Foto: acervo Murillo Melins.
Publicado originalmente no site Expressão Sergipana, em
09/02/2016.
Clubes, ruas e cordões, a Aracaju dos carnavais
Por Emilly Firmino
Serpentina, purpurina, confetes, fantasias, o carnaval é
explosão de sorrisos e calores, capaz de unir a diversidade do povo sergipano
desde as antigas batalhas de confete que aconteciam na Praça Fausto Cardoso, na
Atalaia e pelos bailes dos antigos clubes da cidade. Por mais que viesse cheio
de regras e julgado por uma sociedade que afirmava que festa de carnaval era
coisa de quem não vinha de “boa família”, os dias de folia eram responsáveis
muitas vezes por alinhar em um só ritmo as diferenças. Eram também o canto de
resistência para aqueles que quase nunca tinham voz diante das elites locais.
Por volta da década dos anos 40 e 50, o encontro dos blocos
de carnaval ocorria em frente ao Palácio do Governo, na praça Fausto Cardoso,
espaço que por muitos anos ficou conhecido como o palco de festas de Aracaju.
Não muito distante, em frente à praça Olímpio Campos, ficava o Recreio Clube,
onde as elites reproduziam os bailes de mascaras franceses, que foram trazidos
pela família real quando chegaram ao Brasil. “Foi uma festa que os portugueses
trouxeram e com o tempo os negros perceberam que também cabia em suas
tradições, o congo e o samba deram sonoridade à festa”, afirma Osvaldo Ferreira
Neto, estudante de história.
Enquanto os clubes estavam lotados a ponto de não caber mais
gente, desciam pelas ruas do centro blocos como “O palhaço é o que é”,
“Mascarados”, “A muda”. “Inicia a década de 60 e no Cirurgia, próximo à Caixa
d’água, tínhamos um bairro onde moravam as classes mais populares, que tinham
como liderança nomes como Seu Oscar, um dos líderes dentro da comunidade. Junto
com outros moradores, ele plantou a semente do que hoje é o Rasgadinho.
Protestando por não ter acesso aos clubes, eles saíram em um sábado, com roupas
rasgadas e sujos, batendo lata até o centro da cidade”, comenta Osvaldo ao
informar que inicialmente Rasgadinho sofreu uma pressão intensa vinda das
elites e por isso permaneceu inativo por muitos anos, voltando com força apenas
em 2003.
Assim como ocorre hoje com o Rasgadinho e os diversos outros
blocos de rua que tem tomado a cidade, já nas primeiras horas de carnaval as
ruas eram tomadas pelos foliões que vinham dos bairros para assistir e fazer
parte dos shows. Da mesma forma, os salões da Associação Atlética de Aracaju,
do Recreio e do Cotinguiba Sport Club estavam tomados pelas fantasias, e ainda
que alguns clubes tivessem leis que proibiam a entrada de negros e mulheres
solteiras, por exemplo, na prática essas regras eram esquecidas e todos se
misturavam como um povo só.
Em um cenário bastante diferente do que é hoje, mas já
trazendo os abadás, as cordas que separavam os foliões da pipoca e bebendo da
música baiana, o Pré Caju surge em 1992. Durante os 23 anos que esteve na rua o
evento se tornou a maior prévia carnavalesca do Brasil, reunindo ritmos como
axé, pagode, forró, samba, capazes de atrair publico de todo país, assim como
turistas de outros países.
Ainda que os clubes tenham se perdido, o carnaval começou.
Os cordões que separam o povo dos blocos tem diminuído e Ernestos e Maré-marés
vem retomando a alegria dos blocos de bairro. Entre as diferentes formas de
comemorar o feriado, o carnaval tem mensagem única desde 1899, lá quando a
primeira marchinha escrita por Chiquinha Gonzaga: abre alas, que eu quero
passar. Que venham os nossos carnavais, que as ruas se pintem da alegria do
povo.
Texto e imagem reproduzidos do site:
expressaosergipana.wordpress.com
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