Foto reproduzida do site: imprensa1.com
Postada por MTéSERGIPE, para ilustração da resenha.
Publicado originalmente no blog José Anderson Academia de
Letras, em 26 de dezembro de 2014.
Vida, Sonhos e Lutas.
Por José Anderson Nascimento.
Vida, sonhos e lutas é um ensaio de história política de
Sergipe, de autoria do escritor Tertuliano Azevedo, com 151 páginas e sob os
selos da Editora J. Andrade e do Instituto Banese.
Tertuliano, advogado, político e conselheiro da Corte de
Contas do Estado, marcou, com letras lapidares, a sua trajetória de vida na
advocacia, na política e nos seus magistrais votos pronunciados no colegiado
responsável pelo controle da Administração Pública, sempre combatendo a
corrupção e os desmandos dos gestores públicos.
Na abertura do seu livro, o autor reúne uma variedade de
depoimentos colhidos de colegas e de personalidades da vida política sergipana
de todos os matizes partidários, com quem ele partilhou o seu trabalho e as
suas experiências profissionais, na incessante busca do bem estar social,
valendo destacar os pronunciamentos de Carlos Pina de Assis, Presidente do
Tribunal de Contas do Estado de Sergipe; de Benedito Figueiredo, Secretário da
Justiça e da Cidadania; de Antonio Carlos Valadares, Senador; de Reinaldo
Moura, Conselheiro; de João Augusto Gama da Silva, Secretário de Estado do
Planejamento, Orçamento e Gestão; de Manoel Pacheco, economista e professor da
Universidade Federal de Sergipe; do saudoso governador Marcelo Deda; de Eduardo
Amorim, Senador; de João Alves Filho, Prefeito de Aracaju; de Albano Franco,
líder político e agente cultural e de José Carlos Machado, Vice-prefeito de
Aracaju. Todos, à unanimidade, ressaltaram os valores de Tertuliano Azevedo,
desde a sua militância na política estudantil até a sua postura de magistrado.
No prefácio do livro Tertuliano: vida, sonhos e lutas, a sua
filha Sônia Maria Azevedo Prudente destaca a obra literária e o seu autor,
principalmente. Nas suas apreciações, ela mostra um Tertuliano ativo e
participante dos principais episódios da vida política brasileira e os seus
reflexos em Sergipe. Além disso, destaca a sua sensibilidade às causas das
desigualdades sociais, fazendo-o um defensor de “uma sociedade mais justa e
digna de se viver”. Narra, ainda, os seus valores como líder estudantil, sempre
na defesa dos princípios éticos, centrados na defesa dos interesses nacionais,
levando a sua voz tanto em comícios relâmpagos, ainda na adolescência e na
juventude, assim como nos seminários políticos e na Câmara dos Deputados,
representando o povo sergipano, naquela casa congressual. Refere-se, também, à
postura do Tertuliano como um pai de família afável, polido e amante da sua
prole, cujo caráter serve de exemplo para os seus entes queridos e para a
sociedade.
O autor introduz o leitor descrevendo as suas vivencias
desde Neopolis, o seu torrão natal, com incursões nas prosperas cidades de
Penedo, em Alagoas, e Propriá, pelo lado sergipano, ambas banhadas e
acalentadas pelas águas do Rio São Francisco. Para ele, a cidade de Propriá
apresentava uma maior concentração de recursos econômicos devido à industria
têxtil e ao comercio, que atendia aos ribeirinhos, tanto os do lado sergipano,
como os do lado alagoano, inclusive de Penedo, cuja população acorria à feira
de Propriá, que se realizava nas sextas-feiras e no sábado. Além de Penedo e
Propriá, que despontavam como pólos econômicos, Tertuliano conta no seu livro
de memórias que em Neopólis havia também, um pequeno parque industrial têxtil,
representado pela Fábrica de Tecidos Peixoto Gonçalves e Cia, localizada na
Passagem, pertencente ao empresário português Manoel Gonçalves e sucedido por
José da Silva Peixoto e a Fábrica de Tecidos Têxtil, um consorcio de
empresários alagoanos e paulistas, que cerrou as suas portas devido a
divergências entre os seus sócios. Nota-se, ainda, uma concentração de renda
representada pela industrialização e beneficiamento do algodão e do arroz,
culturas que dominavam o Baixo São Francisco.
Nas páginas do seu ensaio memorialista e autobiográfico,
Tertuliano Azevedo traz a lume a árvore genealógica da sua família e os seus
laços de parentesco com o professor estanciano Bricio Maurício de Azevedo
Cardoso (1844-1924), patrono da Cadeira nº 36, da Academia Sergipana de Letras
e pai de Maurício Graccho Cardoso, deputado, senador e governador de Sergipe e
do também, acadêmico e jurista Hunald Santaflor Cardoso, fundador da referida
cadeira, no Sodalício sergipano.
O ensaio Tertuliano: vida, sonhos e lutas reflete
representações de antropologia cultural, com o inter-relacionamento humano
entre o passado e o presente. Nele, autor focaliza a sua formação educacional
em Aracaju, no Colégio Tobias Barreto, no tempo do Professor José de Alencar
Cardoso, mais conhecido como professor Zezinho Cardoso, um dos ícones da
educação em Sergipe. Na linha do seu pensamento, Tertuliano faz abordagens ao
seu engajamento nas instituições políticas estudantis do Colégio Atheneu
Sergipense, concentrando-se na defesa das instituições nacionais e abraçando a
“Campanha o Petróleo é Nosso”, que resultou vitoriosa, com a criação da
Petrobras. Ainda como estudante, fundou a Ala Estudantil da Esquerda
Democrática, que se transformou depois no Partido Socialista Brasileiro (PSB),
liderado em Sergipe pelo jornalista Orlando Dantas. Além dessa página,
Tertuliano volta o seu olhar para a cidade de Aracaju, destacando a sua
população, inclusive todos os excluídos da sociedade. Mostra a sociabilidade
das ruas aracajuanas, o seu casario, os bairros e até, um relato sobre a
Feirinha de Natal, no Parque Teófilo Dantas, com o romantismo dos anos de 1950.
Na advocacia, Tertuliano Azevedo, abraçou o segmento do
Direito Trabalhista, sempre defendendo os empregados e os sindicatos de
trabalhadores, o que lhe conferiu uma liderança nesse segmento social. Nas
referencias a sua militância política na esquerda, o autor do ensaio,
Tertuliano: vida, sonhos e lutas, enfatiza os movimentos para construção da
candidatura de João de Seixas Dória ao cargo de governador de Sergipe, em 1962,
até à sua deposição, em 1º de abril de 1964, por representantes do Movimento
Militar, em Sergipe. Ele relata, com minudencias, a sua prisão de natureza
política, no início do mês de abril daquele ano, como, também, outras prisões
de militantes da esquerda em Sergipe, a exemplo da que sofreu ilegalmente, o
professor Ariosvaldo Figueiredo, o advogado José Rosa de Oliveira Neto, o
prefeito de Propriá Geraldo Maia e o seu irmão, o deputado Cleto Maia; foram
presos, também, os deputados Viana de Assis e Nivaldo Santos, estudantes,
professores, lideres trabalhistas, magistrados e servidores públicos, todos
acusados de subversão à ordem pública, que só foram libertados por força de
habeas corpus e de outras medidas judiciais.
Na sua narrativa memorialista, Tertuliano, relata a sua
filiação ao Movimento Democrático Brasileiro em Sergipe, aliando-se ao grupo
dos autênticos no enfrentamento às repressões da Ditadura Militar de 1964.
Ideologicamente centrado nas causas populares, elege-se deputado federal em
1978, com 16.772 votos, formando com Jackson Barreto de Lima, atual governador
de Sergipe, a representação do MDB, na Câmara dos Deputados. Tentou fundar o
Partido Progressista em Sergipe, sob a orientação de Tancredo Neves. O PP não
vingou e Tertuliano aliou-se a João Alves Filho na sua trajetória ao governo de
Sergipe, em 1982. Foi Secretário da Justiça e, nessa condição, criou o
Departamento de Assistência Judiciária, órgão precursor da Defensoria Pública.
Com a sua nomeação para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado
de Sergipe Tertuliano Azevedo, encerra a sua trajetória política partidária,
passando a dedicar-se à leitura e à escrita de ensaios jurídicos, históricos e
memorialistas.
O livro está ilustrado com fotografias representativas de
todos os episódios referenciados. Nessa parte iconográfica, destacamos a
primeira vinheta com fotos da família, seguida de uma foto no Cacique Chá, onde
estão Ariosvaldo Figueiredo, ao tempo Superintendente de Reforma Agrária, em
Sergipe; o autor, Tertuliano Azevedo, então Delegado Regional do Trabalho e
este escriba, à época jornalista da Gazeta de Sergipe e Secretário de Gabinete
do Prefeito de Aracaju, Godofredo Diniz Gonçalves. Outras fotos documentam o
ensaio, marcando a trajetória de vida de Tertuliano Azevedo em diversos
momentos da sua vida pública.
A escrita memorialista é o presentificar do passado e,
nisso, Tertuliano Azevedo, no seu livro, Tertuliano: vida, sonhos e lutas,
soube avaliar. A relevância da produção de um ensaio dessa estirpe para a
história regional, sobretudo, para a historiografia Sergipe, apresentando um
vasto manancial de fontes que, com metodologia apropriada, pode ser convertida
em riquíssima pesquisa sobre a memória política do nosso estado.
Texto reproduzido do blog:
joseandersonacademiadeletras.blogspot.com.br
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