quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

REGISTRO > Hotel Palace: da glória à interdição

Imagem: Aracaju Antigo

REGISTRO: Artigo publicado no site SE Notícias, em 24/05/2018.

Publicado originalmente no site SE NOTÍCIAS, em 24 de maio de 2018 

Hotel Palace: da glória à interdição

Em 1962, ano de sua inauguração, era considerado o mais moderno e luxuoso de Sergipe. Localizado no Centro de Aracaju, na Praça General Valadão, onde antes funcionava o Quartel do 28º BC. No térreo havia 19 lojas e na parte superior 71 apartamentos de alto padrão, com serviço internacional, piscina, barbearia, restaurante, boate e bar.

O projeto é do engenheiro Rafael Grimaldi. Á época, foi considerado um marco do então governador de Sergipe de Luiz Garcia. Sua construção supriu a necessidade hoteleira da capital Aracaju e durante muitos anos acolheu turistas e personalidades.

A história diz que os ex-presidentes da República Emílio Médici e João Figueiredo, o escritor Jorge Amado, o cantor Roberto Carlos e o apresentador Chacrinha já foram seus hóspedes nos tempos de glória.

 Hotel Palace no período de inauguração.
 Foto: Aracaju Antiga.

Mas hoje, o Hotel Palace não hospeda mais nenhum turista. A parte superior está interditada há anos e a parte inferior virou um ponto de comércio. Após o desabamento de um prédio no Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo, no dia 1° de maio, despertou-se para as condições estruturais do antigo Hotel Palace.

Em 11 de maio, o Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe (TJSE) determinou a interdição do prédio, para que sejam feitas reformas estruturais. O despacho incluiu a ordem para evacuação do prédio desativando todos os comércios até que seja concluída a obra.

A Ação Civil Pública foi ajuizada pelo Ministério Público do Estado de Sergipe ano passado, com pedido liminar para que fossem sanadas irregularidades urbanísticas no Hotel, que, segundo o MPE, “se encontra em estado de abandono, causando riscos à segurança coletiva”. A ação se baseava em recomendações descritas em laudo da Defesa Civil de Aracaju.

Interior do prédio atualmente.
 Foto: Sheila Dias.

O MP pediu que fosse feita uma Avaliação da resistência mecânica do concreto, através de ensaio destrutivo; a recuperação da cobertura do telhado; a revisão das esquadrias; o escoamento de águas superficiais; a retirada das pastilhas de revestimento; o escoramento de vigas e lajes; retirada dos materiais combustíveis do edifício; a recuperação ou reparo estrutural dos pontos de oxidação da armadura. À época foi estabelecida uma multa diária, em caso de descumprimento, no valor de 2 mil reais, a ser revertida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente de Aracaju.

Em 2004, quando uma parte da marquise do prédio desabou, o MP já havia ajuizado uma Ação Civil Pública com vistas a sanar os problemas na estrutura. Nada foi feito.

Desemprego

Segundo a Associação de Ambulantes e Feirantes de Aracaju, 88 pessoas trabalham no local. A Emsurb fala em 63, de acordo com o último cadastramento feito após a determinação do TJ.

A partir do próximo domingo, 27 de maio de 2018, esses comerciantes se juntarão aos 13,7 milhões de brasileiros desempregados nos três primeiros meses do ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O sargento do Corpo de Bombeiros do Estado
de Sergipe entrega a notificação para Tainá. 
Foto: Sheila Dias

A família de Tainá Tany faz parte desse número. “Minha mãe, Maria Deoclécia, trabalha aqui já tem vinte anos. Meu pai é o proprietário e ela fica com a loja. Eu vim há alguns meses pra ficar no lugar dela porque ela tá um pouco adoentada e se afastou. Aqui é a renda da família e nós só temos essa loja. Agora eu não sei como vai ser, porque foi uma coisa do nada, eles não prepararam a gente pra antes. Porque assim, diz que é o risco do prédio desabar, mas a gente não tem uma total certeza. Porque se fosse pelo prédio desabar, já tinham tirado a gente”, lamenta. Eles possuem uma loja de bolsas no térreo do prédio, onde pagam cerca de R$1 mil por mês à Empresa Sergipana de Turismo (Emsetur).

O vendedor ambulante Manoel Messsias Brito Santos também. “Eu tenho cinco filhos, três são pequenos. Pago aluguel daqui há uns 19 a 20 anos. Imagine pra onde eu vou, o que eu vou fazer. Meus clientes já sabem que eu trabalho aqui. Tem gente que vem aqui e quando não me encontra vem no outro dia. É o sustento da minha família. Como a pessoa consegue dormir? Vai fechar, não vai fechar, vai fechar, não vai fechar… ninguém dorme não. Às vezes tem que tomar uma cervejinha pra relaxar a mente e dormir. Eu trabalho com isso a vida toda, entre aqui 7h e saio 7h da noite”, conta.

Desocupação

A partir do próximo domingo, o antigo Hotel Palace não será mais o local de trabalho deles. Eles precisam retirar suas coisas do prédio no sábado. Órgãos estaduais montaram uma operação para garantir que a ordem judicial será cumprida. A partir da meia-noite do domingo, a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) e a Polícia Militar irão fechar os principais acessos ao prédio com portões. Somente trabalhadores e pessoas autorizadas poderão passar.

Uma reunião convocada pelo Tribunal de Contas (TCE) e com a participação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe (CREA), Defesa Civil e Ministério Público Estadual (MPE) decidiu que às 6 horas do domingo terão equipes do Corpo de Bombeiros e do Samu no local. Serão colocados tapumes em torno do prédio.

Alternativa

Os comerciantes foram notificados da decisão no dia 17 de maio, dez dias antes do término do prazo para a interdição total do prédio. Segundo eles, os representantes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros não souberam informar se seria reservado um local provisório.

A assessora de comunicação da Emsurb, Ana Carla, informou que “não existe local disponível no centro da cidade, eles podem verificar com à Emsurb um espaço em alguma praça de bairro. Isso para aqueles cadastrados”. Para isso, os comerciantes devem procurar a diretoria de Espaços Públicos e Abastecimento, no Parque da Sementeira.

O presidente da Associação de Ambulantes e Feirantes de Aracaju, conhecido como André Camelô, também não sabe de nenhum local onde os comerciantes possam ficar durante a interdição. “Naquele caso dos feirantes da Praça João XXIII, eu consegui levar alguns para as feiras livres. Mas aqui não são feirantes, são camelôs e ambulantes. Não tem outro lugar que eles possam ficar, o Mercado [Albano Franco] já tá cheio. Lá tinha 10 bancas, que os feirantes foram pra lá”, explica.

Por Sheila Dias e Egicyane Lisboa

Texto e imagens reproduzidos do site: enoticias.com.br

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