Publicado originalmente no site ASN, em 08 de Julho de 2015
Bandeira e hino sergipanos revelam curiosidades sobre
estado.
Saiba mais sobre os símbolos que dão identidade ao Estado.
Por Monique Garcez, repórter ASN
Você sabia que a bandeira de Sergipe antes de decretada
símbolo estadual representava uma empresa de exportação açucareira? Sabia
também que o hino sergipano foi questionado e é considerado plágio por alguns
estudiosos? Esses dois grandes símbolos estaduais têm mais história que muita
gente imagina. Em suas essências, ambos contam um pouco da trajetória de
Sergipe no período que data a emancipação política e a comemoração do
centenário do 8 de julho.
Para explicar um pouco a origem desses dois grandes símbolos,
é preciso fazer uma rápida viagem no tempo. Tudo começa em 1820, ano em que Dom
João VI emancipou politicamente Sergipe da Bahia, garantindo para o menor
estado do país a tão desejada independência. Apesar de tudo, segundo conta a
educadora Maria Olga de Andrade, apenas em 1836 os sergipanos resolveram
comemorar a autonomia, e decidiram então que o estado deveria ter um hino.
De acordo com a pesquisadora, a função de providenciar o
hino ficou por conta do Frei José de Santa Cecília, um religioso conhecido por
ser um dos maiores oradores do Brasil e um grande compositor. Devido à correria
da organização da festa em comemoração a emancipação, o frade teve que
providenciar a letra em pouco tempo.
“Na época, Rossini, um grande compositor italiano, estava
muito famoso no mundo inteiro. E o Frei, que conhecia o trabalho dele, teve a
ideia de colocar um trecho de uma música de Rossini no hino sergipano. A partir
daí existem duas considerações a fazer. Não sei se poderia considerar isso como
plágio, pois para que uma música seja considerada plagiada, tem que ter na
mesma linha oito compassos seguidos, no mínimo. E não me parece que esse seja o
caso do hino. A outra consideração é que na época de Rossini não existia lei de
plágio. Então muitas vezes algum autor queria fazer uma homenagem a outro
compositor e utilizava parte da obra dos outros em sua produção. Beethoven fez
isso, Mozart e César Franco também. Ou seja, não foi um caso isolado. É
possível então que o Frei tenha feito isso em homenagem a Rossini”, explicou
Olga a respeito da melodia.
Sobre a letra, a educadora relata que, como não havia uma
pessoa que fizesse as estrofes do hino, acabaram utilizando o conteúdo de um
poema de Manoel Joaquim, publicado naquela época no jornal Noticiador
Sergipense. Já os versos, segundo Maria Olga, refletem a contrariedade da Bahia
com relação à independência de Sergipe. Um exemplo está na parte em que o poeta
diz “Se vier danosa intriga/ nossos lares habitar/ desfeitos os nossos gestos/
tudo em flor há de murchar”, o que demonstra pessimismo. “Não se acreditava na
independência, pois de 1820 até 1836, Sergipe não conseguiu se desvencilhar”,
destacou Olga.
A educadora ainda interpreta que o hino, letrado por Manoel
Joaquim de Oliveira Campos, termina conclamando os sergipanos a fortalecer a
liberdade conquistada e cultivar a paz. “Podemos ver isso na parte em que se
diz ‘Mandemos, porém, ao longe/ essa espécie de rancor/que ainda hoje alguém
conserva/ aos da Província maior’”. Para ela, o símbolo musical de Sergipe termina
sem entusiasmo e demonstra conformação com a situação de conflito pela qual o
estado passava.
A representatividade da bandeira
Ao contrário do hino sergipano, a bandeira não tem origem
conflituosa. Esse símbolo do Estado data do século 19, apesar de ser
oficializada apenas no ano de 1920. De acordo com o historiador Samuel
Albuquerque, a bandeira foi criada para representar a empresa sergipana do
comerciante Bastos Coelho, que tinha frota de embarcações de exportação
açucareira e circulava pelo litoral sergipano. O intuito da bandeira era
identificar os navios da empresa. Porém, os estados vizinhos começaram a
associar o símbolo a Sergipe.
“Usualmente a bandeira passou a se tornar uma identificação
do nosso estado. Isso ganhou tamanha proporção, que o símbolo foi oficializado
pelo governador Pereira Lobo, através da lei estadual nº 795 de 19 de outubro
de 1920, ano em que houve grandes comemorações do centenário de emancipação de
Sergipe”, esclareceu Samuel.
Marcada por listras horizontais em verde e amarelo e um
quadrado azul com cinco estrelas brancas no canto superior esquerdo, a bandeira
sergipana tem vários significados. A parte em verde e amarelo, segundo o
historiador, representa a integração nacional. Já as estrelas estão
relacionadas às cinco barras sergipanas das fozes dos rios São Francisco,
Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris, Piauí e Real. Era através dessas bacias
hidrográficas que o açúcar era escoado, principalmente entre final do século 18
até a década de 20, época em que era a principal atividade financeira do
estado. “Essas cinco fozes representam a pujança e riqueza econômica de
Sergipe”, complementou Samuel.
Apesar da identificação da bandeira e aceitação dela por
parte dos sergipanos, a legitimidade do símbolo foi questionada em algumas
ocasiões, de acordo com Albuquerque. “Por exemplo, em 1951 houve uma mudança da
bandeira do estado. Na ocasião, ao invés das cinco estrelas que ficam no
retângulo superior, passou-se a ter 42, representando a quantidade de
municípios que havia em Sergipe na época. Porém, no ano seguinte, uma nova
determinação reestabelece a bandeira original através pela lei estadual 458 de
3 de dezembro de 1952, durante o governo de Arnaldo Garcez”, explicou.
E a história da bandeira não para por aí. Em Sergipe havia uma
tradição de comemorar a emancipação no dia 24 de outubro, apesar da
independência ter sido decretada em outra data. E foi no exatamente no dia 24
do décimo mês que a bandeira foi hasteada pela primeira vez. O ato ocorreu no
Palácio Olímpio Campos, que continua ostentando a sua frente a bandeira em
verde, amarelo, azul e branco do estado sergipano.
Texto e imagens reproduzidos do site: agencia.se.gov.br
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