Publicado originalmente no site da Tribuna Cultural, em
23/09/2013.
Cineasta estanciano, faz uma breve história dos teatros de
Estância.
A história dos nossos teatros começa com o idealismo de
jovens amadores estancianos do século passado, que fundaram um teatro na Praça
7 de Setembro (em frente à Igreja do Amparo).
No teatro “Recreio Dramático”, eram apresentadas peças de
grupos artísticos que por aqui passavam e pelos artistas amadores estancianos,
que sob a direção do professor Hugolino Azevedo, ali representaram dramas de
renome.
Com o desaparecimento deste teatro, Estância ficou privada
de receber a visita de companhias dramáticas, e sua população entrou em regime
de tristeza. Porém, como alternativa de alegrar as noitadas de fim de semana do
estanciano, o ilustrado clínico desta cidade, Dr. Philadelfo Brandão, realizava
no vasto salão do estabelecimento do senhor Philadelfho Costa, sito no bairro
Bomfim, dramas e musicais. Esses festivais eram orientados e dirigidos por JM
Cardoso, Domingos Gordo e Hugolino Azevedo.
Amante das artes, certo intendente da cidade tinha o intuito
de construir um bom teatro. Chegando até a demolir um pardieiro que recebia tal
denominação e permanência numa das praças da cidade. A inesperada morte do
querido prefeito, que afagava tal propósito, pôs fim ao louvável plano. E a
Estância ficou mais uma vez durante certo tempo, privada de teatro.
Felizmente, tal falta foi depois remediada pelo senhor
Manuel Ribeiro Marceneiro, que construiu um prédio ao lado do seu hotel
(estabelecimento que depois se tornaria Hotel Vitória, instalado na Rua Jorge
Amado e hoje não mais existente), e montou um pequeno teatro onde foram
exibidos belíssimos recitais de companhias que nos visitavam e também neste
local histórico, houve a primeira projeção de cinema em 1907.
Com o desaparecimento mais tarde desse teatro, o major
Salustiano Vieira preparou um outro contíguo ao seu estabecimento comercial,
tendo esse também duração de poucos anos.
A cidade de Estância não poderia ficar por muito tempo
privada dessa arte tão nobre. Daí sensibilizando o vigário da paróquia,
Monsenhor Victorino Fontes, que fundou em início da década de 20 no sótão da
“Casa Inglesa” (colossal prédio para época que existia no Largo Pereira Lobo,
onde hoje encontra-se a agência dos Correios), um teatro para diversões sacras.
Ali no decurso de algum tempo, um grupo de moças do nosso meio social
representou com aplausos gerais muitos dramas e comédias.
Da “Casa Inglesa”, Monsenhor Victorino Fontes, constrói no
ano de 1923, na Rua Capitão Salomão, em casa própria o teatro, que logo depois
foi vendido aos senhores João Ribeiro de Menezes e Gervásio de Passos Lima para
transformá-lo no “Cine teatro São João”.
Mais uma vez é o mesmo Monsenhor Victorino Fontes que
retorna à “Casa Inglesa”, para assentar um novo teatro que o batizou com o
majestoso nome de “Isabel a Redentora”, para dar continuação de espetáculo em
harmonia com os princípios religiosos. Inaugurando o mesmo com o drama sacro
“Santa Aquilina Martyr”, em 3 de junho de 1926 e houve uma breve alocução do
poeta Chagas e Silva sobre a Princesa Isabel.
Não podemos esquecer na história dos teatros da nossa terra,
o nome de José Esteves de Carvalho, mais conhecido como “Cazuzinha” (avô do
advogado Dorival Carvalho Costa), que ao lado de Hugolino Azevedo participou
como ator, diretor e autor de peças cômicas e dramáticas. “Cazuzinha”, um
ardoroso amante da arte de Moliére, teve sua fase áurea no final da década de
20 e início da de 30, onde no tablado do “Cine-teatro São João”, pertencente
nessa época no seu genro Diógenes Freire Costa, orientou muitas peças de
sucessos cujo drama “A Escrava Andréa” foi inesquecível para o público
estanciano. Ainda na metade da década de 20, a professora Maria Cândida
Monteiro, do Colégio Camerino, apresentou no palco do “Cine-teatro São João”
espetáculos diversos de variedades com alunos amadores da escola, e também o
eclético clínico Dr. Jessé de Andrade Fontes dirigiu alguns espetáculos
teatrais e musicais encenadas pelas alunas do grupo escolar “Gumersindo Bessa”
no mesmo “São João”.
Na década de 30, o renomado escritor Jorge Amado quando aqui
morou, realizou uma festa de entrada de ano no antigo grupo escolar “Gumersindo
Bessa” com a montagem de “Sonho de Uma Noite de Verão”, e no “Cine-teatro São
João” levou à cena a revista “Papelaria Modelo” e o musical “Alô, alô
Estância”.
Em 19 de novembro de 1938, o Dr. Júlio César Leite, diretor
da Cia. Industrial da Estância (Estância Santa Cruz), inaugura no bairro da
Vila Operária da Santa Cruz, o “Centro Educativo Gonçalo Prado”, cujo local
ficou mais conhecido como “Cassino” para funcionar como teatro, cinema,
biblioteca e outros tipos de passatempos para entretenimento de operariado da
fábrica.
Porém é no dia 6 de dezembro de 1944, que Estância receberia
orgulhosamente das mãos do industrial Dr. Júlio Leite e da Fundação de Educação
e Cultura o novo “Centro Educativo Gonçalo Prado”, elegante e moderno prédio de
linhas arrojadas instalado em outro local arejado e amplo, onde em seu palco
desfilaram as figuras notáveis da arte dramática como: Alma Flora e sua
Companhia de Comédias; Vicente Celestino; Milton Carneiro, Mário Brazzini,
Grande Otelo, Dalva de Oliveira, Cia De Comédias Barreto Júnior, a bailarina de
fama internacional Eros Volusia, não esquecendo os trabalhos de Anota Silveira
e Natália Mesquita de Alencar e seus festivais na Estância. No entanto, o
teatro ficou marcado com o talento da diretora Rosa Prado, que junto aos jovens
amadores da Fábrica Santa Cruz encenaram no tablado do Gonçalo Prado”, peças maravilhosas
na década de 50.
No início de 1970, José Vanderlei da Silva, ao fazer parte
como ator de uma peça teatral associa-se aos amigos Antônio Gramido Teixeira e
Fernando Silva, para criar a “Promoções Silva Shows” e no palco do teatro da
Diocese de Estância, fundado pelo inesquecível bispo Dom José Bezerra Coutinho,
na Rua Capitão Salomão (que depois se transformaria no Cinema Guarany),
apresentou dois espetáculos de grande sucesso – “Festival de Ilusões” e “O
Manjar dos Deuses”.
Na década de 80, na primeira gestão de Carlos Magno,
Estância sediou um Congresso de Teatro Amador, promovido pela Federação de
Teatro Amador de Sergipe (Fetas). Nesta década surgiram os grupos de teatro:
“Embrião”, destacando-se Nadja Piauitinga, Maurício, Marcelo Vieira e a peça
“De Repente Pinta”, com o destaque para Ednaldo Gomes, Joyce Batista, Rita
Maciel e Cláudio de Souza.
Ainda nesta década destacamos a apresentação teatral da
encenação “Paixão de Cristo”, com a participação de vários leigos da paróquia
Nossa Senhora de Guadalupe, tendo como coordenador geral o dinâmico Pe.
Fernando Ávila Soares. Já na segunda gestão do prefeito Valter Cardoso, tendo
como secretária da Cultura, sua filha Sônia Regina e o apoio de Eugênia
Teixeira, então presidente da Fundesc, aconteceu no Barracão Cultural,
localizado no bairro São Jorge, uma importante oficina de teatro, ministrada
pelo ator Luís Carlos Reis, onde foi montada a peça “Os Sete Pecados Capitais”,
que foi apresentada no Encontro Cultural de Estância.
Na década de 90, por iniciativa de Augusto Santos e o apoio
de Ercílio da Amido Glucose, foi realizado no Centro Social Urbano (CSU), uma
oficina de teatro, que teve como instrutor o saudoso ator, teatrólogo, Mariano,
do grupo Imbuaça/Aracaju e participação de vários jovens de Estância.
Os maiores espetáculos neste período foram: “As Criadas”,
esta peça foi apresentada no Auditório da Escola Nossa Senhora de Guadalupe
(SESI), promovida pelo Clube dos Poetas Estancianos, e “Ratos de Esgoto”, que
foi apresentada no Cine Teatro Gonçalo Prado, bairro Santa Cruz, com a
co-produção de Augusto Santos, Salete Nascimento e Cláudio de Souza.
Outro ponto alto dessa década foi o Primeiro Sarau Cultural
do Banco do Brasil, que teve exposição dos trabalhos artísticos dos pintores
Cosme e Damião e da artista plástica, Eunice Assunção e uma amostra de
fotografias dos monumentos históricos de Estância, do fotógrafo Carlos Modesto,
como também ocorreu o lançamento do 3º livro d Crônicas da Vida, do jornalista
e escritor Carlos Tadeu.
Neste Sarau, teve apresentação da mini-peça, intitulada “O
Sereno”, do ex-prefeito Raymundo Silveira Souza, que mostrou como aconteciam os
sarais da época. Esta apresentação foi realizada com alguns atores dos grupos
teatrais “Arte Unida”, “De Repente Pinta” e o “Embrião”.
Esta foi apenas uma ligeira resenha da história dos teatros
da Estância, que um dia representou tão ricamente artes culturais deixadas hoje
sem memória.
Na cidade de Estância deveria existir um arquivo de jornais
numa Casa de Cultura, que mantivesse as coleções desses importantes jornais da
nossa terra. Semanários tão valiosos em notícias históricas, que num piscar de
olhos qualquer estudante ou escritor encontraria neles subsídios para a edição
de livros, que contassem as histórias das nossas fábricas, nosso comércio,
cinemas, teatros, filarmônicas, esporte, São João, etc.
Por Carlos Modesto – Cineasta e fotógrafo/199.
Texto e imagem reproduzidos do site: atribunacultural.com.br
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