Ivo do Prado, Oliveira Valadão, Pereira Lobo, Siqueira Menezes, e outros,
deixaram seus nomes gravados na afirmação democrática do Brasil.
Com a proclamação da República, em 1889, Sergipe passa a
Estado federado, organizando sua vida jurídica e política, elaborando sua
Constituição, promulgada em 18 de maio de 1892. A expansão econômica leva à
instalação de fábricas de tecidos, fazendo do algodão uma lavoura preferencial,
ocupando centenas de famílias em pequenas oficinas de desencaroçamento. O ciclo
do algodão ajuda Sergipe a aumentar o ritmo de desenvolvimento, em décadas
seguidas, ao lado do açucar, do sal, do gado e dos produtos derivados.
Uma tragédia sacode o Estado e emociona Aracaju em agosto
de1906. Fausto Cardoso, deputado federal, lidera um movimento revolucionário e
depõe o presidente Guilherme Campos, irmão e representante do monsenhor Olímpio
Campos, chefe oligarca que atravessou da Monarquia para a República sem
qualquer cerimonia. Fausto Cardoso foi morto na praça do Palácio, que hoje leva
o seu nome, por uma bala de fuzil de um soldado das forças legais, que tentavam
repor o presidente deposto. A morte de Fausto Cardoso comoveu Sergipe e fez
Aracaju chorar. O poeta, que dizia que “a liberdade só se prepara na história
com o cimento do tempo e o sangue dos homens” tombava em defesa dos ideais
democráticos e republicanos.
Os filhos de Fausto Cardoso, atribuindo a morte do pai ao
monsenhor Olímpio Campos, que exercia mandato de senador no Rio de Janeiro,
cumpriram a vingança e mataram o religioso, em novembro do mesmo ano. Findava
no luto um confronto político, um conflito ideológico, nascido décadas antes,
quando Fausto Cardoso e Olímpio Campos tomaram, no Recife onde foram estudar,
posições antagônicas.
Mas Aracaju continuava o seu embelezamento, com o Jardim
Olímpio Campos, com as suas novas praças e ruas. Ganhava um teatro, o Carlos
Gomes (depois cine-teatro Rio Branco), e bondes, à tração animal que trafegavam
pelas principais ruas do centro. As casas começavam a receber água encanada,
substituíndo as águas das fontes do Mané Preto, do Anipum, dos Caboclos, da
Catinga, das Quiribeiras, da Arueira, da Nação e do Tororó, que eram as mais
procuradas. A modernização chegava às construções, com incentivo do Governo que
isentava de impostos os tijolos comprimidos, os mosaicos, as telhas francesas,
e outros materiais importados.
A década de 1910 trouxe a Sergipe a Diocese, criada em 3 de
janeiro, pela Bula Divina Disponente Clementia, do Papa Pio X e seu primeiro
bispo, Dom José Tomaz Gomes da Silva. No comando do executivo sergipano, o
general José de Siqueira Menezes, republicano destacado e herói de Canudos,
empreendia uma verdadeira revolução administrativa: a luz elétrica, o trem, o
Horto Florestal e o Código Florestal, o serviço de esgotamento sanitário, a
construção de grupos escolares, o monumento a Fausto Cardoso. Outros fatos
marcaram a vida sergipana, como a criação do Instituto Histórico e Geográfico
de Sergipe, em 1912, a instalação do aparelho cinematográfico, em 1913,
enquanto Aracaju calçava as suas primeiras ruas e praças.
Nem a I Guerra Mundial, nem a gripe espanhola impediram
Sergipe de fazer a festa do Centenário de sua Emancipação Política. Uma vasta
programação, dirigida pelo presidente Pereira Lobo, celebrava o feito político
e espelhava a situação econômica, social e cultural do Estado. Uma missão de
artistas italianos, entre os quais Belando Belandi e Oresti Gatti, estava
encarregada de reformar e ampliar o Palácio do Governo, e de realizar outros
serviços.
Um Entreposto mostrava, em Exposição especial, a produção
sergipana. Um monumento a Tobias Barreto simbolizava a homenagem ao genio dos
sergipanos, no centro da praça que tomaria, mais tarde, o seu nome. Os
fotógrafos Leone Ossovigi, de São Paulo, Fabian, do Rio de Janeiro, e Guilherme
Rogatto, italiano residente em Maceió, percorreram Aracaju e várias cidades do
interior, registrando a vida do Estado e do povo sergipano. O produto do
trabalho fotográfico está no Album de Sergipe, obra monumental de Clodomir
Silva, e na coleção de cartões postais, comemorativos do Centenário.
Embalado pela festa cívica, Sergipe elegeu seu presidente
Maurício Graccho Cardoso, sergipano que fez carreira política no Ceará, depois
de passagem pela vida militar. O Governo Graccho Cardoso, malgrado ter
enfrentado duas revoltas tenentistas, uma em 13 de julho de 1924, outra em 19 de
janeiro de 1926, foi marcado pelo mais puro empreendedorismo. O presidente deu
continuidade e ampliou as obras iniciadas por Siqueira Menezes, construiu
grupos escolares, criou o Arquivo Público, fez os prédios da Intendência (hoje
Prefeitura de Aracaju), tentou a criação do ensino superior, com as faculdades
de Farmácia e de Direito, a primeira denominada Anibal Freire da Fonseca e
dirigida pelo médico Augusto César Leite, a segunda Tobias Barreto, cuja
direção Graccho Cardoso avocou para ele.
Com Graccho o Estado ganhou várias estradas, serviço de água
e de esgoto, bondes elétricos, estações experimentais de algodão, orientadas
pelo técnico norte americano Tomas R. Day, Instituto de Física, Instituto
Pareiras Horta, para análises e vacinas, a Escola de Comércio Conselheiro
Orlando, e as edições das Obras Completas de Tobias Barreto, em 10 volumes,
organizadas pelo magistrado Manoel dos Passos de Oliveira Teles, o Dicionário
Biobibliográfico Sergipano, de Armindo Guaraná, Minha Gente, livro de costumes
de Clodomir Silva. Aracaju, naquele tempo, assistiu a chegada dos aviões e a
fundação da Hora Literária, entidade cultural mais tarde mudada para Academia
Sergipana de Letras, formada por 40 Cadeiras, cada uma com seu Patrono e seu
fundador.
O açúcar, o sal e o algodão dominavam a economia rural,
ajudados pelo gado de corte, pelo gado leiteiro, pelo arroz das várzeas
irrigadas do baixo São Francisco, e por uma indústria distribuída pela capital
e por vários municípios sergipanos. O banditismo, no entanto, inquietava parte
da população. Virgulino Ferreira da Silva entrava e saía, desembaraçadamente,
do território sergipano, visitando constantemente o sertão, onde fez amizades e
era acoitado, até morrer, em 1938, na Gruta do Angico, em Sergipe. Os
movimentos tenentistas da década anterior fez de Sergipe um ponto de
convergência dos revolucionários de 1930, liderados no nordeste por Juarez
Távora. Augusto Maynard Gomes e Eronides Carvalho assumiram, alternadamente, a
chefia do Poder, como Interventores. Eronides Carvalho foi, por pouco tempo,
governador constitucional, passando a Interventor, com o Estado Novo decretado
em 10 de novembro de 1937 por Getúlio Vargas.
Os torpedeamentos dos navios mercantes, na costa de Sergipe,
na madrugada de 16 de agosto mudaram a posição brasileira, então de
neutralidade face a II Guerra Mundial. Os navios Baependy, Araraquara, Aníbal
Benévolo, Itagiba, Arará, foram torpedeados pelo submarino alemão U-507, que
saiu de Bordéus, na França, sob o comando do Capitão de Corveta Harro Schacht,
diretamente para a operação nas águas do nordeste brasileiro. Centenas de
mortos e feridos deram na praia sergipana, exigindo imediato socorro, dos
grupos mobilizados, na mais completa solidariedade. Nas ruas, revoltada, a
massa clamava por justiça, pedia a declaração de guerra e apontava
estrangeiros, alemães e italianos, como responsáveis pelos torpedeamentos.
Intelectuais promoviam reuniões, organizavam sociedades,
publicavam livros, tomando posição política em face das duas circunstâncias
fortes: a ditadura de Vargas e a guerra. Vários jovens, homens e mulheres,
aderiam à Força Expedicionária Brasileira, organizada para lutar nos campos da
Itália e muitos deles voltaram cobertos de glória, como heróis nacionais. A
luta política toma cores ideológicas e transformam a redemocratização de 1945
num acerto de contas eleitoral. Candidatos de diferentes partidos pedem ajuda
dos comunistas do PCB, enfrentando a censura e o patrulhamento da Liga
Eleitoral Católica. José Rollemberg Leite, eleito governador, funda o ensino
superior com as escolas de Economia e de Química e oferece donativos do Estado
as organizações que quiserem criar as Faculdades de Direito e de Filosofia. Em
todo o Estado o Governo instala as Escolas Rurais, numeradas, oferecendo o curso
primário no interior.
A década de 1950 coloca novamente Aracaju no centro dos
interesses. A capital sergipana vai passar por uma transformação urbana
profunda, com o desmonte do Morro do Bonfim, formação gigantesca de dunas, no
centro da cidade. A obra é um presente de aniversário, para festejar o
Centenário da mudança da capital. O ano de 1955 é todo de festas e são muitos
os presentes materiais e intelectuais que Aracaju centenária recebe. Outros
eventos, como o Centenário de Nascimento de Silvio Romero, atraem a atenção dos
sergipanos e dos brasileiros. A modernização da cidade, a conquista de novos
espaços urbanos, o agenciamento de áreas de expansão, os novos prédios timbram
uma marca de arquitetura eclética, somatório de contribuições diversas, que garantem
a beleza da capital.
A descoberta de petróleo, nos campos de Carmópolis, em 1963
abre novas perspectivas para a economia sergipana. Cinco anos depois, a
PETROBRÁS descobre gás natural, pesquisando em lâmina d’água, na plataforma
continental de Aracaju. As novas descobertas estimulam a idéia de um modelo de
desenvolvimento para o Estado, fundado na exploração e na industrialização das
reservas minerais – Halita, Carnalita, Silvinita, Traquidita -, que a mesma
PETROBRÁS localizou e cubou, como parte do seu interesse produtor. Outros
produtos e sub produtos animaram os governantes na concepção de projetos de
Complexo Químico de Base, Polo Cloroquímico e outros que, lastimavelmente, não
vingaram.
A criação do Banco do Estado de Sergipe, como banco de fomento,
ainda no Governo Luiz Garcia, instalado no Governo Seixas Dória, pelo
empresário e jornalista Orlando Dantas, demonstrava o interesse do Estado em
levar adiante um novo projeto de desenvolvimento. A mobilização nacional pelas
reformas de base, no entanto, foi abortada, gerando efeitos negativos para
Sergipe.
Politicamente, Sergipe tem seu governador, Seixas Dória,
deposto e preso em Fernando de Noronha. Mais uma vez, a ditadura faz grandes
estragos entre os sergipanos, frustrando as conquistas que a luta social e
política concedera. De outro lado, vários militares sergipanos, de alta
patente, assumem comandos importantes, destacando o Estado, sem ajudar o seu
projeto. Os governantes sergipanos aprofundam o modelo econômico e aceleram
providências, lançando para a população idéias que se tornaram simbólicas para
o Estado, como a construção de um porto, que valorizasse o estuário do rio
Sergipe, em Aracaju.
Em 1967 foi criada a Universidade Federal de Sergipe,
instalada em 1968, como um instrumento necessário ao Estado, coroando as
iniciativas governamentais e da sociedade responsáveis pela criação e
manutenção do ensino superior. A situação política nacional, do regime militar,
parecia não atrapalhar Sergipe na sua luta pelo desenvolvimento.
O modelo de desenvolvimento estadual levou o Governo a
construir o Porto de Sergipe, em mar aberto, na Barra dos Coqueiros, e a
Adutora do São Francisco, captando em Propriá água do velho Chico para as
indústrias, ao longo do caminho, e para o consumo da população de Aracaju. Por
toda a década seguinte o Estado perseguiu seu projeto principal, sem êxito,
salvo em alguns pontos como a criação da NITROFÉRTIL( hoje FAFEN), com sua
unidade de amônia e uréia, e da PETROMISA, subsidiária da PETROBRÁS para
minerar o cloreto de potássio da mina de Taquari-Vassouras (hoje Vale do Rio
Doce).
Com o retorno das eleições diretas foi eleito governador
João Alves Filho, que ao lado da manutenção do interesse na exploração dos
recursos minerais resolveu enfrentar o drama das secas e das estiagens
prolongadas, concebendo uma série de medidas singelas de engenharia, e projetos
destinados à convivência das populações com um regime insuficiente de chuvas.
As adutoras, que desde o Governo Paulo Barreto de Menezes distribuia água em
regiões do Estado, e que foram permanentemente ampliadas pelos governadores
José Rollemberg Leite e Augusto Franco, construindo a Adutora do São Francisco.
Os anos de 1980 foram igualmente dedicados à adequação das
potencialidades minerais, tendo o Presidente da República José Sarney assinado
Decreto definindo o Polo Cloroquímico de Sergipe, a ser implantado junto ao
Porto de Sergipe. O Governo do Estado, à época sob o comando de Antonio Carlos
Valadares, concluiu as obras da área do Polo, deixando-a para as próximas
administrações. O retorno de João Alves Filho ao Poder dava continuidade ao
esforço comum dos governantes do Estado, embora a conjuntura já não fosse a
mesma. O presidente da República, Fernando Collor de Mello, com sua política
econômica, freou o projeto mineral de Sergipe, tirou a PETROMISA da PETROBRÁS,
tentou vender a FAFEN, e privatizou o setor, frustrando um trabalho sério e
consistente, realizado pelos políticos e técnicos sergipanos.
A política do Governo Collor foi prejudicial ao Estado,
paralizando as ações que vinham sendo empreendidas há décadas. Sergipe teve de
buscar, nos anos 1990, novamente a sua vocação produtiva. Os projetos de
irrigação, como o Califórnia, o Platô de Neópolis, e outros visaram fortalecer
a produção agrícola, buscando o mercado internacional de frutas tropicais. Os
gastos com o modelo industrial de exploração das riquezas minerais não
trouxeram os efeitos pensados pelos administradores, e Sergipe se viu novamente
tendo que elaborar um modelo de desenvolvimento, para atender à sua população.
Nos últimos oito anos o Governo do Estado se voltou para o
fortalecimento das atividades produtivas, revitalizando os setores tradicionais
e atraindo investimentos para novas indústrias, que foram instaladas em Aracaju
e em vários municípios sergipanos. O governador Albano Franco manteve, ainda, os
projetos de irrigação, atuando na região semi-árida do Estado com medidas de
efeito imediato, financiadas pelo FIDA, através do programa Pró-Sertão.
Aracaju, como capital do Estado, sede do Governo, onde estão
concentrados os serviços é uma caixa de ressonância dos problemas sergipanos.
Obrigada a gerar boas condições de vida para a sua população, Aracaju construiu
milhares de novas casas, abriu avenidas, criou bairros, mudou o modo e viver,
verticalizando as moradias com condomínios espalhados pela zona sul da cidade e
conquistou áreas de expansão urbana, para o sul, e de expansão industrial, para
o norte, estabelecendo uma convivência mais próxima com os municípios de São
Cristovão e Nossa Senhora do Socorro.
Mantendo a beleza do seu traçado, incorporando à sua
paisagem as múltiplas contribuições da arquitetura e do urbanismo, a capital
sergipana prepara a sua estrutura turística, como porta de entrada do Nordeste.
Dotada de bons hotéis, restaurantes, e bem servida de estradas que fazem a
comunicação com o resto do Estado e com o Brasil, Aracaju cumpriu em sua
história a idéia original dos seus construtores, ordenando o seu crescimento a
partir do peão de ordenamento inicial, que ficou conhecido como o quadrilátero
de Pirro.
Texto reproduzido do site: clientes.infonet.com.br/serigysite
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