Presidente da Funcaju, Cássio Murilo
Ana Lúcia
Larissa Carvalho
Graziele Ferreira
Fotos: Edinah Mary
Jovens dialogam, no Ocupe a Praça, sobre o cinquentenário
das manifestações de 1968
“Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de
grandes novidades. O tempo não para. Não para não, não para”. Já dizia o cantor
Cazuza na letra desta canção ‘O Tempo Não Para’, de 1988, que destaca as
contradições da sociedade brasileira que, já livre da ditadura, permanecia
moralista e conservadora. Replicando para ainda muito antes, a década 1968, o
tempo não para mesmo. A música reflete acerca da inevitabilidade da passagem do
tempo e o modo como ela acontece, sublinhando que a história se repete.
Após cinco décadas do 1968, estudantes, sociólogos,
artistas, professores, um público formado, principalmente, por jovens, se
juntam para dialogar a amplitude dos acontecimentos daquele ano no mundo. O
palco para esse rico debate foi o ‘Ocupe a Praça’, projeto promovido pelo
Núcleo de Produção Digital Orlando Vieira (NPD), unidade da Fundação Cultural
Cidade de Aracaju (Funcaju). O evento aconteceu nesta quarta-feira, 05, no
Centro Cultural da capital, localizado na Praça General Valadão.
As manifestações de 1968 ainda influenciam diversos
movimentos militantes que lutam pelas reivindicações feitas desde aquela época.
Então, quais foram as conquistas resultantes desse marco histórico e o que
ainda precisa ser conquistado? O Ocupe a Praça, por meio do quadro ‘Liquidifica
Diálogos’, trouxe essa reflexão sobre questões relacionadas ao cinquentenário
de protestos que ganharam as ruas de Paris e tornaram-se referência para
protestos que repercutem com força e marcam o momento histórico atual no Brasil
e no restante do mundo.
O presidente da Funcaju e professor, Cássio Murilo, foi um
dos mediadores do Liquidifica Diálogos, e ressaltou que é preciso refletir sobre
os acontecimentos de 1968 e as possíveis consequências em relação ao tempo
presente. “Temos mais semelhanças do que diferenças. É um momento de curto
circuito da história. Hoje nós temos um empoderamento das agendas de juventude,
étnico-racial, de gênero e transgênero. Por outro lado, temos uma ascensão
conservadora muito forte e uma dificuldade de diálogo. Esse curto circuito é
sistêmico e esse debate não se esgota aqui”, pontuou.
Para a professora e deputada estadual, Ana Lúcia, a reação
conservadora no Brasil e no mundo faz com que o legado dos protestos de 1968
precise ser revisitado 50 anos depois. “O Ocupe a Praça é uma das ações mais
interessantes enquanto política pública. Ela vem agregando gerações a partir
das temáticas e essa temática que trouxemos de 1968 é de extrema importância. A
gente está buscando a memória dos acontecimentos históricos para entendermos o
que aconteceu no passado e como está influenciando o agora, e daí ter dimensão
do que pode acontecer no futuro”.
Documentário
Para amplificar ainda mais o debate, a programação do ‘Ocupe
a Praça’ trouxe a exibição do documentário ‘Resistência’, dirigido por Eliza
Capai. O filme dá vozes as ocupações, mostrando os movimentos e manifestações
de luta por direitos constitucionais, como igualdade de gênero, educação,
cultura e pela democratização da mídia. “Ele conta a história das ocupações
político-culturais que ocorreram em todo país, após a votação ocorrida na
Câmara dos Deputados, que consagrou o golpe de Estado de 2016”, explicou a
coordenadora do NPD, Graziele Ferreira.
Frequentadora assídua do ‘Ocupe a Praça’, a socióloga
Larissa Carvalho aprovou a escolha do tema, pois conseguiu discutir a expansão
das liberdades, o recrudescimento do conservadorismo e as contradições do tempo
atual. “As histórias acabam se repetindo. O legal deste Ocupe a Praça foi o de
trazer, para um espaço cultural, um público jovem que conhece a década de 68
apenas na história. É fazê-los perceber a ligação entre o passado e o futuro. É
importante estarmos sempre fazendo esse link do que foi a revolução de 1968 e o
que está acontecendo em 2018, não só no Brasil, mas no mundo inteiro”.
O Ocupe a Praça desta semana, intitulado ‘M68/18’, reafirmou
o verdadeiro objetivo do projeto que é o de levar ao público pautas de suma
relevância social, não só no cenário regional, mas também nacional, abrindo
espaço para o fomento de debates. Para além de uma programação rica em
diálogos, o projeto contou também com o show da banda sergipana psicodélica
Plástico Lunar, no palco montado na praça General Valadão, marco zero da
capital.
Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br
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