Foto: arquivo Antônio FJ Saracura.
Reproduzida e postada por MTéSERGIPE,
com o fim de ilustrar o presente artigo.
Publicado originalmente no blog Primeira Mão, em 03/01/2016.
A morte de Acrísio Tôrres - Uma perda para as Letras
João Oliva Alves (*)
As letras sergipanas e brasileiras acabam de sofrer grande
perda, com o falecimento, em Brasília-DF, aos 12 deste mês de dezembro, do
professor e escritor Acrísio de Araújo Torres, vitimado por uma queda que lhe
causou fratura do fêmur, seguida de AVC, culminando na sua morte. Acrísio
Tôrres nasceu na cidade de Crateús, Ceará, aos 10 de abril de 1928, tendo,
naquele Estado, feito os estudos do nível primário ao superior, formando-se
afinal em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito da
Universidade Federal cearense.
Nos idos de 1963, casado com D. Maria do Carmo Lima Araújo e
já possuindo numerosa família, sentiu-se atraído por uma viagem a Brasília, buscando
encontrar perspectivas de melhor futuro. Entretanto, àquele tempo, Acrísio já
possuía um irmão residente em Sergipe, Ubaldo Tôrres, engenheiro eletrotécnico,
exercendo emprego na empresa estatal Serviços de Luz e Força, hoje representada
pela ENERGISA. Antes de uma viagem direta à Capital Federal, Acrísio alugou
casa em Aracaju, aonde veio passar algum tempo para rever este irmão e também
para experimentar as possibilidades do trabalho remunerado na capital
sergipana. Certamente incentivado por esse mano, ele encontrou receptividade à
sua oferta de “mão de obra” como professor e jornalista. Dentro de alguns
meses, já havendo obtido contrato para ministrar aulas no ensino médio e para
escrever em jornais da cidade, resolveu instalar-se aqui mesmo com sua família,
logo granjeando pleno apoio, chegando inclusive a assessorar órgãos
administrativos e educacionais do Estado.
E assim, desde 1963 a 1977, ou seja, por 14 anos seguidos,
passou ele a viver em Aracaju, dedicando-se ao magistério, ao jornalismo e à
pesquisa cultural. Durante esse tempo chegou a escrever e a lançar em Sergipe,
com base nessas pesquisas, quase duas dezenas de livros de caráter didático ou
literário, com os seguintes títulos: 1. “História de Sergipe “ (1967);
2.”Geografia de Sergipe” (Volumes I e II); 3.“Literatura Sergipana” (1974);
4.“Minha Terra, Minha Gente” (1a. Série e 1º grau); 5.“Aracaju, Minha Capital”
(2ª.série, 1º grau); 6.“História de Sergipe” (3ª. Série, 1º grau); 7.”Sergipe e
o Brasil”(4ª.série,1º grau); 8.”Leituras Sergipanas”(04 volumes para 1ª, 2ª,
3a. e 4ª Séries); 9. “Virgínio de Sant'Anna (1967); 10."O Secretário de
Guilherme de Campos (1968); 11. “Graccho Cardoso” (1973) 12. “Zózimo Lima”
(1973) 13. ”Augusto Leite” (´1974). Esta obra tem o mérito de haver suscitado os
estudos sergipanos num momento em que eles estavam um pouco esquecidos.
Já em 1971, na Administração Paulo Barreto de Menezes, que
tinha como Secretário da Justiça o Dr. Carlos Rodrigues da Cruz, o advogado
Acrísio Tôrres foi convidado e nomeado para exercer, naquela Secretaria, o
cargo de Chefe de Gabinete, no qual permaneceu até 1975, ao término do mesmo
Governo. Mas em 1974, quando seu nome já se achava em pleno destaque como
pesquisador, jornalista e escritor, foi eleito para ocupar a cadeira nº 36 da
Academia Sergipana de Letras, cujo patrono é Brício Cardoso, pedagogo e
político nascido em Estância. Nesse mesmo ano também já fora agraciado pela
Câmara Municipal de Aracaju, com o título de “Cidadão Aracajuano” e em 1975,
pela Assembleia Legislativa Estadual, com o título de “Cidadão Sergipano”. A
essa altura continuou realizando seus trabalhos de pesquisa que acabou
publicando na imprensa diária sergipana. Esses 14 anos de vida em Sergipe e sua
dedicação à cultura e ao estudo da história sergipana proporcionou um legado
que ainda hoje é referência aos estudiosos.
Finalmente em 1977 buscando alçar novos voos e com a
oportunidade que lhe surgira na capital da República, voltou a pensar em
transferir-se para Brasília, como o fez naquele mesmo ano. Lá chegando logo
conseguiu ser contratado pela UnB – Universidade de Brasília, para ensinar a
matéria denominada Estudo dos Problemas Brasileiros e, tendo levado consigo um
enorme bloco de anotações sobre as pesquisas realizadas em Aracaju, voltou a
apurá-las e a publicá-las, nas horas vagas, inclusive sob a forma de livros.
Neste estágio de sua vida, encerrado com a morte em 12 deste mês, Acrísio de
Araújo Tôrres ainda produziu (além de outras crônicas jornalísticas), quatro
livros, intitulados: 1. “Os Amores de Pedro II em Sergipe” (1981), 2. “Cátedra
e Política” (1988), 3. “Imprensa em Sergipe” (1993) e 4. “Sergipe/ Crimes
Políticos” (1999)
Meu conhecimento e amizade com o ilustre escritor, agora
falecido, data dos primeiros tempos em que ele chegou a Aracaju , quando
passamos a nos encontrar, diariamente, atuando na Imprensa local, às vezes num
mesmo jornal, às vezes em jornais diferentes. Em 2001, quando fui eleito para a
Academia Sergipana de Letras ele já ali se encontrava e sempre que ocorria vaga
pelo falecimento de algum acadêmico, sugeria que eu me candidatasse a
preenchê-la, sugestão que só em 2001 me encorajei a aceitar. Por isto mesmo,
quando fui eleito, convidei-o para ser meu recipiendário e ele prontamente
aceitou. Proferiu, na ocasião, um discurso de recepção que está impresso no
mesmo opúsculo em que saiu publicado o meu discurso de posse, sob o título
“Jornalismo na Academia”.
Termino dizendo que tenho comigo uma coleção de cartas que
ele e eu juntos trocamos, algumas delas sobre assuntos filosóficos e religiosos
(ele era ateu confesso) em que divergíamos, sem nunca, porém, nos atritarmos
por intolerância. Tive por ele toda amizade e admiração que sempre procuro
afirmar e confirmar, nas orações que faço a Deus, para que nos encontremos na
eternidade feliz.
(*) João Oliva Alves é jornalista e membro da Academia
Sergipana de Letras.
Texto reproduzido do blog: primeiramao.blog.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário