Foto reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Antônio Samarone.
Foto: Portal Infonet
Publicado no Blog Luíz A. Barreto/Infonet, em 04/12/2009.
Amaral Cavalcanti
Começava a década de 1970, que por tantos fatos tristes
pareceu um nódulo sobre a cultura, tempos de milagres...
Por Luiz Antônio Barreto.
Começava a década de 1970, que por tantos fatos tristes
pareceu um nódulo sobre a cultura, tempos de milagres, mas também de torturas,
de grandes obras como a Transamazônica, mas também de mortes por motivos
ideológicos, quando Amaral Cavalcante publicou (1971) o Instante Amarelo,
poesia doce para uma atmosfera amarga de péssimas lembranças. A surpresa
apresentada pelo novo poeta, logo acolhida pela crítica mais autorizada,
sacudia a literatura sergipana. Desde então, o nome de Amaral Cavalcante jamais
deixou de circular nos ambientes intelectuais de Sergipe.
Múltiplo no seu fazer letrado, Amaral Cavalcante responde
por uma geração de novos escribas, cada um com seu estilo e sua competência
para escrever, que fez da Folha da Praia um alternativo como ele próprio, já
incorporado à história da imprensa sergipana. As entrevistas das páginas
centrais do jornal, sempre bem costuradas pelo seleto grupo dos entrevistadores
– Carlos Cauê, Diógenes Brayner, Luciano Correia, dentre outros - alguns
colaboradores e convidados, no traço da escolha das figuras que têm alguma
coisa a dizer. As colunas e seus responsáveis dão coesão ao jornal, tornando-o
uma folha livre, para fazer um jornalismo autônomo e autêntico, diferenciado do
jornalismo “histórico” que desde 1832 tem cara de diário oficial.
No seu livro Instante Amarelo o poeta anota o sentimento de
perda do pai, em versos encantadores, como estes:
“No
mais alto beiral da minha casa
plantaste a sombra de uma angústia.
Jurei jamais cantar-te o breve instante
e a
sempre incerteza do teu passo
não
seria compasso em meus poemas
Jurei emudecer como uma árvore
que
no silêncio tece a sombra e o fruto
mesmo depois que lhe podaram os ramos.
Estes versos ruidosos
irrompem da aridez do meu silêncio
como se a flor da angústia soterrada
ainda sobre os escombros germinasse
com
a cor e o perfume do meu grito.
Cravada no meu corpo
sua
ausência pende-me dos ombros
e
toda juventude do meu passo
Amaral Cavalcante faz lembrar Wilson Rio Apa, descendente do
sergipano Barão do Rio Apa, líder da juventude no Paraná e principalmente numa
praia de Santa Catarina, onde o teatro e a poesia foram servidos como gêneros
de primeira necessidade. Entre nós, a praia foi a dos Artistas, na Atalaia,
ainda hoje desarrumada de urbanismo, espécie de prima pobre da orla encantadora
que fascina as pessoas. Mas nela, Amaral Cavalcante reinou soberano,
estimulando talentos, atraindo com seu anzol de crítico, os mais novos que
tinham na ponta da caneta bic, ou nas máquinas datilográficas, um texto para
enriquecer a pobre literatura dos jornais. A Folha da Praia é uma espécie de
Suplemento permanente. E assim foi e assim tem sido.
Agente cultural,
integrou equipes de Governo no município de Aracaju e no Estado de
Sergipe e por onde passou deixou uma marca que não pode, por nenhuma hipótese,
ser apagada. É certo que a memória vai e volta na cabeça das pessoas, mas o
nome e a militância de Amaral Cavalcante não passa, não esmaece, não perde o
valor que tem. Suas crônicas, hoje postadas na rede mundial de computadores, em
portais sergipanos, atestam a linguagem de um escritor maduro, consciente da
sua responsabilidade como condutor de um grande número de seguidores. Amaral
Cavalcante é, ainda, um memorialista a seu modo, capaz de cascavilhar no
passado não apenas fatos, mas detalhes deles, com os quais elabora textos
antológicos.
Candidato a uma vaga na Academia Sergipana de Letras, a que
pertenceu a Maria Thetis Nunes, Amaral Cavalcante bate à porta do sodalício,
para levar sua contribuição e ser, por todos os méritos, recebido com honras,
para que se faça justiça ao seu exemplo de criador, de líder e de militante da
causa da cultura. Amaral Cavalcante pertence a um grupo grande de pessoas
ocupadas, ao longo da vida, com o fazer cultural, que devem transitar pelas
entidades sob os aplausos públicos. Jackson da Silva Lima, Ibarê Dantas,
Beatriz Góis, Paulo Fernando teles, Terezinha Oliva, Luiz Alberto Santos,
Antonio Carlos Mangueira Viana, Francisco J.C. Dantas, Murilo Mellins,
Francisco José Alves, Antonio Samarone, Marcelo Deda, José Paulino da Silva,
Maria Neli Santos, Lílian Wanderley, e mais outros que possam ser
acrescentados, são nomes que engrandecem qualquer instituição de cultura neste
Estado.
Artigo reproduzido do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
Artigo reproduzido do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto
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