Exposição fotográfica itinerante,
em homenagem ao aniversário de Aracaju (ano de 2010).
Fotos: Allan de Carvalho.
Publicado no blog da PMA, em 2 de junho de 2010.
Aracaju: o passado e o presente é o futuro.
Por Cleomar Brandi.
A mansidão de um rio guarda segredos imemoriais. Ele é
história, é vida, meio de transporte, paisagem, referência geográfica,
manancial de riquezas infinitas. Os rios têm seus berçários, escolhem suas
rotas, costumam ser sinuosos, delgados, largos, imponentes ou tímidos. Eles
saem por aí distribuindo fartura, guardando histórias do seu tempo, alimentando
crendices ribeirinhas, umedecendo pernas cansadas de lavadeiras e, um dia,
elegem o ponto exato do seu desaguar.
Aracaju foi eleita pelas águas dos rios como destino final.
Um dia, brotado do segredo imemorial das suas águas, o traçado foi determinado
e elas vieram rasgando a mata, cruzando chapadões, varando sertões, como se
sentissem o cheiro do salitre oceânico guardado no litoral sergipano. E Aracaju
se tornou a cidade eleita pelas águas dos rios. Aqui, eles delineiam contornos
geográficos, ajudam a embelezar mais ainda a mãe de todos os aracajuanos,
deixando em seu desaguar um quê de poesia urbana.
Esse é apenas um dos mistérios que fazem de Aracaju uma
cidade única, atraente, bonita e vigorosa. Aqui, o movimento ritmado do
pescador que joga a sua tarrafa coexiste perfeitamente com o novo jeito da
modernidade de uma cidade que guarda, com zelo, seu passado, sua história, seu
povo. Aqui, os mais antigos ainda guardam num canto da memória o ruído dos
bondes sobre os trilhos, o burburinho dos finais de tarde da Sorveteria Iara,
os maiôs Catalina que cobriam pudicamente a beleza das jovens em flor nas
areias da Atalaia.
Num canto dessa memória dos mais antigos ainda desfilam
imagens de elegantes senhores vestidos de terno nas ruas João Pessoa e José do
Prado Franco. Sobre a cabeça, o indefectível chapéu Panamá ou Ramenzzoni.
Tempos passados que se instalaram na memória dos mais antigos e fizeram
moradia. As lagoas e charcos em volta do Batistão, a velha e perigosa curva do
Iate Clube, a Praia Formosa, o mercado Thales Ferraz e a Ponte do Imperador,
guardando sua aparente imponência.
O tempo passou. A cidade cresceu, deixou de ser menina,
amorenou-se, ficou mais ágil, mais dinâmica, mais moderna, mais bela. Hoje, a
imagem dos motorneiros conduzindo os bondes foi substituída por modernas e bem
sinalizadas ciclovias, avenidas bem cuidadas, canteiros arborizados. O crescimento
urbano conquistou o espaço vertical e o maior IDH do Nordeste chegou à varanda
do tempo para dar as boas-vindas às novas gerações.
Os novos tempos chegaram. Mas Aracaju conseguiu guardar, com
zelo de artesão, a delicada ponte que une o passado ao presente e ao futuro. Os
aracajuanos, por sua vez, também conseguiram conjugar, com muita maestria, o
verbo “Aracajuar”. Em suas conjugações, “Aracajuar” significa olhar com amor a
sua cidade, guardar no fundo do peito a silenciosa cumplicidade que deve existir
entre o homem e a sua cidade.
“Aracajuar” é sentar num final de tarde num banquinho da
praça, é sair por aí, andando sob as mangueiras e cajueiros do Parque da
Sementeira sentindo o cheiro das manhãs da minha terra. “Aracajuar” é sair de
bicicleta pelas ciclovias da cidade, de norte a sul, de leste a oeste, sem medo
de ser atropelado. “Aracajuar” é sentir o cangote molhado de suor no ritmo do
Forró Caju, é banhar-se no mar dessa cidade, guardar na memória o provocante
tempero das moquecas aracajuanas nos finais de semana, sair por aí,
“aracajuando”.
E assim, num final de tarde, guardado no colo dessa bela
cidade, saber-se também ungido pelas águas e não esquecer que, agora, o passado
e o presente é o futuro.
Texto e imagens reproduzidos do blog: aracajuqualidadevida.blogspot.com.br
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