quinta-feira, 23 de março de 2017

O patrimônio aracajuano em estátuas: preservação e memória

Imagem reproduzida do site: bdlb.bn.gov.br/acervo
Postada por MTéSERGIPE, para ilustrar artigo.

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 04/10/2011.

O patrimônio aracajuano em estátuas: preservação e memória.

No que tange à memória, trataremos aqui da questão dos monumentos que homenageiam personalidades sergipanas erguidas em forma de estátuas e sua relação com a memória do nosso povo.

JornaldaCidade.Net

(*) Cleciane Silva Santos Soares [clexia.fla@hotmail.com]
Joelma Dias Matias [joelmaa_dias@hotmail.com]
Márcio Souza Ferreira [king_marcio@hotmail.com]

O artigo 216 da Constituição Federal define patrimônio cultural brasileiro como bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação e à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade. No que tange à memória, trataremos aqui da questão dos monumentos que homenageiam personalidades sergipanas erguidas em forma de estátuas e sua relação com a memória do nosso povo.

O significado de patrimônio se estende pela primeira vez para as obras de arte e para os edifícios e monumentos públicos no período imediatamente posterior à Revolução Francesa, quando à população tomada pelo sentimento revolucionário destruía os vestígios do Antigo Regime. Segundo a antropóloga Regina Abreu, o patrimônio nacional é o lugar de memória por excelência, uma vez que não apenas é capaz de expressar e de sediar a memória nacional, mas, sobretudo, de objetificá-la, materializá-la em prédios, edifícios ou monumentos que podem ser olhados, visitados e percorridos.

No que se refere à memória social, o sociólogo Michael Pollak afirma que ela configura-se num campo de permanentes disputas que incidem diretamente sobre a dinâmica entre a lembrança e o esquecimento. Neste sentido, as estátuas que fazem referências aos filhos ilustres de Sergipe e que estão espalhadas em praças e pontos estratégicos da cidade de Aracaju são o objeto central das nossas discussões. Observamos aqui o estado de conservação das estátuas em bronze que homenageiam estas personalidades. Considerando-se ainda a importância dos monumentos para a preservação da memória social, vislumbrando o nível de percepção e conhecimento que os transeuntes aracajuanos possuem acerca dos personagens representados nas estátuas e suas ações. Além da consideração sobre a consciência do público acerca da relevância da preservação destes monumentos para a perpetuação da memória sobre estes “grandes homens” e da sociedade sergipana.

Para isso, aplicamos questionários a 40 pessoas de forma aleatória, divididas em quatro grupos de dez indivíduos que se manifestaram, respectivamente, sobre quatro monumentos que representam personalidades sergipanas, cujos nomes referenciam as praças onde foram instaladas: as estátuas de Fausto Cardoso e Monsenhor Olímpio Campos, no centro de Aracaju, a do Construtor João Alves, situada no bairro Industrial, zona norte da capital, e a de Tobias Barreto, localizada no bairro São José, na região sul.

A primeira estátua analisada foi a que representa o “Construtor João Alves” (pioneiro da construção civil, pai de João Alves Filho, ex-governador de Sergipe). 50% das pessoas abordadas responderam que sabem quem está representado naquele monumento, apenas 10% possuem conhecimento a respeito dos feitos desta personalidade em nosso Estado. Todos os entrevistados consideram o monumento importante para preservação da memória deste personagem e da sociedade sergipana. 80% disseram que a estátua está em bom estado de conservação, o que foi comprovado e observado por este estudo.

A segunda estátua pesquisada foi a de um dos grandes políticos do nosso Estado, Fausto Cardoso (poeta, jurista, pensador, revolucionário, sergipano que soube interpretar as mais íntimas aspirações dos sergipanos, nasceu em Divina Pastora). Sobre ela, 30% das pessoas questionadas responderam que reconhecem o sergipano representado na estátua, outros 30% possuem algum conhecimento a respeito das suas ações, 90% consideram o monumento importante para a preservação da memória deste personagem e da sociedade sergipana e 70% responderam que a estátua está em bom estado de conservação, o que também pudemos comprovar.

Sobre a estátua de Tobias Barreto (Foi um filósofo, poeta, crítico e jurista brasileiro e fervoroso integrante da Escola do Recife - movimento filosófico de grande força calcado no monismo e evolucionismo europeu - Foi o fundador do Condoreirismo Brasileiro e patrono da cadeira 38 da Academia Brasileira de Letras), 50% das pessoas responderam que sabem quem está representado naquele monumento, 30% possuem conhecimento a respeito da sua história, 100% consideram o monumento importante para a preservação da memória desta personalidade e da sociedade sergipana e 90% disseram que a estátua está necessitando de manutenção. Durante a realização desta pesquisa, pudemos perceber que realmente o espaço em torno da estátua de Tobias Barreto encontra-se deteriorado, em péssimo estado e precisando urgentemente de uma restauração.

Por fim, a última estátua a ser pesquisada foi a do Monsenhor Olímpio Campos (jornalista, sacerdote, professor e político brasileiro. Foi presidente do Estado de Sergipe de 1899 a 1902, além de senador de 1903 a 1906 e deputado federal e provincial). 20% das pessoas disseram saber quem foi o sergipano, 20% possuem algum conhecimento a respeito de suas ações, 90% consideram o monumento importante para a preservação da memória desta personalidade e da sociedade sergipana e 70% informaram que a estátua está em bom estado de conservação, também observado pelos entrevistadores.

Através desta pesquisa podemos concluir que o estado de conservação das quatro estátuas é considerado bom pela maioria das pessoas que responderam ao questionário. Além disso, elas entendem que os monumentos são importantes meios para a preservação da memória sobre aqueles personagens e da sociedade sergipana. Porém, um dado que nos chamou atenção refere-se ao pouco conhecimento que se possui acerca da história dos personagens representados naqueles monumentos. A que isso se atribui? Qual será o verdadeiro papel desempenhado pelos monumentos para a preservação da memória social entre os sergipanos? Quais seriam as responsabilidades do governo e das escolas públicas e privadas no sentido de garantir à população, via projetos educacionais, a transmissão do conhecimento e o resgate da memória sobre os grandes sergipanos?

Não cabe aqui nos determos exaustivamente sobre essas questões, porém, é importante destacar que a presença pura e simples destes monumentos nas praças da cidade de Aracaju não é suficiente para suscitar o interesse da população pelo conhecimento do passado sergipano. Para isso, a título de sugestão, é necessário que o governo e as instituições de ensino convertam estes espaços em instrumentos didáticos, desenvolvendo ações educativas, tais como: aulas não formais, com visitações e estudos in loco, que podem possibilitar uma conscientização sobre a importância destes patrimônios para a construção e manutenção da memória histórica entre a nossa população. E assim espera-se que os monumentos em forma de estátuas dos ilustres sergipanos sejam vistos, conhecidos e preservados, não somente para esta, mas para as futuras gerações. O artigo é o início de algo ainda muito maior e mais trabalhado, fará parte do Trabalho de Conclusão de Curso de um dos autores desta pesquisa.

(*) Os autores são acadêmicos do curso de Museologia da Universidade Federal de Sergipe, campus de Laranjeiras. O artigo teve a orientação do professor M.Sc. Fábio Figueirôa, como atividade da disciplina Introdução aos Estudos Acadêmicos. Este texto pode ser acessado no www.museologiaufs.com.br

Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net/artigos-leitura

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