terça-feira, 13 de dezembro de 2016

A morte de Acrísio Tôrres - Uma perda para as Letras, por João Oliva Alves

Foto: arquivo Antônio FJ Saracura.
Reproduzida e postada por MTéSERGIPE, 
com o fim de ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no blog Primeira Mão, em 03/01/2016.

A morte de Acrísio Tôrres - Uma perda para as Letras

João Oliva Alves (*)

As letras sergipanas e brasileiras acabam de sofrer grande perda, com o falecimento, em Brasília-DF, aos 12 deste mês de dezembro, do professor e escritor Acrísio de Araújo Torres, vitimado por uma queda que lhe causou fratura do fêmur, seguida de AVC, culminando na sua morte. Acrísio Tôrres nasceu na cidade de Crateús, Ceará, aos 10 de abril de 1928, tendo, naquele Estado, feito os estudos do nível primário ao superior, formando-se afinal em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal cearense.

Nos idos de 1963, casado com D. Maria do Carmo Lima Araújo e já possuindo numerosa família, sentiu-se atraído por uma viagem a Brasília, buscando encontrar perspectivas de melhor futuro. Entretanto, àquele tempo, Acrísio já possuía um irmão residente em Sergipe, Ubaldo Tôrres, engenheiro eletrotécnico, exercendo emprego na empresa estatal Serviços de Luz e Força, hoje representada pela ENERGISA. Antes de uma viagem direta à Capital Federal, Acrísio alugou casa em Aracaju, aonde veio passar algum tempo para rever este irmão e também para experimentar as possibilidades do trabalho remunerado na capital sergipana. Certamente incentivado por esse mano, ele encontrou receptividade à sua oferta de “mão de obra” como professor e jornalista. Dentro de alguns meses, já havendo obtido contrato para ministrar aulas no ensino médio e para escrever em jornais da cidade, resolveu instalar-se aqui mesmo com sua família, logo granjeando pleno apoio, chegando inclusive a assessorar órgãos administrativos e educacionais do Estado.

E assim, desde 1963 a 1977, ou seja, por 14 anos seguidos, passou ele a viver em Aracaju, dedicando-se ao magistério, ao jornalismo e à pesquisa cultural. Durante esse tempo chegou a escrever e a lançar em Sergipe, com base nessas pesquisas, quase duas dezenas de livros de caráter didático ou literário, com os seguintes títulos: 1. “História de Sergipe “ (1967); 2.”Geografia de Sergipe” (Volumes I e II); 3.“Literatura Sergipana” (1974); 4.“Minha Terra, Minha Gente” (1a. Série e 1º grau); 5.“Aracaju, Minha Capital” (2ª.série, 1º grau); 6.“História de Sergipe” (3ª. Série, 1º grau); 7.”Sergipe e o Brasil”(4ª.série,1º grau); 8.”Leituras Sergipanas”(04 volumes para 1ª, 2ª, 3a. e 4ª Séries); 9. “Virgínio de Sant'Anna (1967); 10."O Secretário de Guilherme de Campos (1968); 11. “Graccho Cardoso” (1973) 12. “Zózimo Lima” (1973) 13. ”Augusto Leite” (´1974). Esta obra tem o mérito de haver suscitado os estudos sergipanos num momento em que eles estavam um pouco esquecidos.

Já em 1971, na Administração Paulo Barreto de Menezes, que tinha como Secretário da Justiça o Dr. Carlos Rodrigues da Cruz, o advogado Acrísio Tôrres foi convidado e nomeado para exercer, naquela Secretaria, o cargo de Chefe de Gabinete, no qual permaneceu até 1975, ao término do mesmo Governo. Mas em 1974, quando seu nome já se achava em pleno destaque como pesquisador, jornalista e escritor, foi eleito para ocupar a cadeira nº 36 da Academia Sergipana de Letras, cujo patrono é Brício Cardoso, pedagogo e político nascido em Estância. Nesse mesmo ano também já fora agraciado pela Câmara Municipal de Aracaju, com o título de “Cidadão Aracajuano” e em 1975, pela Assembleia Legislativa Estadual, com o título de “Cidadão Sergipano”. A essa altura continuou realizando seus trabalhos de pesquisa que acabou publicando na imprensa diária sergipana. Esses 14 anos de vida em Sergipe e sua dedicação à cultura e ao estudo da história sergipana proporcionou um legado que ainda hoje é referência aos estudiosos.

Finalmente em 1977 buscando alçar novos voos e com a oportunidade que lhe surgira na capital da República, voltou a pensar em transferir-se para Brasília, como o fez naquele mesmo ano. Lá chegando logo conseguiu ser contratado pela UnB – Universidade de Brasília, para ensinar a matéria denominada Estudo dos Problemas Brasileiros e, tendo levado consigo um enorme bloco de anotações sobre as pesquisas realizadas em Aracaju, voltou a apurá-las e a publicá-las, nas horas vagas, inclusive sob a forma de livros. Neste estágio de sua vida, encerrado com a morte em 12 deste mês, Acrísio de Araújo Tôrres ainda produziu (além de outras crônicas jornalísticas), quatro livros, intitulados: 1. “Os Amores de Pedro II em Sergipe” (1981), 2. “Cátedra e Política” (1988), 3. “Imprensa em Sergipe” (1993) e 4. “Sergipe/ Crimes Políticos” (1999)

Meu conhecimento e amizade com o ilustre escritor, agora falecido, data dos primeiros tempos em que ele chegou a Aracaju , quando passamos a nos encontrar, diariamente, atuando na Imprensa local, às vezes num mesmo jornal, às vezes em jornais diferentes. Em 2001, quando fui eleito para a Academia Sergipana de Letras ele já ali se encontrava e sempre que ocorria vaga pelo falecimento de algum acadêmico, sugeria que eu me candidatasse a preenchê-la, sugestão que só em 2001 me encorajei a aceitar. Por isto mesmo, quando fui eleito, convidei-o para ser meu recipiendário e ele prontamente aceitou. Proferiu, na ocasião, um discurso de recepção que está impresso no mesmo opúsculo em que saiu publicado o meu discurso de posse, sob o título “Jornalismo na Academia”.

Termino dizendo que tenho comigo uma coleção de cartas que ele e eu juntos trocamos, algumas delas sobre assuntos filosóficos e religiosos (ele era ateu confesso) em que divergíamos, sem nunca, porém, nos atritarmos por intolerância. Tive por ele toda amizade e admiração que sempre procuro afirmar e confirmar, nas orações que faço a Deus, para que nos encontremos na eternidade feliz.

(*) João Oliva Alves é jornalista e membro da Academia Sergipana de Letras.

Texto reproduzido do blog: primeiramao.blog.br

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