Foto reproduzida do Google. Postada por MTéSERGIPE.
Publicado no blog Viva Sergipe, em 23 de maio de 2009.
Aracaju, quem serão teus guardiões?
Por Karine Santos Rezende*
Em um passeio pela nossa capital pude, com tristeza,
assistir às várias mortes da nossa história. Nosso encontro fora marcado em uma
Praça da Cidade de Aracaju. A praça na qual paramos não era uma pracinha
qualquer... Lá os bancos vibraram ao nos ver, as árvores centenárias balançaram
suas folhas, conduzidas pelo balé da chuva que viera nos saudar, pareciam saber
que os falares baixinhos eram dirigidos a eles, ou melhor... Eles sabiam! Praça
Olímpio Campos, antes Praça da Matriz, por ceder seu espaço a graciosa e divina
igreja da Matriz. O que vemos ali? O silêncio de uma catedral! Bate o sino
pequenino, sino de Belém... Mas os sinos... Ah os sinos, que não são tão
pequenos assim... Cansaram de soar e emitir sua bela voz pendular! Eles não
soam como dantes... O galo não canta mais, perdera seu terreiro. Agora quem
manda é o medo! A prece roga apressada... E todos anseiam em chegar ilesos em
casa. Corinto, engenheiro astuto; poeta e escritor, pensou que na Praça caberia
um Parque: O nosso Teófilo Dantas. Neste Parque eram realizadas as festas
natalinas. Muitos chegavam para a Chegança, o Reisado, e tentavam a sorte nos
jogos de azar escondidos atrás da catedral! Sem falar na Rua do Egito que
encobertava as suas Cleópatras sedutoras! Seguindo... Passeávamos pelo
tabuleiro de Xadrez do engenheiro Sebastião Pirro. Dessa vez, todos fizeram
xeque-mate, mas ninguém se sentiu vitorioso por isso, pelo contrário, a
vergonha se espalhava no olhar daqueles que sentiam a morte do passado glorioso
de Aracaju. A Praça Fausto Cardoso abre alas para os novos foliões passarem.
Agora, já não havia marchinhas, nem confetes, nem namorados, nem a banda do 28º
Batalhão dos caçadores...
Parque Teofilo Dantas.
Às vésperas do dia 28 de Fevereiro a cidade de Aracaju não
dormia tomada pela insônia que inquietava os aracajuanos! Naquele tempo, onde
chovia confetes na Praça Fausto Cardoso, as marchas docemente propagavam o
clima do verdadeiro carnaval. O rei momo carregava no âmago da alma o sorriso e
a simpatia singular de quem trazia consigo a satisfação por ter em mãos a chave
da cidade! Ô quanto riso, quanta alegria! Não só as pessoas se vestiam, mas as
praças, as ruas, vielas e becos não dispensavam ornamentações. Laços, fitas e
máscaras eram penduradas para anunciar a festa que denuncia uma das faces do
Brasil. À tardinha o comércio fechava suas portas para o trabalho e a fadiga.
Abriam-se os corredores da Rua João Pessoa para a euforia e a alegria! A Praça
da Folia sentia que iria logo ser adornada de gente! Salve Salve nosso maior carnavalesco,
compositor e ilustre da boemia sergipana, Hilton Lopes, nosso grande ícone do
Carnaval... Ai que saudade das suas indumentárias flóridas e de ouvi-lo
dizer... ARIBÉ! Com tanta propriedade. Hoje, a folia fora jogada em um pano de
guardar confetes e os novos foliões pisotearam as nossas melódicas
marchinhas!Nosso carnaval não passa de... Prévias!
Fausto Cardoso recebera uma linda homenagem póstuma...
Depois de um final trágico no local, onde hoje é a Praça, seu espírito olha com
tristeza e dor, a solidão e o abandono.Caminhando em direção ao calçadão vemos
aquela que nos remete à Paraíba, mas é que tão sergipana, quanto a Laranjeiras.
Refiro-me à Rua João Pessoa. Não se assustem os que vêm de fora, em Aracaju
tudo é assim. Somos peculiares em tudo, até mesmo em nome de ruas. Temos um
bairro com nome de Continente: é o Nosso Bairro América, ponte que não é elo,
“casa de divertimento” com nome de Vaticano, mitos e estórias que a nossa gente
guarda e que nos torna singulares. Rua do Barão, depois Japaratuba...
Finalmente João Pessoa, era ela a rua musa da capital! Abrigava as lojas, o
Cine Palace e Rio Branco, a sorveteria Primavera, a relojoaria Gonçalves, a
Livraria Regina, o ponto Chic, a Igreja São Salvador e muitos outros
monumentos, que guardam, em suas paredes desgraçadas pelo tempo, a saudade de
uma época que não regressa. A Rua João Pessoa tinha vida própria! As pessoas
faziam-na de casa sem teto... Tal qual o poema de Vinícius de Moraes... “Uma
casa muito engraçada, que não tinha teto, não tinha nada!” Porém, este
logradouro entoava os ecos da experiência. Lá os velhos sentavam-se, trocavam
estórias engraçadas e momentos de nostalgia... Hoje, só nos resta o vazio... O
silêncio! O barulho não diz nada... Soa sem emoção... A minha geração é tão fútil
quanto suas palavras... Ela está enferma e não se dá conta, pois sua doença é
assintomática! Eu me pergunto: Aracaju que serão teus guardiões? Quem lutará
com ímpeto para salvar a sua memória? Não sofra de amnésia, eu te imploro!
Seguimos com olhares atentos e atônitos... Por enquanto,
pistas, pistas e mais pistas... Praça General Valadão, outrora, Praça do
Quartel. Muitos nem sabem da nossa História que dirá dos nossos ilustres
Sergipanos! O General Manuel Prisciliano e Oliveira, nascido em nossa primeira
capital, São Cristóvão, foi combatente viril na Guerra do Paraguai, merecendo
de forma justa, dar nome àquela praça. Era esta região conhecida como rua da
Cadeia, por localizar, até 1926, a casa de detenção de Aracaju. Ali, muitas
histórias ficaram presas e se perderam. Logo mais à frente sentia-se o cheiro
característico das nossas feiras e mafuás. Outrora, a feira ficava dispersa lá
na Rua Aurora... Que Aurora! A Aurora da minha vida, da minha infância querida
que os anos não trazem mais! Assim disse o poeta Casimiro de Abreu, inspiração
que certamente deve ter aprendido com algum sergipano! O pôr-do-sol da rua da
frente não encanta como dantes. Foi-se aquele instante em que assistíamos a
passagem do bonde e ouvia o barulho de meninos brincando, fazendo travessuras,
vivendo a infância pura dos tempos de rodas, piões e cantigas em Aracaju.
Tic-tac! Diz o grande marcador do tempo... O relógio do mercado! Lindo!
Belo!Impetuoso! Pontual! No mercado, encontramos não só mercadorias, mas
pessoas valiosas: feirantes, carregadores, arte! Música! Cordel! O nosso João
Firmino, Zé Antonio, os repentistas, caboclas, mestiças, gente que é a cara da
Aracaju... Na passarela... Flores que perfumam o hálito dos quarteirões.O IBGE
já divulgou: o país está envelhecendo. Sergipe está envelhecendo... Sim! Então,
quem serão os herdeiros da nossa História?
Catedral Matropolitana de Aracaju.
O meu temor consiste em não saber quem serão os novos
guardiões da História da minha Ara... Quem serão os novos Mários Cabrais,
Murillos Mellins, Silvios Romero, Tobias Barreto, Joões Ribeiro, entre outros
memorialistas. Reconhecer, infelizmente, é um verbo desconhecido dos filhos de
Sergipe. Aracaju é “mãe dos outros e madrasta dos seus!” Precisamos criar
consciência da nossa SERGIPANIDADE e valorizar as coisas da nossa gente.
Sergipe é terra de povo ilustre, poetas, juristas, escritores, músicos, grandes
mestres da educação e, enquanto, não tomarmos ciência disto, seremos culpados
de enterrar a nossa própria história. Preocupa-me o fato de não saber que
estórias teremos para contar. A quem iremos chorar nossos contos? A quem iremos
“assustar” com as nossas lendas folclóricas? Aracaju para onde tu vais? E que
passado levarás contigo? Muitos irão... Poucos deixarão rastros, mas tu Ara, espero
que jamais sejas esquecida por aqueles que a veneram!
Cultura Sergipana (Taieiras).
Quanto a mim... Bem.... Só sei que nasci aqui nessa terra e
vou morrer aqui mesmo nela!...
* Professora de historia, graduada pela UNIT.
Texto reproduzido do blog: vivasergipe.blogspot.com.br
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