Foto: reprodução TCE/SE.
Postado por MTéSERGIPE, para ilustrar artigo.
Publicado originalmente no blog Primeira Mão, em 29/05/2016.
Albano Franco (*)
Há consenso entre os estudiosos da literatura sergipana que,
ao lado de Wagner Ribeiro e Amaral Cavalcanti, Hunald de Alencar se destaca
como um dos três maiores poetas de sua geração. Modernista de densos versos,
sua trajetória de artífice da palavra em busca de uma lírica telúrica e ao
mesmo tempo onírica, foi marcada por voos metafóricos transcendentes, quer
cantando a sua terra ou a mitologia dos deuses, não os do Olimpo, mas aqueles
heróis imortalizados nas estórias em quadrinhos que fizeram a minha alegria de
adolescente e a de milhões em todo o mundo que se deliciavam com a leitura das
aventuras do Superman, o homem de aço, oriundo do Planeta Kripton. Poemas do
Kandor, publicados por Hunald, em 1971, é uma refinada ode sobre a mítica
cidade de Kandor, a capital de Kripton, e de seu heroico filho que foi mandado
à Terra, e que, neste planeta, combateu os fora da lei.
Assim como cantou a onírica Kandor, de Superman, o poeta
Hunald de Alencar, magistralmente, também cantou a sua telúrica Estância natal,
de Nossa Senhora de Guadalupe, a padroeira da cidade: “Senhora de Guadalupe/Era
a lágrima da tarde:/Da janela se avistavam/Duas torres de saudades/...E quando
a noite moldava/Os azulejos sombrios/Senhora de Guadalupe/Recolhia as torres
tristes/Na orfandade do rio.” São versos de seu poema Estancianas do livro
Alvenaria da Água.
Hunald também foi um inspirado letrista de música popular.
Fez belíssimas letras para composições de Sérgio Botto, Alcides Melo, Roberto
Melo e outros músicos sergipanos. “A lua nos ombros do mar/Faz a estrada pra
terra de Iemanjá/Ai se eu pudesse andar/ Em seu cavalo branco, feito de espuma
do mar.” Esta expressiva e bonita estrofe é parte da letra de Canto a Iemanjá
que o poeta fez para a composição musical de Roberto Melo e que logrou a quarta
colocação no Primeiro Concurso Sergipano de Música, patrocinado pelo Diário de
Aracaju, órgão dos Diários Associados. Canto a Iemanjá foi magistralmente
defendida pelo saudoso e consagrado vocalista Antonio Teles.
Artista de múltiplos talentos, ultimamente peça de sua
autoria sobre os derradeiros dias da grande cantora americana de jazz, Billie
Holiday, estava sendo encenada com muito sucesso no Teatro Ateneu.
Tive o privilégio de privar da amizade de Hunald de Alencar
e de membros de sua família. Fomos colegas na Faculdade de Direito. Somos da
turma de 1966. Tive, também, a honra de ter como coordenador geral, durante
quatorze anos, seu irmão e meu amigo, o competente advogado Jessé Cláudio
Fontes de Alencar, que prestou decisiva colaboração enquanto estive na
presidência da Confederação Nacional da Indústria. Da mesma forma, quando
governador do Estado, seu outro irmão, o renomado professor e ex-reitor da UFS,
Clodoaldo de Alencar Filho, foi meu primeiro Secretário de Educação.
No último dia 20 (de maio/2016), sexta-feira, o coração do
poeta silenciou, silenciando para sempre uma das vozes mais originais da lírica
sergipana. Fica a densa obra poética. Essa jamais morrerá.
(*) Ex-governador e Conselheiro da CNI e da FIESP e
membro da Academia Sergipana de Letras.
Texto reproduzido do blog: primeiramao.blog.br
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