Foto reproduzida do Facebook/Linha do Tempo/Antônio Samarone.
Jackson da Silva
Lima, um escritor e sua obra
Desde que ingressou no magistério, no Ateneu, ainda nos anos
de 1960, logo depois de bacharelar-se em Direito, na turma de 1963, que Jackson
da Silva Lima, sergipano de Aquidabã, chamou a atenção dos seus alunos,
apresentando-os a Tobias Barreto. Tobias Barreto é mais que um nome, é uma
legenda, daquelas que somente os grandes povos são capazes de produzir. Ele
está na base da formação cultural brasileira, como um poeta de sotaque afinado
com o seu tempo, como crítico apontando caminhos novos, como filósofo pensando
a cultura. Passar de Tobias Barreto para a literatura sergipana, foi um salto
exigente, de pesquisa e de contato com autores e obras que estavam,
desconhecidos, nas páginas dos jornais velhos, mas Jackson da Silva Lima fez a
travessia e tornou-se o maior inventariante da literatura e da cultura de
Sergipe.
Em 1967 reunia e publicava Esparsos e Inéditos de José
Sampaio, rendendo homenagens ao poeta dos humildes, iniciando uma série de
antologias, contemplando vários autores, como Artur Fortes, Fausto Cardoso,
Pedro de Calasans, José Maria Gomes de Souza, José Jorge de Siqueira Filho, sem
perder de vista Tobias Barreto, a quem dedicou o volume de Esparsos &
Inéditos e de quem organizou as duas novas edições de Dias e Noites e o volume
de Estudos de Direito III, das Obras Completas do pensador sergipano,
organizadas em 1989/90. José Sampaio e Santo Souza foram, sempre, duas de suas
preferências, como um gesto inarredável de fidelidade, que representa o senso
crítico apurado, na melhor exegese das obras dos dois poetas.
Pesquisador de campo, gravou milhares de horas de artistas e
de grupos populares, formando um acervo que é o maior de todos no Brasil,
dedicado ao folclore e à cultura popular. Preparou 8 volumes dedicados ao
Folclore, mas só publicou 1, dedicado ao Romanceiro, livro conhecido no mundo
culto, pelo número e variedade das versões colhidas por Jackson da Silva Lima
em Aracaju e no interior. Com seu livro de romances ouvidos em Sergipe, o
pesquisador levou sua terra e sua gente a figurar nos mais seletos estudos
acadêmicos, nos Estados Unidos, na Itália, na Espanha, na França, em Portugal,
no México, na Escócia, em outras partes do mundo.
Jackson da Silva Lima também preparou 8 volumes de uma
monumental História da Literatura Sergipana, publicando apenas 2, um dedicado
ao período colonial, outro estudando o Romantismo. Não será preciso lamentar a
falta de uma editora local, um mercado de arte e de cultura, a ausência de
estímulos, patrocínio, apoio, ajuda que seja, dos poderes públicos. A casa de
Jackson da Silva Lima, duplicada para guardar seus papéis, fotos, fitas,
filmes, e outras coisas mais, está abarrotada. Nos últimos anos ele grava, com
equipamento próprio, que aprendeu a manejar, CDs com as vozes de poetas
sergipanos, violeiros, emboladores de coco, cantadeiras de romances, contadores
de estórias, um imenso repertório que é parte da sua vida de 70 anos,
completados no dia 26 de novembro de 2007. Ultimamente, ele trabalha com
documentos dos séculos XVI, XVII e XVIII, sobre Sergipe e organiza um grande
dicionário de sergipanos, de todos os tempos.
Além de experimentar a linguagem poética, Jackson da Silva
Lima tem livros de ficção, nos quais renova a linguagem literária sergipana. O
Cão na Moita, O Monobelo são exemplares demonstrações do domínio que o autor
tem dos textos, personagens, reinventando a realidade, que é o grande papel da
literatura. Isto não é tudo. No Mecanismo lingüístico das empulhações, Jackson
da Silva Lima revisita uma das linguagens mais comuns do populário, de destreza
mental, vivacidade, duplo sentido, tratando-a com o rigor que a ciência
recomenda aos críticos. E muito mais fez, dando a Sergipe uma eloqüente lição
de cidadania cultural, que o torna credor do justo reconhecimento por parte dos
sergipanos e dos seus representantes, nas diversas esferas do Poder.
Jackson da Silva Lima foi funcionário dos Correios e
Telégrafos, da Justiça Federal, onde exerceu a chefia da Secretaria, aliando as
suas responsabilidades funcionais com o trabalho de pesquisador, historiador e
crítico, o que adorna ainda mais a sua biografia septuagenária. Vive, portanto,
entre nós um dos grandes de Sergipe, inexcedível naquilo que faz, há mais de
quarenta anos, em nome e para a glória da sua terra e do seu povo.
Artigo reproduzido do site: clientes.infonet.com.br/serigysite
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