quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O que diz a crítica sobre o livro “Oxente! Essa é a nossa gente”

Foto reproduzida do site: infonet.com.br

Publicado no site Osmário Santos, em 16/10/2004.

O que diz a crítica sobre o livro “Oxente! Essa é a nossa gente”.

(...) Comentários da crítica sobre o livro do jornalista Osmário Santos, que ao longo de 15 anos vem trabalhando na organização da memória sergipana...
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Um novo livro de biografias.
Por Luiz Antonio Barreto.

Osmário Santos, autor do livro Memórias de Políticos de Sergipe no Século XX (Aracaju: UFSE/Fundação Oviêdo Teixeira/Banese, 2002), organizado com a colaboração do professor Afonso Nascimento, repete o feito de retirar das páginas domingueiras do JORNAL DA CIDADE os textos que emolduram biografias sergipanas. Não há mesmo como não comparar um e outro livros. “Oxente! Essa é a nossa gente”, de 450 páginas, 71 nomes, não tendo a pretensão de ser um dicionário de memórias, ao final complementa o livro anterior, ampliando não apenas as 123 biografias, distribuídas em 824 páginas, mas a visão do Estado e especialmente da vida política e social de Aracaju.

Um livro sobre ou de políticos é sempre alguma coisa pesada e medida, rebuscada para deixar a melhor das impressões, como uma exigência comportamental, perante um leitorado que julga, aplaude e vota. Já um livro de pessoas simples, flagradas em seu cotidiano e urdidas em suas histórias de vida, é outra coisa, mais livre, límpida, sincera.

Os jornais são fontes preciosas de documentos, sempre fornecendo dados, fatos, opiniões, perfis, que podem servir de roteiro ao conhecimento ampliado da realidade. O dia-a-dia do jornal nas mãos dos leitores encobre essa função profunda, exclusiva, que a imprensa desempenha ao fixar na memória social as suas páginas, e notadamente as suas colunas. Osmário Santos fez da sua página semanal um amplo registro e agora seleciona, organiza e oferece, de uma só vez, o produto de anos de trabalho.

Os livros de Osmário Santos, bem preparados, mantendo informações substanciosas, construídas através dos depoimentos tomados e gravados, são singulares, únicos e estão destinados a cumprir, no futuro bem próximo, um papel referencial igualmente destacado. Tudo começa com a escolha das personalidades entrevistadas, espécie de calçada da fama, ditada pelo prestígio de cada um, no seu ambiente de convivência. Depois, a edição, limitada ao espaço de uma página, deixando aparas e sobras que passam desapercebidas do leitor comum. Por fim, depois de anos nas estantes das bibliotecas, quase sem consulta, eles ganham nova vida nas páginas dos livros, onde vão recircular.

A fórmula de Osmário Santos deu certo. Tanto ele já produziu um número gigantesco de horas gravadas, com centenas de pessoas, como soube selecionar dois conjuntos de personagens, primeiro os do mundo da política, agora os dos vários segmentos sociais, apanhados como se fossem tipos populares, sem aquela conotação de pessoas excêntricas, portadoras de singularidades.

Os homens e mulheres que figuram em “Oxente! Essa é a nossa gente” ocupam, na memória sergipana, lugares especiais, por conta do modo como viveram ou vivem. São pessoas das mais variadas profissões e condição social, alguns dos quais marginalizados pelas suas opções de vida, e que engrossam os grupos que dão calor e ritmo ao viver sergipano. Explorando particularidades, Osmário Santos produz a oportunidade de revelar, integralmente, pessoas que nem sempre o tempo glorifica.

O leitor terá uma agradável surpresa ao folhear e a consultar “Oxente! Essa é a nossa gente” e aprenderá, de forma simples, com quantos sergipanos se faz uma cultura. E terá, ainda, a certeza de que os jornais guardam tesouros em suas páginas, como as entrevistas de Osmário Santos. Uma riqueza agora partilhada, como exercício jornalístico da melhor validade.

O livro de Osmário Santos repete a fórmula de transpor textos das páginas de jornais para as páginas do livro, como a verter jornalismo em literatura, combinação que tem dado muito certo no Brasil. São poucos os intelectuais, fora da academia, que não exercem papéis de cronistas, críticos, articulistas, nos jornais e revistas nacionais. Basta conferir entre os imortais da Academia Brasileira de Letras aqueles que, como Antonio Calado, Arnaldo Neskier, Murilo Melo Filho, têm uma militância na imprensa. Outros, como Austregésilo de Ataide, Carlos Castelo Branco, Roberto Marinho, que já morreram, elevaram o texto diário às mais altas ressonâncias da escritura literária.
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Dois olhos muito acesos.
Por Araripe Coutinho.

Dois olhos muito acesos e “Oxente! Essa é a nossa gente”. A forma desproposital com que Osmário Santos, jornalista, professor e quase multimídia, desenvolve seus personagens no livro recém-lançado pela Ós Editora, envolvendo vultos sergipanos vivos e alguns de recente e saudosa lembrança, é um trabalho de fôlego, colhido em 15 anos de trabalho quase insano deste que é o jornalista que mais contribui, hoje, para a nossa memória biográfica.

Carente e pobre de biografias, as pessoas importantes para a cidade, para a sua identidade cultural ou sociológica, são enfocadas no livro “Oxente! Essa é a nossa gente”. Mais que um resultado dos anos de publicação no JORNAL DA CIDADE, o livro é um atestado vivo da existência de um povo multifacetado, interessante, comovente e, sobretudo, ímpar. As histórias de vida vão se revelando num mosaico vivo, com fatos interessantes, prosaicos e às vezes surpreendentemente reveladores.

A existência em Aracaju de personagens tão únicos faz do leitor uma presa do livro de Osmário Santos. “Oxente! Essa é a nossa gente” traduz bem o espírito do autor, descompromissado com chavões rebuscados e interessado apenas em revelar o propósito da obra, que é trazer à luz a existência de personagens, figuras ilustres, anônimas ou mesmo folclóricas de uma sociedade que vai se esvaindo a cada dia, e perdendo os seus referenciais humanos. “Oxente! Essa é a nossa gente” usa um termo de linguagem nordestina, “oxente”, para exatamente chamar a atenção do leitor para a sua identidade, quer no falar, no andar ou mesmo no existir numa sociedade aracajuana dos anos 40 aos nossos tempos atuais.

Osmário Santos, que assina uma página diária no JORNAL DA CIDADE, presta assessorias e mantém um site, é um jornalista incomum. Ansioso, apaixonado pelo seu ofício, ele busca os seus personagens, que ele prefere chamar de vultos sergipanos, quase que aleatoriamente e aí aperta o play e dá a redação daquele que terá a sua vida esmiuçada e traduzida para o público. Conta o autor que fez uma de suas entrevistas no hospital. Como a família achava que o doente precisava de descanso, ele voltava e voltava de novo, até conseguir por completo a sua entrevista. É claro que Osmário também é um coadjuvante de todas essas histórias.

A cultura de um povo se mostra pela diversidade que ele produz. No “Oxente! Essa é a nossa gente” este retrato é revelado. Mesmo as pessoas discriminadas, marginalizadas, que não vivem de acordo com o preestabelecido pela sociedade, estão no livro, e é esta a riqueza maior do volume de 525 páginas, ilustrado pelo artista plástico José Fernandes. Riqueza esta que não está na conta bancária, termômetro usado pelo sul para compendiar pessoas em livros, mas no valor histórico de cada pessoa, indistintamente. Este, talvez, seja o maior mérito do autor.

Além do aparecimento de nomes que aparentemente vivem esquecidos da vida cultural sergipana, “Oxente! Essa é a nossa gente” revela no decorrer da narrativa também mágoas, nomes, vitórias e fatos prosaicos da vida dos enfocados.

Antonio Gonçalves, o popular Feola, “foi jogador, técnico e dono de time de futebol. Uma figura das mais conhecidas da cidade das mais reverenciadas no calçadão da João Pessoa...”, Caio: o engraxate modelo de Aracaju, “com a magia da sua cadeira de engraxar, seu Caio, como é chamado por todos, é o engraxate modelo de Aracaju. São 60 anos de profissão. Seu ponto é na rua Laranjeiras, quase na esquina com a rua Itabaianinha...”. Candelária: uma vida de luta e martírio, “afastada da prostituição há 21 anos, vivendo com seus quatro filhos e criando mais um, que foi abandonado na porta de sua casa, Candelária é hoje uma outra mulher...”; Ciganinha abre o jogo sobre a sua e outras vidas: “Muito já se falou da condição de vida das mulheres que se envolvem ou são envolvidas com a difícil vida fácil...”. E por aí vai, Djalma Borboleta, Cleomar Brandi, Dom Altamiro, Domingo Félix, dona Ana, a lavadeira, dona Carlota, dona Finha, dona Hildete Falcão, padre Enaldo, Erotildes Araújo, Eurico Luiz, Eurípedes, Expedita, a filha de Lampião, Galego, Geraldão, Ginaldo, Herílio Alves, Hilton Lopes, Ilma Fontes, Ildete Nabuco Teixeira, Jácome Góes, J. Inácio, João da Cruz, João de Barros, João do Alho, José Eugênio de Jesus, José Orico, José Ramos, Josias Passos, Juca Beato, Lídio da Cocada, Lisboa, Luiz Adelmo, Manequito, Manoel D’Almeida Filho, Manoel Felizardo, Maria Feliciana, Mário, o bedel do Tobias, Mãe Marizete, Mestre Euclides, Nestor Braz, Orlando Machado, Osório de Matos, Osvaldo Tavares, Padre Pedro, Pinga, Popó, Ribeiro, Rita Peixe, Roberto Tunes, Rubens Chaves, Sapatão, Sargento José Luiz, Seu Álvaro, Seu Jonas, Seu Oscar, Seu Osvaldo, Seu Ribeiro, Silvio Santos, Sobó do Iate, Thenisson Araújo, Tia Rute, Tote Ajeitando, Tonho do Mira, Toni Chocolate, Tuca, Ursino Ramos, Valadão, Wellington Elias, Wilson Silva, Zamor, Zé de Raul, Zé Peixe, Zelito Machado. “Oxente! Essa é a nossa Gente”, o barbeiro de gente famosa, o engraxate mais antigo, o padre caridoso, o bon vivant da década de 60, o Chiquinho Scarpa Roberto Tunes, a lavadeira que hoje mora numa cobertura no Jardins, a mais fervorosa torcedora de futebol, o carnavalesco advogado e o colunista social mais antigo de Sergipe, todos estes são personagens que fazem ou fizeram a nossa história.

Como a vida é uma paixão inútil, no dizer de Sartre, estes radiografados por Osmário Santos têm seus 15 minutos de fama, que na verdade tornam-se atemporais, vítimas ou culpados, alegres ou tristes, donos de matizes únicos que só um espelho multifacetado de um sociedade plural consegue construir e os olhos bem acesos de um Osmário pode, em boa hora, imortalizar.
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Nossa Gente.
Por Gilfrancisco.

Quem é o jornalista? Michel Foucault (1926-1984), o filósofo da loucura universal, em conferência, na Bahia, a 3 de novembro de 1976, definiu assim: “O jornalista é o filósofo do século XX. Cada época tem as forças de filosofia que é capaz de produzir. Na nossa época, a filosofia voltou-se para aquilo que somos, a direção que seguimos e a que não devemos tomar. E isso é jornalismo”.

O jornalista é um semeador de amanhãs, explora terrenos moralmente ambíguos em que se movem os indivíduos sobre os quais escrevem, pela sensação de se poder ser testemunha ocular da história e do tempo. Porque a história ocorre sempre na “rua”, nunca numa redação de jornal. Ou seja, o jornalista planta o instante no chão cotidiano, porque o futuro é a própria história. Osmário Santos é um profissional do amanhã e por isso exige-se muito mais de transpiração do que inspiração.

O recém-lançado livro “Oxente! Essa é a nossa gente”, do colega Osmário Santos, aborda pessoas que fizeram ou fazem cotidianamente a história da cidade de Aracaju. O livro de grandes e memoráveis surpresas trata da “nossa gente”, gente sergipana de nascimento e de adoção, temática por excelência de sua vida harmoniosa, fecunda e intensa.

Osmário Santos é um jornalista memorialista, que tem a capacidade de extrapolar os limites de suas páginas dominicais, com uma espontaneidade, uma naturalidade, uma sagacidade de servir de exemplo aos novos profissionais. Sabe ser fiel à sua verdadeira inclinação, embora nem sempre consiga conter a força diabólica da irreverência.

Jornalista que possui vocação traz consigo uma trajetória de sucesso. Ós, como é carinhosamente chamado pelos colegas de redação e amigos, gosta de falar, de conversar, de provocar debates porque sente a necessidade impiedosa de comunicação oral. Porém emprega a forma escrita para expressar seu pensamento. “Oxente! Essa é a nossa gente” é o segundo volume de uma trilogia (Memórias de Políticos do Século XX em Sergipe, 824 páginas, 2002) do rico acervo das suas entrevistas realizadas nessas duas décadas.

É o que acontece com esse conjunto de retratos aracajuanos – entendidos como “vultos populares” por Marcos Cardoso. Não importa que cada um dos seus 85 retratos ou entrevistas já tenham vindo a público isoladamente, quando foram publicados nas páginas dominicais do JORNAL DA CIDADE. O fato é que ao aparecerem agora reunidas formam um todo. É um livro com suas 525 páginas repletas de curiosidades, ricamente ilustradas pelo renomado artista plástico lagartense José Fernandes, aba assinada pelo diretor de Redação do JORNAL DA CIDADE, Marcos Cardoso, e prefaciado pelo jornalista e escritor Luiz Antonio Barreto e teve patrocínio do Banese, dentro da programação dos seus 40 anos. “Oxente! Essa é a nossa gente” finalmente chega às mãos da comunidade de onde se origina e para onde, de direito, deve voltar, para ensinar a todos nós, profissionais e leitores.

Essa publicação é apenas mais uma conquista na carreira do jornalista Osmário Santos, ou como costuma dizer: “Que a vida é um eterno aprender e desaprender”, e demonstra sua disposição em continuar surpreendendo e emocionando seus leitores. É fruto da sua incansável busca pela simplicidade, algo muito difícil de atingir, segundo ele próprio.

Esses relatos, sem dúvida, compõem uma significativa parcela da história de Sergipe, um trabalho que resgata nossa “memória cultural” e, de certa forma, é uma grande contribuição aos estudos antropológicos da cultura sergipana, onde estão presentes vários tipos humanos: médicos, jornalistas, garçons, políticos, padres, engraxates, empresários, boêmios, radialistas, esportistas, dentre outros.

O livro é um grande caldeirão antropofágico, que suscita um repensar de determinados problemas relativos aos estudos já realizados sobre a historiografia sergipana. “Oxente!...” é mais uma fonte de pesquisa, mais uma referência para estudiosos carentes de informação substanciosas. É leitura obrigatória e pode ser encontrado nas melhores livrarias da cidade.

Para encerrar a conversa, parafraseando o saudoso amigo Jorge Amado, Sergipe são todos aqueles que conduzem pelo mundo afora a flama do humanismo que o marca e o define.
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Ilustres vultos populares.
Por Marcos Cardoso.

O médico humanista, o garçom boa-praça, o engraxate confiável, o padre contestador, o intelectual comunista que virou cristão, o empresário folclórico, a prostituta que era odiada pelas damas e amada pelos esposos destas. O que essas pessoas têm em comum além de comporem a trama de uma mesma sociedade, no caso, de Aracaju? É que todas, por esses desígnios inexplicáveis da vida, meio sem querer, tornaram-se, cada uma no seu ramo de atividade, figuras emblemáticas desta cidade. São vultos populares da sociedade aracajuana na segunda metade do século XX.

Osmário Santos, um dos principais nomes do colunismo de variedades de Sergipe — para não dizer o maior deles —, é jornalista possuidor de um senso de oportunidade rara. Daí saber ampliar seus interesses — com seriedade e ética — a outros campos, como o da mídia eletrônica e ao editorial. Assim, na Internet e nos livros, reverbera a voz que tem no JORNAL DA CIDADE, aonde milita há um par de décadas.

O jornalismo memorialista que produz semanalmente naquele que é o principal jornal diário sergipano cresceu em importância quando publicou, há dois anos, o livro “Memórias de Políticos de Sergipe no Século XX”. Com este “Oxente! Essa é a nossa gente”, reservada aos vultos populares, consolida seu obstinado trabalho de pesquisa.

Obstinada porque, além de perseverante, Osmário é relutante, teimoso e até birrento. Persegue um objetivo e não pára até consegui-lo. Mas não tem veleidades acadêmicas, pois é jornalista acima de tudo, um caçador de novidades — e não um caçador de relíquias. Ele é o Armindo Guaraná do nosso tempo, com a vantagem de que sua obra dispensa o cunho elitista do “Dicionário Bio-Bibliográfico Sergipano”, publicado no início do século passado.

A expressão vultos populares, usada aqui, insinua alguma contradição, porque se vulto designa a pessoa importante, aquele de alguma notabilidade, contrapõe-se ao popular, que é próprio do ou agradável ao povo, que tem as simpatias dele, sem ser vulgar ou ordinário. Mas a combinação do substantivo com o adjetivo dá uma noção mais precisa sobre quem é ou torna-se popular a partir ou apesar da sua importância social. Daí porque preferi classificar os personagens deste livro de vultos populares.

Para ampliar as qualidades que os distinguem, acrescentei outro adjetivo, ilustre, que tanto pode significar célebre, nobre ou esclarecido. E, de alguma forma, todos os que freqüentam este novo livro de Osmário Santos têm algo de nobre sem deixar de ser simpático ao povo, de célebre sem ser ordinário, de esclarecido, sendo ao mesmo tempo agradável.

Texto reproduzido do site: osmario.com.br

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