Publicado originalmente no site SE NOTÍCIAS, em 24 de maio de 2018
Hotel Palace: da glória à interdição
Em 1962, ano de sua inauguração, era considerado o mais
moderno e luxuoso de Sergipe. Localizado no Centro de Aracaju, na Praça General
Valadão, onde antes funcionava o Quartel do 28º BC. No térreo havia 19 lojas e
na parte superior 71 apartamentos de alto padrão, com serviço internacional,
piscina, barbearia, restaurante, boate e bar.
O projeto é do engenheiro Rafael Grimaldi. Á época, foi
considerado um marco do então governador de Sergipe de Luiz Garcia. Sua
construção supriu a necessidade hoteleira da capital Aracaju e durante muitos
anos acolheu turistas e personalidades.
A história diz que os ex-presidentes da República Emílio
Médici e João Figueiredo, o escritor Jorge Amado, o cantor Roberto Carlos e o
apresentador Chacrinha já foram seus hóspedes nos tempos de glória.
Hotel Palace no período de inauguração.
Foto: Aracaju
Antiga.
Mas hoje, o Hotel Palace não hospeda mais nenhum turista. A
parte superior está interditada há anos e a parte inferior virou um ponto de
comércio. Após o desabamento de um prédio no Largo do Paissandu, no Centro de
São Paulo, no dia 1° de maio, despertou-se para as condições estruturais do
antigo Hotel Palace.
Em 11 de maio, o Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe
(TJSE) determinou a interdição do prédio, para que sejam feitas reformas
estruturais. O despacho incluiu a ordem para evacuação do prédio desativando
todos os comércios até que seja concluída a obra.
A Ação Civil Pública foi ajuizada pelo Ministério Público do
Estado de Sergipe ano passado, com pedido liminar para que fossem sanadas
irregularidades urbanísticas no Hotel, que, segundo o MPE, “se encontra em
estado de abandono, causando riscos à segurança coletiva”. A ação se baseava em
recomendações descritas em laudo da Defesa Civil de Aracaju.
Interior do prédio atualmente.
Foto: Sheila Dias.
O MP pediu que fosse feita uma Avaliação da resistência
mecânica do concreto, através de ensaio destrutivo; a recuperação da cobertura
do telhado; a revisão das esquadrias; o escoamento de águas superficiais; a
retirada das pastilhas de revestimento; o escoramento de vigas e lajes;
retirada dos materiais combustíveis do edifício; a recuperação ou reparo
estrutural dos pontos de oxidação da armadura. À época foi estabelecida uma
multa diária, em caso de descumprimento, no valor de 2 mil reais, a ser
revertida ao Fundo Municipal do Meio Ambiente de Aracaju.
Em 2004, quando uma parte da marquise do prédio desabou, o
MP já havia ajuizado uma Ação Civil Pública com vistas a sanar os problemas na
estrutura. Nada foi feito.
Desemprego
Segundo a Associação de Ambulantes e Feirantes de Aracaju,
88 pessoas trabalham no local. A Emsurb fala em 63, de acordo com o último
cadastramento feito após a determinação do TJ.
A partir do próximo domingo, 27 de maio de 2018, esses
comerciantes se juntarão aos 13,7 milhões de brasileiros desempregados nos três
primeiros meses do ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE).
O sargento do Corpo de Bombeiros do Estado
de Sergipe
entrega a notificação para Tainá.
Foto: Sheila Dias
A família de Tainá Tany faz parte desse número. “Minha mãe,
Maria Deoclécia, trabalha aqui já tem vinte anos. Meu pai é o proprietário e
ela fica com a loja. Eu vim há alguns meses pra ficar no lugar dela porque ela
tá um pouco adoentada e se afastou. Aqui é a renda da família e nós só temos
essa loja. Agora eu não sei como vai ser, porque foi uma coisa do nada, eles
não prepararam a gente pra antes. Porque assim, diz que é o risco do prédio
desabar, mas a gente não tem uma total certeza. Porque se fosse pelo prédio
desabar, já tinham tirado a gente”, lamenta. Eles possuem uma loja de bolsas no
térreo do prédio, onde pagam cerca de R$1 mil por mês à Empresa Sergipana de
Turismo (Emsetur).
O vendedor ambulante Manoel Messsias Brito Santos também.
“Eu tenho cinco filhos, três são pequenos. Pago aluguel daqui há uns 19 a 20
anos. Imagine pra onde eu vou, o que eu vou fazer. Meus clientes já sabem que
eu trabalho aqui. Tem gente que vem aqui e quando não me encontra vem no outro
dia. É o sustento da minha família. Como a pessoa consegue dormir? Vai fechar,
não vai fechar, vai fechar, não vai fechar… ninguém dorme não. Às vezes tem que
tomar uma cervejinha pra relaxar a mente e dormir. Eu trabalho com isso a vida
toda, entre aqui 7h e saio 7h da noite”, conta.
Desocupação
A partir do próximo domingo, o antigo Hotel Palace não será
mais o local de trabalho deles. Eles precisam retirar suas coisas do prédio no
sábado. Órgãos estaduais montaram uma operação para garantir que a ordem
judicial será cumprida. A partir da meia-noite do domingo, a Superintendência
Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT) e a Polícia Militar irão fechar os
principais acessos ao prédio com portões. Somente trabalhadores e pessoas
autorizadas poderão passar.
Uma reunião convocada pelo Tribunal de Contas (TCE) e com a
participação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Sergipe (CREA),
Defesa Civil e Ministério Público Estadual (MPE) decidiu que às 6 horas do
domingo terão equipes do Corpo de Bombeiros e do Samu no local. Serão colocados
tapumes em torno do prédio.
Alternativa
Os comerciantes foram notificados da decisão no dia 17 de
maio, dez dias antes do término do prazo para a interdição total do prédio.
Segundo eles, os representantes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros não
souberam informar se seria reservado um local provisório.
A assessora de comunicação da Emsurb, Ana Carla, informou
que “não existe local disponível no centro da cidade, eles podem verificar com
à Emsurb um espaço em alguma praça de bairro. Isso para aqueles cadastrados”.
Para isso, os comerciantes devem procurar a diretoria de Espaços Públicos e
Abastecimento, no Parque da Sementeira.
O presidente da Associação de Ambulantes e Feirantes de
Aracaju, conhecido como André Camelô, também não sabe de nenhum local onde os
comerciantes possam ficar durante a interdição. “Naquele caso dos feirantes da
Praça João XXIII, eu consegui levar alguns para as feiras livres. Mas aqui não
são feirantes, são camelôs e ambulantes. Não tem outro lugar que eles possam
ficar, o Mercado [Albano Franco] já tá cheio. Lá tinha 10 bancas, que os
feirantes foram pra lá”, explica.
Por Sheila Dias e Egicyane Lisboa
Texto e imagens reproduzidos do site: enoticias.com.br
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