Fotos: Tíffany Tavares.
Publicado originalmente no site CAU/BR*, em 17 de março de
2017
Aracaju, a menina que completa 162 anos
Um clima mais que especial e bucólico paira durante todo o
mês de março em Aracaju. No dia 17 de março, a capital sergipana, completa
aniversário. E em 2017, atinge 162 anos de peculiaridades.
A origem do nome Aracaju significa “cajueiro dos papagaios”.
A palavra é composta por dois elementos: “ará”, que significa ´papagaio´, e
“acayú” , que significa ´fruto do cajueiro´. Esta interpretação tem grande
vigência, embora existam outras versões. Então, que tal aprendermos um pouco
mais sobre nossa menina dos cajus e papagaios?
Histórico: Uma cidade que já nasceu capital
Logo após o descobrimento do Brasil em 1500, algumas áreas
da nova colônia de Portugal encontravam-se em estado de guerra devido às
divergências culturais entre índios, negros escravos e os invasores de outros
países da Europa. A necessidade de conquistar a faixa territorial que hoje
compreende o Estado de Sergipe, e acabar com as brigas entre índios, franceses
e negros, que não aceitavam o domínio português, a mudança, era de extrema
urgência para o trono.
O local onde hoje se encontra o município de Aracaju era a
residência oficial do temível e cruel cacique Serigy, que segundo Clodomir
Silva no “Álbum de Sergipe”, de 1922, dominava desde as margens do rio Sergipe
até as margens do rio Vaza-Barris. Em 1590, Cristóvão de Barros atacou as
tribos do cacique Serigy e de seu irmão Siriri, matando-os e derrotando-os.
Assim, no dia 1 de janeiro de 1590, Cristóvão Barros fundou a cidade de São
Cristóvão (mais tarde capital da província) junto à foz do Rio Sergipe e define
a Capitania de Sergipe.
Como cidade planejada, Aracaju nasceu em 1855, por
necessidades econômicas. Uma Assembleia elevou o povoado de Santo Antônio do
Aracaju à categoria de Cidade e transferiu para ele a capital da Província. A
transferência deu-se por iniciativa do Presidente da Província Inácio Barbosa e
do Barão do Maruim Provincial. A pequena São Cristóvão não mais oferecia
condições indispensáveis para uma sede administrativa, e a pressão econômica do
Vale da Cotinguiba – maior região produtora de açúcar da província – exigia a
mudança. A região precisava urgentemente de um porto que escoasse melhor seus
produtos.
Somente em 1865 a cidade se firmou. Era o término de uma
década de lutas contra o meio físico, e contra uma série de adversidades
políticas e sociais. A partir desta data ocorre um novo ciclo de
desenvolvimento, que dura até os primeiros e agitados anos após a proclamação
da república. Em 1884 surge a primeira fábrica de tecidos, marcando o inicio do
desenvolvimento industrial. Em junho de 1886, Aracaju já possuía uma população
de 1.484 habitantes, já havia a imprensa oficial, além de algumas linhas de
barco para o interior.
Em 1900 inicia-se a pavimentação com pedras regulares e são
executadas obras de embelezamento e saneamento. As principais capitais do país
sofriam reformas para a melhoria da qualidade de vida dos habitantes. Aracaju –
que já nasceu de vanguarda, acompanhava o movimento nacional e em 1908 é
inaugurado o serviço de água encanada, um luxo para a época. Em 1914 é a vez
dos esgotos sanitários e no mesmo ano chega a estrada de ferro.
Um Tabuleiro de Xadrez
Aracaju foi uma das primeiras capitais brasileiras a ser
planejada. O projeto desafiou a capacidade da Engenharia da época, face à sua
localização numa área dominada por pântanos e charcos. O desenho urbano da
cidade foi elaborado por uma comissão de engenheiros, tendo como responsável o
engenheiro Sebastião Basílio Pirro. Alguns estudos a respeito de Aracaju
propagaram a ideia de que o plano da cidade havia sido concebido a partir da
implantação dos modelos de vanguarda na época – Washington, Camberra, Chicago,
Buenos Aires, etc.
O centro do poder político-administrativo, (atual praça
Fausto Cardoso) foi o ponto de partida para o crescimento da cidade. Todas as
ruas foram arrumadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, para
desembocarem no Rio Sergipe.
Até então, as cidades existentes antes do século XVII,
adaptavam-se às respectivas condições topográficas naturais, estabelecendo uma
irregularidade no panorama urbano. O engenheiro Pirro contrapôs essa
irregularidade e Aracaju, foi no Brasil, um dos primeiros exemplos de tal
tendência geométrica.
Bairro Santo Antônio
A aldeia de Santo Antônio de Aracaju era registrada em
fontes históricas do século XVII, quando um indígena denominado João Mulato
organizou o aldeamento na área que na época pertencia à freguesia de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro do Tomar do Cotinguiba, atual Nossa Senhora do
Socorro. A partir do início do século XIX alguns órgãos públicos são
transferidos para a colina, o primeiro passo para a mudança da capital que na
época era São Cristóvão, fato que aconteceu em 1855.
Avenida João Ribeiro, Santo Antônio, Aracaju-SE
Porém, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a cidade
não “desceu o morro” espontaneamente. Provisoriamente foi implantada na colina
uma mesa de rendas e a sede provisória até que o projeto da nova capital fosse
implantado, isso se deu no ano seguinte com o famoso Quadrado de Sebastião José
Basílio Pirro edificando o atual Centro. Dessa forma, o Santo Antônio
permaneceu em certo isolamento até o final do século XIX quando é aberta a
“Estrada Nova”, atual Avenida João Ribeiro. Na década de 1910 são implantados
melhoramentos como a chegada de energia elétrica, serviço de água e esgoto e
bondes puxados por burros. A partir da década de 1920 é implementada a linha de
bonde elétrico, a famosa ‘’linha 2” cujo sinal era uma luz verde, ligando o
Santo Antônio ao Centro e São José. No bairro construiu-se também o primeiro
cemitério público da nova capital e a maternidade, ambos denominados de Santa
Izabel. Diversos casarões e sobrados foram erguidos na área da colina, próximo
à igreja do Santo Antônio, enquanto que as casas mais simples foram construídas
na parte baixa.
Com a expansão de Aracaju em direção à zona sul, sobretudo a
partir da década de 1960, o Santo Antônio começa a dar sinais de estagnação,
passando a ser ocupado por pessoas de baixa renda, exceto nos arredores da
colina, onde ainda hoje encontramos sobrados e alguns casarões reformados e
modernizados pertencentes a pessoas de alta renda. Outra característica atual
do bairro é a alta concentração de idosos, dando um ar bucólico na maior parte
de suas ruas.
Por ser uma das áreas mais elevadas de Aracaju, contempla-se
por lá, vistas e imagens peculiares jamais vistas em outros locais da capital.
Fonte: CAU/SE.
* Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil.
Texto e imagens reproduzidos do site: caubr.gov.br/aracaju
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