quarta-feira, 24 de julho de 2013

Amaral Cavalcante

Foto reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Antônio Samarone.

Foto: Portal Infonet

Publicado no Blog Luíz A. Barreto/Infonet, em 04/12/2009.

Amaral Cavalcanti
Começava a década de 1970, que por tantos fatos tristes pareceu um nódulo sobre a cultura, tempos de milagres...
Por Luiz Antônio Barreto.

Começava a década de 1970, que por tantos fatos tristes pareceu um nódulo sobre a cultura, tempos de milagres, mas também de torturas, de grandes obras como a Transamazônica, mas também de mortes por motivos ideológicos, quando Amaral Cavalcante publicou (1971) o Instante Amarelo, poesia doce para uma atmosfera amarga de péssimas lembranças. A surpresa apresentada pelo novo poeta, logo acolhida pela crítica mais autorizada, sacudia a literatura sergipana. Desde então, o nome de Amaral Cavalcante jamais deixou de circular nos ambientes intelectuais de Sergipe.

Múltiplo no seu fazer letrado, Amaral Cavalcante responde por uma geração de novos escribas, cada um com seu estilo e sua competência para escrever, que fez da Folha da Praia um alternativo como ele próprio, já incorporado à história da imprensa sergipana. As entrevistas das páginas centrais do jornal, sempre bem costuradas pelo seleto grupo dos entrevistadores – Carlos Cauê, Diógenes Brayner, Luciano Correia, dentre outros - alguns colaboradores e convidados, no traço da escolha das figuras que têm alguma coisa a dizer. As colunas e seus responsáveis dão coesão ao jornal, tornando-o uma folha livre, para fazer um jornalismo autônomo e autêntico, diferenciado do jornalismo “histórico” que desde 1832 tem cara de diário oficial.

No seu livro Instante Amarelo o poeta anota o sentimento de perda do pai, em versos encantadores, como estes:

                  “No mais alto beiral da minha casa
                   plantaste a sombra de uma angústia.

                   Jurei jamais cantar-te o breve instante
                   e a sempre incerteza do teu passo
                   não seria compasso em meus poemas

                   Jurei emudecer como uma árvore
                   que no silêncio tece a sombra e o fruto
                   mesmo depois que lhe podaram os ramos.

                   Estes versos ruidosos
                   irrompem da aridez do meu silêncio
                   como se a flor da angústia soterrada
                   ainda sobre os escombros germinasse
                   com a cor e o perfume do meu grito.

                   Cravada no meu corpo
                   sua ausência pende-me dos ombros
                   e toda juventude do meu passo
                   esmorece ante a solidão da caminhada.”

Amaral Cavalcante faz lembrar Wilson Rio Apa, descendente do sergipano Barão do Rio Apa, líder da juventude no Paraná e principalmente numa praia de Santa Catarina, onde o teatro e a poesia foram servidos como gêneros de primeira necessidade. Entre nós, a praia foi a dos Artistas, na Atalaia, ainda hoje desarrumada de urbanismo, espécie de prima pobre da orla encantadora que fascina as pessoas. Mas nela, Amaral Cavalcante reinou soberano, estimulando talentos, atraindo com seu anzol de crítico, os mais novos que tinham na ponta da caneta bic, ou nas máquinas datilográficas, um texto para enriquecer a pobre literatura dos jornais. A Folha da Praia é uma espécie de Suplemento permanente. E assim foi e assim tem sido.

Agente cultural,  integrou equipes de Governo no município de Aracaju e no Estado de Sergipe e por onde passou deixou uma marca que não pode, por nenhuma hipótese, ser apagada. É certo que a memória vai e volta na cabeça das pessoas, mas o nome e a militância de Amaral Cavalcante não passa, não esmaece, não perde o valor que tem. Suas crônicas, hoje postadas na rede mundial de computadores, em portais sergipanos, atestam a linguagem de um escritor maduro, consciente da sua responsabilidade como condutor de um grande número de seguidores. Amaral Cavalcante é, ainda, um memorialista a seu modo, capaz de cascavilhar no passado não apenas fatos, mas detalhes deles, com os quais elabora textos antológicos.


Candidato a uma vaga na Academia Sergipana de Letras, a que pertenceu a Maria Thetis Nunes, Amaral Cavalcante bate à porta do sodalício, para levar sua contribuição e ser, por todos os méritos, recebido com honras, para que se faça justiça ao seu exemplo de criador, de líder e de militante da causa da cultura. Amaral Cavalcante pertence a um grupo grande de pessoas ocupadas, ao longo da vida, com o fazer cultural, que devem transitar pelas entidades sob os aplausos públicos. Jackson da Silva Lima, Ibarê Dantas, Beatriz Góis, Paulo Fernando teles, Terezinha Oliva, Luiz Alberto Santos, Antonio Carlos Mangueira Viana, Francisco J.C. Dantas, Murilo Mellins, Francisco José Alves, Antonio Samarone, Marcelo Deda, José Paulino da Silva, Maria Neli Santos, Lílian Wanderley, e mais outros que possam ser acrescentados, são nomes que engrandecem qualquer instituição de cultura neste Estado.

Artigo reproduzido do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

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