Foto reproduzida do Portal Infonet.
Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em
07/05/2013.
Um ano de silêncio.
Por Magno Francisco de Jesus Santos *
Na sociedade tida como pós-moderna, o tempo se torna cada
vez mais fugaz, inócuo, líquido que escorre entre os nossos dedos. Na correria
cotidiana, a cada momento temos menos tempo para contemplar as belezas de nossa
cidade, o nosso modo de viver, a simplicidade das coisas e muito menos, as
coisas do nosso passado.
Foi pensando nisso que refleti sobre o vazio que aumentou
nas nossas vidas, especialmente para os amantes do passado sergipano. Há um ano
as páginas de nossos jornais não são mais as mesmas. A cada número percebemos o
vazio que dominou a imprensa sergipana no tocante a sua gente, a seu passado, a
sua cultura, aos seus homens e mulheres. Refiro-me a morte de um homem, mas que
após 12 meses fica evidente que também significou a morte de parte da produção
dos saberes sobre a gente sergipana.
Criticado por alguns, mas devotado por muitos, Luiz Antônio
Barreto se tornou personagem onipresente na imprensa local, com textos que
elucidavam capítulos de nossa história, indo dos chamados “grandes homens”
(quase sempre homens de inteligência), aos segmentos populares. O intelectual
lagartense se tornou um dos grandes responsáveis por inserir a cultura local no
campo de discussões, polemizando, aferindo novos dados, redescobrindo velhos
textos, trazendo à tona temáticas até então tidas como irrelevantes, de
“pesquisadores menores” porque optaram em estudar o povo.
Luis Antônio Barreto conseguia fazer com que os nossos
jornais se tornassem mais sergipanos, apresentando traços de sua gente, de sua
cultura. Com ele, as diferentes facetas sergipanas apareciam na imprensa,
evidenciando a pluralidade social que marca o estado.
Trata-se certamente de um intelectual se lutou pela memória
de homens e mulheres de inteligência na “Terra de Serigy”. Ele se inseriu em um
grupo restrito de defensores da intelectualidade sergipana, entre os quais se
destacaram Sílvio Romero, Epifânio Dória e Maria Thetis Nunes. A cada semana
conhecíamos as aventuras de conterrâneos que desbravaram as inúmeras barreiras
sociais no intuito de mostrar seu talento.
Do mesmo modo que defendeu os “patrícios de intelecto
destacado”, Luiz Antônio Barreto foi propagador da gente simples de Sergipe.
Ainda nos idos dos anos 70 lutava em defesa da cultura popular, sendo um dos
principais nomes na criação e fortalecimento do Encontro Cultural de
Laranjeiras. Na imprensa, provavelmente palco central de sua luta por Sergipe,
ele apresentava capítulos da história de sergipanos excluídos, de movimentos
sociais derrotados, de brincantes do nosso folclore, de pagadores de promessa. Assim,
uma simples santa cruz de beira de estrada passava a ser vista como lugar da
memória do povo sergipano. Personagens anônimos eram transformados em
protagonistas de enredos instigantes. Ele enxergava e fazia com que nós,
leitores de seus textos, vislumbrássemos a história de Sergipe desenrolando-se
nas ruas de nossas cidades, nos arrabaldes da pobreza econômica e do esplendor
cultural.
Faz um ano que perdemos um importante intelectual, que usou
de seu talento em defesa do sentimento que recentemente passamos a chamar de
sergipanidade. Faz um ano que a voz defensora de nossas coisas e de nossa gente
silenciou.
* Doutorando em História pela Universidade Federal
Fluminense.
Texto reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/getempo
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