O cantor Sena elogiou a iniciativa
do evento, que resgata o folclore.
Fotos: Silvio Rocha.
Publicado originalmente no site da PMA, em 22/08/2017.
Palestra ‘Taieiras de Sergipe’ destaca importante movimento
do folclore sergipano
História, tradição e valorização da cultura local. Estes
foram os destaques da palestra ‘Taieiras de Sergipe', proferida Por Beatriz
Góis Dantas na manhã desta terça-feira, 22, no Teatro João Costa, no Centro
Cultural Aracaju. A palestra faz parte da programação do ‘Festival Brincantes',
desenvolvido pela Prefeitura de Aracaju, através da (Funcaju), para comemorar o
Dia do Folclore.
Beatriz Góis Dantas é antropóloga e professora emérita da
Universidade Federal de Sergipe (UFS). Em sua fala, a professora apresentou sua
pesquisa do ano de 1972, que resultou no livro ‘Taieiras de Sergipe: Pesquisa
Exaustiva Sobre uma Dança Tradicional', publicado pela Editora Vozes. Autora de
alguns livros sobre a cultura afrobrasileira, sobretudo a religião, ela conta
que o que a motivou a pesquisar as taieiras foram os questionamentos dos seus alunos.
"Eu dava aula
sobre o folclore nacional e um aluno me questionou sobre as taieiras. Eu achava
que não existia mais, porém ele contou que em Laranjeiras tinha o desfile
anual. Então decidi pesquisar", explica a antropóloga. Ela fala que se
encantou com a dinâmica do grupo. "O que mais me chamou atenção foi a
persistência e dedicação dessas mulheres, principalmente a chefe, hoje já
falecida, Bilina Araujo, com quem tive uma relação muito boa. Além disso,
também tem a forma como realizam esse trânsito entre o afro e o católico",
finaliza.
Louvando a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário, as
taieiras, hoje ainda presentes na cidade de Laranjeiras, agregam grandes
quantidades de símbolos, herdados das irmandades negras formadas ainda durante
o período da escravidão no Brasil. Beatriz falou sobre estes símbolos, como o
cetro usados pelos reis durante as apresentações. "O cetro é apenas um
cabo de vassoura com um buquê de flores em cima. Essas flores simbolizam o
milagre de São Benedito, que era um escravo que trabalhava na cozinha da casa
grande e dava comida escondido pros outros escravos, e só não foi descoberto
uma vez porque transformou a comida em flores".
A taieira é uma dança folclórica de cunho religioso, que
desfila durante a procissão no Dia de Reis, louvando os santos padroeiros
negros São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Durante a procissão, eles
cantam, dançam e tocam instrumentos de percussão. O movimento ainda resiste de
forma bastante expressiva em alguns municípios sergipanos, como Laranjeiras e
São Cristóvão. O de Laranjeiras, principal estudado por Beatriz, hoje é
comandado por Bárbara Cristina dos Santos, neta de dona Bilina. Desde 2013, a
taieira de Laranjeiras é reconhecida como Patrimônio Imaterial Sergipano.
O conhecido cantor Sena, que tem vários trabalhos baseados
em ritmos folclóricos, inclusive o da taieira, acompanhou a palestra e
comemorou a sua realização. "Sou aluno da Escola de Artes Valdice Teles e
estou sempre participando destes eventos que a Funcaju promove. Esse especificamente
é muito valioso para todos nós que trabalhamos com cultura do nosso estado.
Temos uma cultura que o sergipano jovem não conhece e hoje só se ouve o que
passa em rádio e televisão. Esse é um momento ímpar na cultura sergipana com
essa explanação de grupos folclóricos, da nossa raiz. Se não houver trabalhos
como este que está acontecendo, isso cai no esquecimento", disse.
Beatriz Góis Dantas nasceu em Lagarto, é escritora,
antropóloga e professora. Tem vários livros publicados como Vovó Nagô e Papai
Branco (1988) e Rendas e Rendeiras no São Francisco (2007). O Festival
Brincantes segue até a quarta-feira, 23, com outras palestras, apresentações
artísticas e feirinhas.
Texto e imagens reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br
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