Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 30/05/2012.
Povoado Alagadiço abriga o Museu do Cangaço.
Segundo Porfírio Neto, semanalmente, dois ônibus com
turistas, pesquisadores e estudantes visitam o local.
JornaldaCidade.Net.
Há muito que a neta de Lampião, Vera Ferreira, luta para que
Sergipe sedie o Museu do Cangaço. Até então, não encontrou nenhum apoio
governamental para implantar seu projeto grandioso. Ainda assim, não desiste da
empreitada e tenta que outro Estado abrace a causa.
Por sua vez, o escritor e membro da Sociedade Brasileira de
Estudos do Cangaço (SBEC), Antônio Porfírio de Matos Neto, não se intimidou com
as negativas do poder público e decidiu criar o Museu e Memorial do Cangaço
localizado no Povoado Alagadiço - município de Frei Paulo - a 78 km de Aracaju, com as próprias expensas.
É bem verdade, que o projeto do funcionário público federal é diferente do que
Vera Ferreira imagina fazer no futuro, a respeito do movimento liderado pelo
seu avô, nos anos de 1920/1930.
No entanto, desde a construção do Museu do Cangaço, há cinco
anos, que a realidade de Alagadiço e do seu entorno mudou significativamente.
Segundo Porfírio Neto, semanalmente, dois ônibus com turistas, pesquisadores e
estudantes visitam o local, a fim de conhecer um pouco mais da história da
região, que foi palco de um confronto entre cangaceiros e civis nascidos no
povoado. Antes disso, Alagadiço era um ponto perdido no mapa sergipano.
“Desde pequeno que ouço essas histórias, sobre os
cangaceiros que foram mortos por conterrâneos meus. Quando cresci, ficava me
perguntando qual o motivo para que o povoado não fosse reconhecido por esse
feito. Então, decidi ir atrás da história, registrar isso em livro e montar um
museu que abrigasse objetos da época, documentos e uma biblioteca bem formatada
de títulos de sergipanos e grandes escritores dos séculos XIX e XX”.
A história que Porfírio se refere, está registrada no seu
livro “Lampião e Zé Baiano no Povoado Alagadiço” (2006), e diz respeito à morte
de Zé Baiano e mais três cangaceiros (Demudado, Chico Peste e Acelino) por seis
civis do povoado frei-paulistano. O grupo que dizimou os cangaceiros, em Lagoa
Nova, no dia 07 de junho de 1936, era liderado por Tonho de Chiquinho e contava
ainda com Pedro Guedes, Pedro de Nica, Birindin, Dedé e Toinho. Depois da
chacina, que culminou com a eliminação do violento Zé Baiano- conhecido por
marcar rostos de mulheres com ferrão de gado- Lampião jurou vingar a morte de
seu subalterno.
“Lampião esteve no povoado em quatro ocasiões para visitar
Zé Baiano. Depois que ele morreu, jurou se vingar, mas não voltou a Alagadiço.
Soube que tinha um canhão na localidade, pronto para atacá-lo e desistiu. De
fato, havia um canhão, mas de porte pequeno. Ele está em exposição no Museu do
Cangaço, assim como parte do arsenal usado pelos cangaceiros e pelos civis
nesse confronto e outros objetos de época”, diz Porfírio.
Além disso, o Museu possui uma rica biblioteca com cerca de
10 mil volumes. O acervo, na quase sua totalidade, foi adquirido pelo próprio
Antônio Porfírio que percorreu bons sebos em São Paulo, atrás de obras raras.
“Obra rara ninguém doa. Tem que ser comprada. Tive a sorte
de encontrar em lojas especializadas em São Paulo, as três coleções de Tobias
Barreto- composta por 10 volumes- editadas por Sílvio Romero, Graccho Cardoso e
José Sarney. Adquiri também o “Grande e Novíssimo Dicionário da Língua
Portuguesa” de Laudelino Freire, a “Concepção Monística do Universo” de Fausto
Cardoso, “Memórias” de Olímpio Rabelo, entre outros. O acervo foi sendo
composto ao longo de 10 anos e hoje, orgulho-me da comunidade de Alagadiço
poder ter acesso a esses títulos e tantos outros de renomados escritores
brasileiros”.
O agitador cultural, que realizou o I Encontro Cultural do
Povoado Alagadiço em julho de 2007, pretende agora alçar voos mais altos:
tornar-se um imortal, na Academia Sergipana de Letras (ASL). Formado em Direito e autor de títulos como
“História de Frei Paulo” (1999), “Esboço Histórico do São Francisco e Seus
Aspectos Ambientais” e finalizando “Os Últimos Dias dos Cangaceiros” (que
promete revelar o envolvimento da classe burguesa com o cangaço), Antônio
Porfírio de Matos Neto pleiteia a cadeira de número 23 da Academia Sergipana de
Letras, que vinha sendo ocupada por Luiz Antônio Barreto, até sua morte, no mês
passado.
“Para mim seria uma honra muito grande ocupar a cadeira que
outrora foi de Luiz Antônio Barreto, a quem tinha muito apreço. Mas preciso
sensibilizar os outros membros da Academia, quando da votação para o ingresso
da mesma”, finalizou Porfírio.
Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
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