quarta-feira, 24 de junho de 2015

Rua São João completa 105 anos de história e tradição

Antônio Freitas, morador mais antigo da rua.

 Festejos na Rua São João.

 Casamento caipira na Rua São João.

Atual espaço da Rua São João.
Créditos fotos antigas: Arquivo pessoal de Antônio Freitas*
Créditos das fotos atuais: Portal Infonet.

Infonet - São João - Notícias - 22/06/2015.

Rua São João completa 105 anos de história e tradição
Morador mais antigo da rua, conta um pouco dos festejos

Rua de areia, algumas casas de taipa e telhado em palha de coqueiro. Foi com esse cenário que surgiram, em meados de 1910, os festejos juninos da Rua São João, no Bairro Santo Antônio, zona norte da capital. Historiadores e antigos moradores relatam que duas irmãs idosas moradoras de um sítio, uma localidade chamada na época de “Matinha dos Caboclos”, que faziam novenas para homenagear os santos do ciclo junino, deram o pontapé inicial para o berço das festas juninas na Rua São João, que em 2015 completaram 105 anos.

“As ruas eram enfeitadas de bandeiras de papel coladas com goma de tapioca e as fogueiras iluminavam as ruas”, recorda Antônio Freitas, 92, que foi morar na Rua São João quando tinha apenas 14 anos de idade. E lá se vão quase 70 anos apreciando as mudanças na famosa rua. “Meus avós moravam aqui, desde os sete anos que eu frequentava a Rua São João. No início lembro que os poucos moradores se uniam e compravam papel manilha para as mulheres fazerem as bandeirinhas durante a noite, sentadas nas calçadas. Logo em seguida nos juntávamos para enfeitar a rua, colando as bandeirinhas em pedaços de cordão com goma de tapioca”.

Antônio Freitas lembra ainda que a comunidade fazia banquetes com comidas típicas que qualquer morador podia saborear, e todos dançavam até o amanhecer do dia com as danças folclóricas. “Era interessante como as pessoas se ajudavam. Uma dava uma coisa, outro dava outra, e cada um contribuía de alguma forma para a realização da festa. No final tínhamos uma mesa repleta de comidas típicas e todo mundo comia. Também tínhamos o sistema de dança, onde dançávamos o Samba de Coco, a Grande Roda... Era uma alegria só até amanhecer o dia”.

Com o objetivo de organizar ainda mais os festejos da Rua São João, foi criada em 1910 a 1ª comissão que coordenava os eventos do local. Ela durou 36 anos, sendo a segunda comissão criada em 1946. Durante esse período, a ornamentação da rua era dividida em dois grupos, onde cada um procurava a perfeição na decoração, formando assim uma competição sadia entre a comunidade. Com o tempo a Rua São João começou a mudar sua cara. As casas de palha passaram a ser de alvenaria, a energia elétrica chegou ao local, e pessoas com melhor poder aquisitivo começaram a povoar a localidade e mudar a cara da festa.

A mudança.

Com o passar dos anos, a comunidade da Rua São João começou a crescer e trazer para o seio da comunidade pessoas que não tinham a tradição junina no sangue, fazendo mudar as características da festa, como lembra Antônio Freitas. Ele diz que sente saudades do tempo em que a festa da Rua São João era uma confraternização da comunidade, e garante que atualmente as coisas não se parecem com a época em que soltava fogos de artifício com seus colegas, correndo pelas ruas de arreia. “Hoje está tudo modificado, e nada lembra aquele tempo. Hoje as pessoas não se confraternizam mais. É cada um na sua casa, é muita violência, falta de respeito e jovens que se preocupam apenas em bagunçar. Na época em que eu organizava as festas ninguém dançava quadrilha com um copo de bebida alcoólica, e hoje é a maior baderna, o que gera muitas brigas e discussões”.

Centenário às escuras.

Mas nem tudo sempre foi alegria na Rua São João. No ano do seu centenário, em 2010, não existiu nenhum tipo de comemoração no local, deixando os moradores com um sentimento de luto e muita tristeza, como recordou, emocionado, Antônio Freitas. “Foi uma tristeza, uma dor sem tamanho. Passamos de 2006 a 2010 sem ter uma festa ou evento aqui em virtude de uma ingerência da comissão organizadora, mas o pior foi a Rua São João completar 100 anos e não termos nem o mastro que é nosso maior símbolo colocado no seu lugar de direito. Nesse ano alguns meninos pegaram um galho de mamona e colocaram no lugar do mastro. Foi de cortar o coração ver esse lugar sem aquela animação dos anos anteriores, e perceber que a Rua de São João tinha morrido nos deixou com um intenso sentimento de luto”.

Atual gestão.

Em fevereiro de 2015, foi empossada a nova diretoria da Rua São João, onde foi eleito presidente José Ronaldo Alves. Ele ficará à frente do cargo até o ano de 2019. O presidente afirma que a gestão atual da comissão de organização de eventos da Rua São João vem desempenhando um trabalho de reestruturação para resgatar a tradição dos festejos juninos da localidade.

De acordo com José Ronaldo, desde o inicio da sua gestão, que em parceria com a Funcaju, foi desenvolvido o projeto “Esquenta Forró”, que durante 10 sábados consecutivos, levou trios-pé-de-serra para a Rua São João, com objetivo de movimentar a cultura e comércio local, já fazendo uma preparação para os festejos juninos. “Nós queremos movimentar a Rua São João durante o ano inteiro, temos um espaço legal, e temos vários projetos para que isso aconteça. Durante o mês de junho vamos ter muito forró e concursos de quadrilhas. Fica aberto o convite para todos que gostam de presenciar o melhor da cultura sergipana”, salientou.

Mesmo com tantas mudanças e evoluções, permanece ainda de forma clara e lúcida na lembrança de Antônio Freitas, morador mais antigo da Rua São João, a recordação de um tempo onde ser feliz era estar junto com familiares e comunidade. Todos se confraternizando com dança, comidas e bebidas até o raiar do dia. Aos 105 anos de existência, a Rua São João mostra que mesmo diante de muita dificuldade vem passando por gerações e tentando carregar as características dos antigos festejos juninos, ainda por muitos anos, não deixando morrer uma tradição secular.

Por Adriana Meneses.

Texto e imagens reproduzidas do site: infonet.com.br/saojoao/2015

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