Patrícia Polayne / Foto: Marcelinho Hora.
Breve história da música em Sergipe
Até 1970 a música popular massiva sergipana praticamente não
existia. Não se produzia discos e ela se limitava a alguns intérpretes dos
ritmos ouvidos em todo Brasil à época: boleros, chorinhos e muita música
romântica e saudosista.
Os nomes que se destacaram foram: Luís Americano, que teve
seu chorinho apresentado nos Estados Unidos, e Francisco Alves, conhecido em
todo o Brasil. Contudo, o forró se apresentava como ritmo que atraia o gosto
popular e a iniciativa artística local. Grandes nomes forrozeiros acompanharam
o sucesso do ritmo levado ao país inteiro por Luiz Gonzaga, e fizeram sucesso
nacionalmente representando Sergipe. Dentre eles estão Clemilda e Erivaldo de
Carira.
É no final da década de 70 e início dos anos 80, que começa
a surgir um sentimento ufanista em nosso Estado em relação à música.
Desenvolve-se o conceito de música popular sergipana, que traz a idéia de uma
música autêntica de Sergipe.
Os festivais
As décadas de 70 e 80 foram marcadas por grandes Festivais
de Música no Brasil, valorizando a música popular brasileira e revelando
grandes artistas. Sergipe também acompanhou este movimento, pois, além dos
Festivais Nacionais, havia vários outros festivais regionais e estaduais dos
quais nossos artistas participavam. Além disso, Sergipe também teve seus
festivais, e um dos primeiros que entraram para a história foi o FMPS -
Festival de Música Popular Sergipana, na década de 80, cujo primeiro vencedor
foi o grupo Cata Luzes. A sua segunda edição revelou o cantor Mingo Santana,
que ganhou o primeiro lugar com a música 'Sementeira'.
Outro festival importante foi o Novo Canto - Festival de
Música Estudantil, que em 86, 87 e 88, lançou nomes como Chico Queiroga,
Antônio Rogério, Sena e Sergival, Nininho Silveira, hoje Nino Karva, entre
outros. Vale lembrar que o festival gravava um disco com as 10 melhores
músicas.
Música popular sergipana
Intimista, a música popular sergipana surgiu nos anos 1980.
Ufanista, a música produzida optou por temas sempre ligados à nossa cultura,
aos aspectos físicos e naturais do Estado, ou simplesmente, à situações ou
pessoas do lugar, como pode ser notado em trabalhos do já mencionado grupo Cata
Luzes, além dos cantores Paulo Lobo, Lula Ribeiro e Irineu Fontes.
Quanto ao ritmo, variava de blues a rock, passando pelo
forró, é claro. Também nessa década, surgiu, de forma acanhada, a bossa nova
sergipana, tendo como propiciadores Joubert Moraes, Lina e Marco Preto.
Os encontros culturais em Sergipe tiveram uma participação
importante na divulgação de nossa música e ritmos folclóricos. Destaca-se nesse
período o Encontro Cultural de Graccho Cardoso, que, em sua edição de 98,
aboliu qualquer tipo de música massiva como o axé ou o pagode.
Os demais encontros, sendo os principais o Encontro Cultural
de Laranjeiras, o Festival de arte de São Cristóvão (FASC) e o Encontro
Cultural de Propriá, que biscavam dar ênfase ao folclore, às manifestações
populares e à arte.
Nas décadas de 70 e 80, o principal elemento de divulgação
dos músicos sergipanos foram, sem dúvida, os bares. Cada dia da semana era
destinado a um barzinho.
A Universidade Federal de Sergipe também foi um dos
fomentadores da nossa produção musical, embora tenha sido de maneira
esporádica, mas, indiretamente, lá se articulava o movimento da música popular
do Estado. A UFS promoveu em 1989 o Festival de Música Ecológica, cujo vencedor
foi Nininho Silveira, e em 92, o Femufs - Festival de Música Universitária.
Em 1997 surgiu uma nova tentativa de articular o Novo canto,
mas que não obteve o mesmo referencial das edições anteriores. Projetos como o
Prata da Casa e o Projeto Seis e Meia, promovidos pela Secretaria de Estado da
Cultura, incentivaram o trabalho de muitos artistas.
O Canta Nordeste, na década de 1990, estimulou a produção musical
de Sergipe, reunindo grandes intérpretes e compositores como Amorosa, Ismar
Barreto e Patrícia Polayne.
Em nível local, o Sescanção, festival realizado pelo Sistema
Fecomércio, pode ser considerado hoje o evento mais articulador da música em
Sergipe.
A década de 1990 e a Pausterização da Música
O aparecimento da Axé-music começa a tomar lugar no gosto
popular estimulado pela mídia. Depois com a prévia carnavalesca inspirada na
axé-music baiana, o Pré-caju, e do Forró eletrônico, o processo de gravação da
música popular sergipana foi totalmente interrompido.
A onda da forró-music conta com inúmeras bandas locais que
são sucesso todo ano. Poderíamos citar Raio da Silibrina, Brucelose, Calcinha
Preta, Bando de Mulheres e Chamego de Menina.
Dessa forma, muitos dos artistas de referência dessa música
tiveram que buscar outras formas de divulgação de seus trabalhos participando
de festivais em outras partes do Brasil, como o de Campos do Jordão ou Maringá,
ou tentando divulgar seus trabalhos nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo,
como Lula Ribeiro, Doca Furtado e Chico Queiroga, mas não fugindo totalmente de
suas origens.
Alguns artistas destacaram-se naqueles festivais como a
dupla Sena e Sergival. Outros artistas como Amorosa, Rogério tiveram que se
adaptar ao mercado dos mass media em um desses momentos, embora buscassem
manter um sentido mais artístico e caracterizador da cultura local.
Dos artistas em destaque nos anos 1980, só em meados da
década de 1990 é que alguns conseguiram realizar um trabalho completo como
Chico Queiroga, que formou dupla com Antônio Rogério, Joésia Ramos, Mingo
Santana, Antônio Rogério e Rubens Lisboa. O grupo Cata Luzes também consegue
nesta década gravar seu segundo CD.
A década de 90
Outros gêneros musicais são fomentados na década de 1990. O
gênero pop-rock, em Sergipe, desponta com o festival de Rock-SE. Alguns
artistas se destacam, a exemplo de Minho San-Liver e Mosaico.
A banda Snooze, que apresentou álbuns com selos
independentes, considerados pela crítica bons trabalhos, é um bom exemplo do
rock sergipano. Tempos depois, surgem artistas como Alex Sant'anna e bandas
como Cartel de Bali, Java, Plástico Lunar, Sibberia, e Alapada, que
recentemente conseguiu lançar uma música em novela da rede Record.
O rock mais pesado tem seu representante com a banda Karne
Krua, que faz shows até hoje, Triste fim de Rosilene, além de bandas mais
novas, como a MAUA.
A diversidade musical em Sergipe cada vez mais se consolida
também em outros estilos, a exemplo do reggae, que tem na banda Reação um
grande nome.
Identidade e folclore na música sergipana
Parte do momento de valorização das manifestações culturais
folclóricas duas modalidades que podem ser observadas na relação entre folclore
e música em Sergipe: a inserção de temas e versos dos folguedos na canção
popular sergipana, e a hibridização da música misturando ritmos do rock, jazz e
blues a ritmos folclóricos. O ponto comum é a valorização da cultura de Sergipe
e a inserção nas tendências mundiais da produção musical.
O folclore tem sido valorizado nas canções populares. Mingo
Santana foi um dos primeiros a vislumbrar os ritmos folclóricos misturando aos
seus blues ritmos do folguedo Cacumbi. Suas letras também refletem sua relação
com a natureza e o folclore local.
A dupla Chico Queiroga e Antônio Rogério também trazem o
folclore, embora cantando versos da dança de São Gonçalo, como contraponto à
seqüência da música.
Na segunda modalidade, a música contemporânea sergipana
carrega de sons diversos, misturando ritmos folclóricos sergipanos e
nordestinos com rock, reggae e música eletrônica. A influência do movimento
Manguebit de Pernambuco constitui uma das principais características de muitos
grupos, como na banda Sulanca. A banda Sulanca de forma mais definida trabalha
vários sons inspirados em várias danças e folguedos sergipanos bem como dos
emboladores típicos das feiras nordestinas. No seu álbum 'Megafone' insere diversas
faixas incidentais desses ritmos.
As bandas Naurêa e Maria Scombona têm ganhado destaque no
cenário nacional, participando de feiras de música alternativas e
independentes, sobretudo a de Brasília e de Fortaleza.
Suas músicas trazem uma proposta de interação de culturas, e
ao mesmo tempo de preservação e resgate da cultura local.
O próprio nome da banda Maria Scombona já reflete um
engajamento com a identidade sergipana, pois trata-se de uma expressão
coloquial que significa cambalhota. A banda tem como característica básica a
mistura de ritmos regionais com rock, jazz e blues, e letras despojadas com
expressões do cotidiano e de uso coloquial.
A banda Naurêa trouxe no seu segundo CD, lançado em 2006,
ritmos trazidos do Reisado e do Maracatu, inclusive com uma referência a dona
Lalinha, mestre do grupo de reisado da cidade de Laranjeiras, que mantém a
tradição mesmo a pós a sua morte.
A banda Lacertae também se insere nesse contexto, trazendo
uma proposta híbrida: embora priorize o rock experimental, misturam a MPB e o
folclore da música nordestina. A banda inova inserindo outras artes, como é
típico da música contemporânea, como no CD 'A Volta que o Mundo Deu', com
versos de 'Amiga Folhagem', do escritor sergipano Sílvio Romero.
Nova fase
A Nova Música de Sergipe tem rendido gratas surpresas, a
exemplo de bandas como a Rótulo e Ode ao Canalha, e novos festivais tem
acontecido para dar visibilidade aos artistas da música, a exemplo do Coverama
(festival de música cover) e Sonorama (festival de música autoral).
Outros bons exemplos de espaços para a visibilidade da
música local são os eventos 'Verão Sergipe', 'Rock Sertão', 'Projeto Verão',
'Forró Caju' e 'Arraiá do Povo'.
Com o tempo, a valorização da produção musical sergipana tem
sido maior e vista como investimento, afinal, a cultura é um grande produto de
exportação de Sergipe, e todos precisam conhecer o que existe de melhor no
estado quando o assunto é música.
Fonte: ASN.
Texto e imagem reproduzidos do site: digasergipe.bk2.com.br
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