domingo, 19 de março de 2017

Aracaju, a menina que completa 162 anos




Fotos: Tíffany Tavares.

Publicado originalmente no site CAU/BR*, em 17 de março de 2017

Aracaju, a menina que completa 162 anos

Um clima mais que especial e bucólico paira durante todo o mês de março em Aracaju. No dia 17 de março, a capital sergipana, completa aniversário. E em 2017, atinge 162 anos de peculiaridades.

A origem do nome Aracaju significa “cajueiro dos papagaios”. A palavra é composta por dois elementos: “ará”, que significa ´papagaio´, e “acayú” , que significa ´fruto do cajueiro´. Esta interpretação tem grande vigência, embora existam outras versões. Então, que tal aprendermos um pouco mais sobre nossa menina dos cajus e papagaios?

Histórico: Uma cidade que já nasceu capital

Logo após o descobrimento do Brasil em 1500, algumas áreas da nova colônia de Portugal encontravam-se em estado de guerra devido às divergências culturais entre índios, negros escravos e os invasores de outros países da Europa. A necessidade de conquistar a faixa territorial que hoje compreende o Estado de Sergipe, e acabar com as brigas entre índios, franceses e negros, que não aceitavam o domínio português, a mudança, era de extrema urgência para o trono.

O local onde hoje se encontra o município de Aracaju era a residência oficial do temível e cruel cacique Serigy, que segundo Clodomir Silva no “Álbum de Sergipe”, de 1922, dominava desde as margens do rio Sergipe até as margens do rio Vaza-Barris. Em 1590, Cristóvão de Barros atacou as tribos do cacique Serigy e de seu irmão Siriri, matando-os e derrotando-os. Assim, no dia 1 de janeiro de 1590, Cristóvão Barros fundou a cidade de São Cristóvão (mais tarde capital da província) junto à foz do Rio Sergipe e define a Capitania de Sergipe.

Como cidade planejada, Aracaju nasceu em 1855, por necessidades econômicas. Uma Assembleia elevou o povoado de Santo Antônio do Aracaju à categoria de Cidade e transferiu para ele a capital da Província. A transferência deu-se por iniciativa do Presidente da Província Inácio Barbosa e do Barão do Maruim Provincial. A pequena São Cristóvão não mais oferecia condições indispensáveis para uma sede administrativa, e a pressão econômica do Vale da Cotinguiba – maior região produtora de açúcar da província – exigia a mudança. A região precisava urgentemente de um porto que escoasse melhor seus produtos.

Somente em 1865 a cidade se firmou. Era o término de uma década de lutas contra o meio físico, e contra uma série de adversidades políticas e sociais. A partir desta data ocorre um novo ciclo de desenvolvimento, que dura até os primeiros e agitados anos após a proclamação da república. Em 1884 surge a primeira fábrica de tecidos, marcando o inicio do desenvolvimento industrial. Em junho de 1886, Aracaju já possuía uma população de 1.484 habitantes, já havia a imprensa oficial, além de algumas linhas de barco para o interior.

Em 1900 inicia-se a pavimentação com pedras regulares e são executadas obras de embelezamento e saneamento. As principais capitais do país sofriam reformas para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes. Aracaju – que já nasceu de vanguarda, acompanhava o movimento nacional e em 1908 é inaugurado o serviço de água encanada, um luxo para a época. Em 1914 é a vez dos esgotos sanitários e no mesmo ano chega a estrada de ferro.

Um Tabuleiro de Xadrez

Aracaju foi uma das primeiras capitais brasileiras a ser planejada. O projeto desafiou a capacidade da Engenharia da época, face à sua localização numa área dominada por pântanos e charcos. O desenho urbano da cidade foi elaborado por uma comissão de engenheiros, tendo como responsável o engenheiro Sebastião Basílio Pirro. Alguns estudos a respeito de Aracaju propagaram a ideia de que o plano da cidade havia sido concebido a partir da implantação dos modelos de vanguarda na época – Washington, Camberra, Chicago, Buenos Aires, etc.

O centro do poder político-administrativo, (atual praça Fausto Cardoso) foi o ponto de partida para o crescimento da cidade. Todas as ruas foram arrumadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, para desembocarem no Rio Sergipe.

Até então, as cidades existentes antes do século XVII, adaptavam-se às respectivas condições topográficas naturais, estabelecendo uma irregularidade no panorama urbano. O engenheiro Pirro contrapôs essa irregularidade e Aracaju, foi no Brasil, um dos primeiros exemplos de tal tendência geométrica.

Bairro Santo Antônio

A aldeia de Santo Antônio de Aracaju era registrada em fontes históricas do século XVII, quando um indígena denominado João Mulato organizou o aldeamento na área que na época pertencia à freguesia de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro do Tomar do Cotinguiba, atual Nossa Senhora do Socorro. A partir do início do século XIX alguns órgãos públicos são transferidos para a colina, o primeiro passo para a mudança da capital que na época era São Cristóvão, fato que aconteceu em 1855.

Avenida João Ribeiro, Santo Antônio, Aracaju-SE

Porém, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a cidade não “desceu o morro” espontaneamente. Provisoriamente foi implantada na colina uma mesa de rendas e a sede provisória até que o projeto da nova capital fosse implantado, isso se deu no ano seguinte com o famoso Quadrado de Sebastião José Basílio Pirro edificando o atual Centro. Dessa forma, o Santo Antônio permaneceu em certo isolamento até o final do século XIX quando é aberta a “Estrada Nova”, atual Avenida João Ribeiro. Na década de 1910 são implantados melhoramentos como a chegada de energia elétrica, serviço de água e esgoto e bondes puxados por burros. A partir da década de 1920 é implementada a linha de bonde elétrico, a famosa ‘’linha 2” cujo sinal era uma luz verde, ligando o Santo Antônio ao Centro e São José. No bairro construiu-se também o primeiro cemitério público da nova capital e a maternidade, ambos denominados de Santa Izabel. Diversos casarões e sobrados foram erguidos na área da colina, próximo à igreja do Santo Antônio, enquanto que as casas mais simples foram construídas na parte baixa.

Com a expansão de Aracaju em direção à zona sul, sobretudo a partir da década de 1960, o Santo Antônio começa a dar sinais de estagnação, passando a ser ocupado por pessoas de baixa renda, exceto nos arredores da colina, onde ainda hoje encontramos sobrados e alguns casarões reformados e modernizados pertencentes a pessoas de alta renda. Outra característica atual do bairro é a alta concentração de idosos, dando um ar bucólico na maior parte de suas ruas.

Por ser uma das áreas mais elevadas de Aracaju, contempla-se por lá, vistas e imagens peculiares jamais vistas em outros locais da capital.

Fonte: CAU/SE.

* Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.

Texto e imagens reproduzidos do site: caubr.gov.br/aracaju

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