quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Anderson Almeida: um orgulho para Itabaiana

Anderson Almeida concorre ao Prêmio Jabuti 
na categoria Biografia (Fotos: Divulgação)

Publicado originalmente no site do Cinform, em 22 de outubro de 2018

Anderson Almeida: um orgulho para Itabaiana

Por Julia Freitas 

Professor universitário é finalista do Prêmio Jabuti

O professor do curso de História da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Anderson da Silva Almeida é motivo de orgulho para a cidade onde foi criado no agreste sergipano. O membro da Academia Itabaianense de Letras, que em 2012 já havia sido premiado pelo Arquivo Nacional pela tese “Todo o leme a bombordo”, agora é um dos finalistas do Prêmio Jabuti – o mais importante prêmio de literatura brasileira – na categoria biografia.

“Conheço inúmeras pesquisas belíssimas que sequer são publicadas e ficam restritas aos ‘muros’ das universidades. Só o fato de publicar já é motivo de comemoração para qualquer pesquisador brasileiro, principalmente para os iniciantes, como eu, embora já com 40 anos. Sobre o Prêmio Jabuti, decidi arriscar sem a anuência da editora. Fiz minha própria inscrição, sendo que o livro foi publicado através de um edital da própria universidade, ou seja, já havia passado por uma seleção. Nesse sentido, sem concorrer por uma grande editora comercial, sabia que seria muito difícil, por isso, ainda estou meio tonto (risos) por figurar entre os finalistas e, sendo bem realista, já cheguei longe demais”, comenta.

Almirante Aragão foi perseguido por suas posições 
ideológicas contra o Golpe de 64

No livro “… Como se fosse um deles – Almirante Aragão: memórias, silêncios e ressentimentos em tempos de Ditadura e Democracia”, Anderson conta a história de Cândido da Costa Aragão. Que ficou conhecido para alguns como “Almirante do Povo”, por ser ligado a Leonel Brizola e ter ficado fiel ao presidente deposto João Goulart, e para outros como o “Almirante Vermelho”, por se relacionar com marinheiros, soldados e cabos “…como se fosse um deles”.

“[O Almirante] Aragão foi apagado da história institucional e da memória da Marinha e do Corpo de Fuzileiros Navais. Na verdade, tentaram apagar, silenciar a trajetória de uma soldado paraibano, de origem pobre, que entrou na Marinha na década de 1920 como um simples soldado e chegou até o posto de Contra-Almirante. Esse silenciamento foi em virtude de suas posições ideológicas contra o Golpe de 1964. A trajetória do soldado Cândido até chegar a Almirante foi marcada por muitos obstáculos, penalidades, expulsão e momentos de elogios e glórias. Não construo o enredo [do livro] a partir da perspectiva de um herói, e sim de um personagem de carne e osso, que tem suas frustrações, erros, acertos, ressentimentos, como qualquer um de nós”, explica o autor.

MOMENTO ATUAL

Anderson lembra que é preciso lembrar que nem “todos os militares são opressores, repressores e insensíveis aos acontecimentos da sociedade”. Segundo ele, muitos militares foram contrários à Ditadura e foram duramente perseguidos e exilados, assim como diversas pessoas da sociedade, incluindo jornalistas. Naquele momento da história brasileira, todos poderiam ser acusados de “subversivos” e sofrer retaliação dos agentes da Ditadura. Por isso, a importância de relembrar figuras como a do Almirante e que, mesmo com os seus defeitos, a Democracia deve ser preservada.

“São generais, almirantes, brigadeiros, sargentos, cabos, soldados, marinheiros… o grupo é enorme. Inclusive, como é o caso do Aragão. Muitos foram presos e foram para o exílio, sofrendo vigilância constante e perseguições durante todo o período ditatorial. Nesse difícil momento por qual passa nossa Democracia, acredito que relembrar figuras como a do Almirante Aragão é um sopro de esperança que os ventos mudam e as tempestades passam, embora deixando, inevitavelmente, traumas, cicatrizes e ressentimentos. Que a Democracia seja um valor perseguido por todos/as nós, mesmo sabendo que ela será sempre imperfeita, como também somos”, afirma.

“FILHO” DE ITABAIANA

Nascido na cidade de Pedro Leopoldo (MG), Anderson Almeida foi criado em Itabaiana após sua família se mudar para a cidade em 1982, quando ele tinha apenas quatro anos de vida. Mas apesar de não ter nascido na cidade do agreste sergipano, ele se diz “ceboleiro com muito orgulho”.

Ex-aluno do Colégio Murilo Braga, Anderson deixou a cidade aos 18 anos para estudar na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco (EAMPE). E os 14 anos servindo à Marinha Brasileira influenciaram não só a vida, mas a escrita de Anderson.

Anderson Almeida durante o lançamento do livro

“Passei a maior parte desse período como músico dos Fuzileiros Navais – pois tinha estudado música seriamente na Banda do Colégio Murilo Braga – e a sonoridade das palavras como também as histórias e memórias ouvidas por mim nas grandes travessias, contribuíram muito para influenciar minha escrita. Histórias como a de João Cândido, o marinheiro negro que liderou a Revolta da Chibata, ou ‘Bom Crioulo’, de Adolpho Caminha, e ainda, ‘Capitães da Areia’, de Jorge Amado, estão entre as minhas preferidas. Há também, na nossa contemporaneidade, o poeta paraibano Aderaldo Luciano e o escritor sergipano Antônio Saracura que, além de amigos, são importantes referências na minha escrita”, lembra.

Para o ex-professor de algumas escolas da cidade do agreste sergipano, o fato dele ser finalista no maior prêmio de literatura do país talvez seja um caso que lembre os jovens que vale a pena sonhar e não desistir de realizar os seus sonhos.

“Se tem algo que me deixa muito feliz nessa história toda é mostrar para os filhos das empregadas domésticas e sacoleiras (que é o caso de minha mãe) que alguém que sempre estudou em escolas públicas, no ensino fundamental e ensino médio, tem o direito de sonhar. Tem que acreditar em você, mesmo que nada aconteça no primeiro momento, continuar insistindo e confiando em seu potencial”, finaliza.

Texto e imagens reproduzidos do site: cinform.com.br

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