Professor Uchôa (Foto: Aragão Studio); Lúcia Marques (Foto:
Ascom/Unit).
Jouberto Uchôa e Lúcia Marques.
Reitor e pesquisadora da Universidade Tiradentes lançam
quinto livro em parceria.
Jouberto Uchôa de Mendonça decidiu comemorar os seus 80 anos
fazendo o que mais ama na vida: contribuir para a valorização da educação em
Sergipe..., o reitor da Universidade Tiradentes e imortal da Academia Sergipana
de Letras lança “Educadores de Sergipe à luz da República (1911-1971): (re)
construindo trajetórias”, livro... lançado pela Editora Universitária
Tiradentes - Edunit. A obra é a sexta de autoria do magnífico, a quinta em
parceria com a professora e pesquisadora Maria Lúcia Marques Cruz e Silva... o
BACANUDO já bateu um papo com os autores. Confira:
BACANUDO – Por que a decisão de falar especificamente sobre
esse período de funcionamento do modelo de educação “grupos escolares” em
Sergipe?
JOUBERTO UCHÔA – Decidimos voltar ao passado para escolher
professores que foram ícones em todos os municípios do Estado, num período de
ouro da educação pública; docentes cuja presença exigia uma postura do aluno e
que tinham suas decisões apoiadas pelas famílias. Ninguém ama o que não
conhece, e se a juventude de hoje não tem acesso a esses valores, não vai
valorizar, principalmente, os professores de hoje.
LÚCIA MARQUES – A pesquisa traz luz a um tempo considerado o
apogeu da escola pública, de uma educação de qualidade para todos,
independentemente de credo, raça ou religião, como defendiam os pioneiros da
educação. Então, já que desde 2002 nós tínhamos o sonho de estudar professores
e este recorte fantástico, instigante, voltamos o olhar para os professores dos
grupos escolares.
BACANUDO – Quais valores daquela época a obra busca
recuperar?
JU – Valores como respeito, ordem, disciplina, dedicação.
Tudo o que o professor representava para os alunos e para a comunidade. Eu
cantava todos os hinos, desde o primário, sabia quem era o presidente, todos os
ministros. Então a gente aprendia a viver na sociedade, mas tudo isso se
perdeu.
LM – Esse livro poderia ter outro título: “Um convite à
reflexão”. Neste momento em que os jovens estão desmotivados a seguir a
carreira do magistério, é preciso resgatar valores morais, sociais, valores da
família, de um tempo em que a escola educava e ensinava. Queremos mostrar que,
apesar das dificuldades da vida de professor, da falta de estrutura, de
recursos pedagógicos, se tinha uma educação que preparava bem o aluno. Isso
porque os professores se doavam, ensinavam com a alma.
BACANUDO – O livro traz a história de 250 educadores. Como
foi o trabalho de pesquisa?
JU – A partir de entrevistas em campo, em cada município
sergipano, nós nos reuníamos para fazer o tratamento das informações coletadas.
Para escolher os nomes, ouvimos educadores que lecionaram nos grupos escolares.
Levantamos histórias de vida belíssimas, ao tempo que retratamos como
funcionava a escola naquela época: o ambiente, a carteira, o quadro negro, a
cópia de lição, o ditado e outras práticas da cultura escolar.
LM – Foi um desafio mergulhar em sete décadas de história
das escolas do interior e da capital com acervos precários, sem bibliotecas,
sem fontes; mas valeu a pena, pois conseguimos trazer uma amostragem que
representa os educadores de todo o estado. Foi difícil construir a biografia de
docentes que não tinham mais familiares ou não estavam mais vivos. A escrita da
pesquisa durou quatro anos.
BACANUDO – Qual era a relação, na época dos grupos
escolares, entre o professor e a comunidade?
JU – O que era importante é que todos os pais faziam questão
de se aproximar dos professores, ir até a escola para cumprimentá-los. Eram
amigos e apoiadores das ações do educador. Todo docente era uma referência na
cidade e estava sempre presente nos acontecimentos sociais.
LM – Havia um padrão de ensino em que o respeito imperava.
Os pais diziam: “Em casa quem manda sou eu, na escola quem manda é a
professora”. O educador era autoridade. O salário era muito menor em relação
aos dias de hoje, mas o professor ensinava por vocação. Infelizmente, houve uma
desvalorização da carreira do magistério, em especial na rede pública. O
professor está sendo desrespeitado nas escolas.
BACANUDO – Diante de
tudo isso, o que representa essa contribuição do livro para a memória da
educação em Sergipe?
JU – Sergipe pouco faz pela valorização cultural do seu
povo. A nossa memória arquitetônica foi destruída, a de seres humanos foi
abandonada, poucas pessoas procuram saber nos dias de hoje a história nos nomes
e valores do passado. Nós nos preocupamos com a preservação da história para
que a juventude possa aproveitar os bons exemplos. Isso me enche a alma, poder
me dedicar a tudo aquilo que possa retratar a memória da minha terra.
LM – Essa contribuição é imediata e a longo prazo. Servirá
de fonte de pesquisa para quem estuda a educação, e eu acredito que, como a educação
é o pilar para todas as formações, este livro será muito consultado,
independentemente de área, mas em especial por aqueles que se debruçam sobre a
historiografia educacional brasileira e sergipana.
Trechos e imagens reproduzidos do site: bacanudo.com
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