Arquivo Público de Sergipe, Praça Fausto Cardoso, em Aracaju/SE.
Foto reproduzida do blog santohufs.blogspot.com.br
Postada por MTéSERGIPE, a fim de ilustrar o presente artigo.
Publicado originalmente no blog Primeira Mão, em 21/08/2016.
Onde estão as fontes para a história de Sergipe?
Por Dr. Francisco José Alves
“A história se faz com documentos”, sentenciou o historiador
Henri Marrou (1904-1977). De fato, o pesquisador do passado, no ofício, não
pode prescindir deles. O conhecimento historiográfico tem como condição
incontornável, o acesso às chamadas fontes, documentos da época que se quer
estudar, as fontes coevas.
Os documentos, de que fala Marrou, são diversos. No limite,
tudo pode ser usado como fonte. A única condição é a contemporaneidade. Isto é,
o material deve proceder da época que se quer estudar, deve ser contemporâneo à
era a ser investigada.
A historiografia sobre Sergipe, como qualquer outra, não
escapa à imperativa necessidade de fontes. Neste sentido, talvez seja útil ao
iniciante saber onde estão guardadas as fontes mais convencionais para
fundamentar pesquisas sobre o nosso passado.
Consideremos os acervos de nosso Estado começando pela
Capital.
O Arquivo Público de Sergipe (APS) é sem dúvida depositário
de muitas fontes históricas. Abriga documentação manuscrita relativa à
administração de Sergipe até a primeira metade do século XX. Guarda ainda
jornais sergipanos do século XIX e XX, bem como uma coleção de mapas e cartas
do século XIX e XX.
Qualquer um que se interesse pelo passado de Sergipe na
República e no Império, não pode deixar de consultar o material guardado no
APES.
Outro acervo precioso para a história de Sergipe, localizado
em Aracaju, é o Arquivo Judiciário. A instituição reúne documentos que vão da
colônia até os dias atuais. A documentação é cível ou criminal. Assim, o
pesquisador vai encontrar nele milhares de processos criminais e registros
cartorários relativos à compra, venda, etc. Vale lembrar que este arquivo
conserva não somente documentos da Comarca de Aracaju, mas de todo Estado.
O interessado na história social não pode deixar de visitar
e consultar o riquíssimo filão documental abrigado no Arquivo Judiciário. Pelas
suas instalações e acervo, é o mais rico de Sergipe.
Ainda em Aracaju, um outro repositório de Clio, é o
Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE). A instituição reúne fontes
diversas: impressos, manuscritos, peças tridimensionais.
Na coleção do Instituto se destaca a hemeroteca formada de
jornais dos séculos XIX e XX. Outro destaque é a coleção de pinturas que
retratam figurões do passado. Dentre os manuscritos, ganha relevo os documentos
reunidos por intelectuais sergipanos e doados por parentes à instituição.
Também merece menção a coleção de livros sobre Sergipe e de autores sergipanos
reunidos na Casa de Sergipe.
Ainda em Aracaju, o pesquisador não pode deixar de visitar a
Biblioteca Pública Epifânio Dórea (BPED). A instituição remonta ao século XIX e
reúne sobretudo rico acervo impresso, abrigado na Sala de Documentação
Sergipana que agrega obras de autores de Sergipe, ou obras sobre Sergipe. Outro
filão importante é formado pela bibliografia de autores de Sergipe como Silvio
Romero e Gumercindo Bessa.
Apesar do estado precário de suas instalações, a Biblioteca
Epifânio Dórea é estação obrigatória na cata de fontes para a história de
Sergipe.
Bem próximo de Aracaju, o pesquisador encontrará mais dois
acervos expressivos para se escrever a história de nosso Estado. Falo dos dois
museus de São Cristóvão: O Museu Histórico e o Museu de Artes Sacras.
O acervo do Museu Histórico é formado de mobiliário,
pinturas, utensílios, armas e etc. As peças, em sua maioria, provêm do século
XIX. A instalação é confortável e o acesso fácil. Falta, todavia, um inventário
do acervo.
O Museu de Arte Sacra de São Cristóvão é considerado pelos
peritos como um dos mais ricos do Brasil. Ele abriga peças da imaginária
religiosa, vestes litúrgicas e mobiliário sacro. As peças expostas datam dos
séculos XVIII, XIX e XX. No campo da imaginária se destacam as esculturas de
Nossa Senhora. Tais peças procedem de oratórios e capelas de fazendas
sergipanas, e também das igrejas das velhas paróquias de Sergipe.
O estudioso da religiosidade e arte sacra local tem neste
museu um acervo para ser perscrutado com proveito.
Rumando para o Sertão, o pesquisador irá encontrar em Canindé
do São Francisco, o Museu Arqueológico do Xingó (MAX). O museu, mantido pela
UFS, guarda centenas de peças. São vestígios humanos como esqueletos, ou restos
deles. O acervo contém ainda peças de cerâmica e material lítico.
As peças guardadas no Museu do Xingó podem subsidiar
pesquisas sobre as sociedades pré-históricas do Baixo São Francisco há milhares
de anos atrás. O museu abriga o mais significativo conjunto de dados para se
escrever um capítulo da nossa pré-história.
Nos municípios, além dos Acervos mencionados, o pesquisador
não pode deixar de compulsar a documentação reunida em três instituições:
Prefeituras, Câmaras Municipais e Paróquias.
Nas prefeituras, ele encontrará os testemunhos relativos à
administração do município. Nas câmaras municipais, a legislação e os preciosos
livros de atas das seções da câmara. Já no arquivo das paróquias, o buscador,
encontrará livros de batizados, casamentos e óbitos. Neles, irá encontrar uma
mina preciosa para a história social e religiosa dos municípios: os livros de
tombo.
Fora de Sergipe, Salvador - BA é a estação obrigatória na
peregrinação do buscador das fontes para a história de Sergipe.
O Arquivo Público da Bahia (APEB) guarda centenas de
documentos fiéis para a história de Sergipe Colonial. Falo, sobretudo, das
correspondências entre os gestores da Capitania de Sergipe e os dirigentes da
colônia, sediada na Bahia. A correspondência ativa dos governantes da capitania
são peças chaves para a reconstituição da vida administrativa e social de Sergipe
Colonial. Infelizmente, ainda não temos um inventário exaustivo dos documentos
do APEB uteis para se embasar a história de Sergipe nos primeiros séculos de
colonização.
Ainda em Salvador, o caçador das fontes para nossa história,
não poderá deixar de compulsar os documentos sobre a guarda da Cúria
Arquidiocesana da Bahia. A instituição reúne testemunhos relativos às paróquias
sergipanas desde a era colonial até 1912, quando é criada a diocese de Aracaju.
Também neste caso, falta-nos um inventário sobre a
documentação sergipana conservada naquela instituição.
* Professor do Departamento de História da UFS.
[fjalves@infonet.com.br]
Texto reproduzidos do blog: primeiramao.blog.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário