Palácio Serigy: uma das grandes obras de Altenesch.
Casas da rua Estância: marca da arquitetura de Altenesch.
Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 12/11/2004
Altenesch e Wladimir Preiss
Por Luíz Antônio Barreto.
Mesmo tendo sido planejada nas pranchetas dos engenheiros
militares, Aracaju não guardou simetria urbana com outras cidades brasileiras,
nem mesmo com Terezina, construída 3 anos antes, em 1852, para ser capital da
Província do Piauí.
Evidentemente, nem Terezina e nem Aracaju, ou mesmo Goiânia,
seguiram à risca os planos iniciais de seus traçados. Aracaju, mais que as
outras, incorporou diversas contribuições técnicas e parece ter a mais eclética
das arquiteturas.
Vários engenheiros, mandados pelo Império ou contratados
pela Província, realizaram obras por décadas seguidas, cumprindo o planejamento
da cidade, notadamente no tocante aos prédios públicos – Palácio do Governo,
Igreja Matriz, Palácio da Assembléia, repartições federais, como os Correios,
os Telégrafos, a Alfândega, o Quartel do 28 BC, estaduais, como o Atheneu, a Biblioteca
Pública, a Recebedoria, o Quartel da Polícia, dentre muitas outras. Parte de
tais construções sofreu modificações radicais e nem deixaram vestígios de seus
modelos arquitetônicos.
As intervenções mais profundas, modificando o Palácio do
Governo, a Catedral, e construindo diversos edifícios públicos – o Mercado
Modelo (Antonio Franco), o Palácio da Intendência, a Penitenciária Modelo, a
Associação Comercial, o Colégio Nossa Senhora de Lourdes, dentre outros,
ocorreram nos governos de Pereira Lobo e Graccho Cardoso. Há, em tal período, a
presença em Aracaju da chamada Missão Italiana, com número razoável de
profissionais, cada um com seu papel, destacando-se Belando Belandi, Oreste
Gatti, Hugo Bozzi, Cercelli, Gentile e outros, conciliados com os serviços de
José Alcides Leite, doublé de armador e de marceneiro refinado.
A Missão Italiana deixou variadas marcas muito visíveis na
paisagem urbana de Aracaju. E deixou, também, pinturas interessantes no
interior do Palácio Olímpio Campos, e na Associação Comercial de Sergipe,
atribuídas a Belandi, e na Catedral, inclusive o teto do altar principal, obra
assinada por Oreste Gatti, que foi também o autor da pintura do teto do altar
da Matriz de Estância. Os Gentile, que passaram a assinar Gentil, continuaram em
Aracaju e criaram um estabelecimento de material de construção, produzindo
mosaico, trotroá, ladrilhos em geral e outros adornos. Gatti viveu em Sergipe
até a década de 40 (do século XX), morando na rua de Japaratuba, em Aracaju.
Na década de 30 – Século XX - Aracaju passou por uma nova
intervenção em sua arquitetura e em sua paisagem. Algumas áreas, como o Parque
Teófilo Dantas, que contou com a arte paisagística de Corinto Mendonça,
inspirado nos jardins de Belém do Pará, foram novamente agenciadas. O prefeito
Godofredo Diniz contratou os serviços de Wladimir Preiss, de São Paulo, para
arborização e jardinagem da capital sergipana, projetando uma ação ordenada em
todo o centro da cidade, e não apenas em lugares determinados. Afamado por
servir na capital paulista, Wladimir Preiss foi recebido entusiasticamente pelo
prefeito, gerando uma expectativa de embelezamento de Aracaju, como nunca havia
sido pensado.
Na mesma época, estava aqui com seu escritório de trabalho à
avenida Rio Branco, 14, o engenheiro alemão H. O. H. Arendt Von Altenesch,
apresentando modelos de bangalôs e de outras casas de estilo europeu que eram o
sonho de consumo dos ricos e da classe média sergipana. Fernando Porto, o
mestre da geografia aracajuana, engenheiro pela Escola de Ouro Preto, fez
severas críticas aos bangalôs de Altenesch, atribuindo um “mau gosto”, que
pareceu contagiar os proprietários.
Altenesch fez enorme sucesso como engenheiro e construtor e
assinou projetos que ainda hoje são marcas ecléticas da arquitetura de Aracaju,
como o prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, na rua de
Itabaianinha, o edifício Serigy, na praça General Valadão, construído no lugar
da Cadeia Pública, a sede da Associação Atlética de Sergipe, a Cidade de
Menores “Getúlio Vargas”, considerada a sua obra prima, além de dezenas de
residências espalhadas pelas ruas de Estância, Pacatuba, Itabaiana, Maruim,
Barão de Maruim, e outras.
Nascido em Haburgo, em 1900, Hermann Otto Wilhelm Arendt Von
Altenesch deixou a Alemanha aos 18 anos, vindo para a América. No início dos
anos 30 estava já em Aracaju, passando aqui uma década de trabalho, colaborando
com o governo constitucional e com a Interventoria de Eronídes de Carvalho, e
sendo identificado como o arquiteto do Estado Novo em Sergipe. Ao falecer, em
Teresópolis, para onde foi em tratamento médico, aos 40 anos, em 20 de junho de
1940, Altenesch foi reverenciado pelos jornalistas do DEIP, como o homem que
mudou a face da cidade com suas casas “modernas”.
O governo, em retribuição aos seus serviços, deu o nome de
Altenesch à rua que levava à praça Getúlio Vargas (inaugurada em homenagem ao
1º aniversário do Estado Novo), e que por causa da II Guerra Mundial, passou a
ser denominada de Duque de Caxias. O nome de Altenesch sumiu de circulação após
a sua morte, mas suas casas continuam chamando a atenção, como intervenções
singulares na paisagem da cidade.
Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
Contato: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.
Foto e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
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