Publicado originalmente no blog Literatura Sergipana, em 13 de agosto de 2013.
Ranulfo Prata: “Um escritor com visão proletária” ¹
INTRODUÇÃO
O Escopo deste trabalho tem o Intuito de revelar a todos um
escritor Sergipano, que fora esquecido pelo tempo, tratando de pontos da sua
vida e obra, o que autores falaram sobre ele, a importância e influencias que o
Dr. Ranulfo Prata trouxe para nossa cultura.
As obras de prata relatam a vida do povo sofrido do
nordeste, como também as injustiças e adversidades que passam para conseguirem
sobreviver.
Apesar de inteligente com uma brilhante forma de escrever,
Prata não era chegado os meios sociais por onde conviviam os demais escritores
do início do século XX, essa ausência talvez tenha custando-lhe um enfoque
maior na história literária Brasileira, deixando de ser um dos grandes autores
da nossa literatura.
Um dos Aspectos que nos deixa à desejar é a falta de
informações contemporâneas, a cerca de Ranulfo Prata esquecidos por grandes
críticos literários atuais como, Antônio Candido, Afrânio Coutinho, Massaud
Moises, Sergius Gonzaga entres outros, esperamos que nosso trabalho, seja um
meio de acesso ou pelo menos de conhecimento desse grande autor sergipano.
BIOGRAFIA
Aos quatro do mês de Maio, de 1896, nasceu em Lagarto,
Sergipe, Ranulfo Hora Prata. Iniciou o Curso de medicina em salvador e concluiu
no Rio de Janeiro em 1919. Clinicou em algumas cidades do interior de São Paulo
e Minas, até fixar-se em Santos onde dirigiu o Centro de Radiologia da Santa
Casa e Beneficência Portuguesa em Santos.
Na Cidade de Santos tem contato com a vida dos migrantes
trabalhadores, tema para seu principal livro, Navios Iluminados, o qual
abordaremos posteriormente. Ainda estudante de medicina recebeu na Bahia, seu
primeiro prêmio do concurso de contos d’Atarde, em 1916 com seu conto O
Tropeiro incluído mais tarde na coletânea A longa estrada (1925), contos; em
1918 lança seu primeiro livro o Triunfo, publicou também, Dentro da vida 1922,
Novela; O lírio na torrente (1926), Romance; Lampião (1934), Documentário;
Segundo relatos este foi lido pelo próprio Lampião, que jurou matar o autor; e
por último, Navios Iluminados 1937 romance.
Em vida teve alguns amigos dentre eles Jackson de Figueiredo
e o escritor de Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto, ao qual tentou
livrar-lhe do vicio do álcool, e o fez por um tempo até Lima receber um convite
para uma conferência Literária em Rio Preto, o escritor entrou em um boteco e
voltou a beber. Os dois conheceram-se no hospital do exército quando o escritor
sergipano passara alguns meses de recuperação, Prata levou para Lima Barreto um
exemplar de estreia do seu livro O Triunfo. Em depoimento do próprio Prata, ele
narrou a Silveira Peixoto o início da sua amizade:
Lima Barreto elogiou o livrinho e foi vistar-me no Hospital
do Exercito, onde eu era interno. A visita desse mulato genial deu-me grande
alegria. Sentados no banco do jardim, o Lima meio tocado, como sempre, mas
perfeitamente lucido, claro, brilhante mesmo, queria saber com segurança, se a
Angelina era realmente bonita com eu pintaria. Todos os ficcionistas dizia-me
ele, com ironia, têm a mania de fazer belas as raparigas das cidades pequenas.
Nos lugarejos por onde andara nunca vira nenhuma...Eram todas feias, grosseira,
desalinhadas...e eu garanti que a minha Angelina era positivamente,
encantadora, capaz de virar cabeças sólidas de gente de grandes cidades. (Apud
Carvalho Neto 1972)
Comprova-se essa amizade através de várias cartas trocadas
entre os escritores, onde apresenta em uma delas o convite de Prata a Lima
Barreto para passar uns dias com ele em Mirassol (local onde Ranufo conhecera
sua esposa Maria da Glória, casou-se e teve um filho) a fim de curar Barreto do
Vício do Álcool. Esse período foi de grande valia a Prata, pois foi-lhe dado
várias dicas de técnicas narrativas, principalmente de observação do ambiente a
sua volta, fator determinante para a mudança de Prata para cidade de Santos,
onde serviu como pano de fundo para a criação de Navios Iluminados, como
publicado em carta datada em 14 de janeiro de 1921 Apud Carvalho Neto: “Pudesse
eu tornar-me um seu discípulo e fazer mesmo aqui! Infelizmente, porém, nada
posso fazer no interior, num ambiente que asfixia e mata”.
Após esse período Prata fixa residência no Rio de janeiro
passa pouco tempo por lá, volta a Sergipe onde dá aula no colégio Ateneu
Sergipense, organiza em Aracaju um gabinete Radiológico, volta ao Rio, sabe da
vaga na Santa Casa de Santos como médico radiologista, vai assume o posto e
permanece lá até o fim da vida, faleceu em Santos no dia 24 de dezembro de
1942.
Os livros citados a cima contam um pouco da própria vida de Ranulfo,
pois se percebe as influências pelas quais o médico vivenciou, Nordestino,
interiorano, tornou-se Doutor, fez carreira pelo interior até chegar a uma
grande cidade, pode comprovar que não existe miséria só na seca do nordeste,
como também na cidade grande.
Abaixo, veremos alguns aspectos críticos e sugestões das
quais passaram as obras de Prata, esses relatos foram apresentados em diversos
momentos, por críticos e ou jornais da época, eles foram catalogados por Paulo
de Carvalho onde o mesmo apresentara uma organização por obra e grau de
importância.
Em o Triunfo, Romance de estreia de Prata, Lima Barreto fez
uma crítica ao livro, como se sabe, o escritor gostava de fazer críticas, sobre
os livros que lera, e com Ranulfo não foi diferente: “O Senhor Ranulfo Prata
teve a bondade e a gentileza de me oferecer um exemplar de seu livro de estreia
O Triunfo. Eu o li com interesse e o cuidado de todos os livros de moços que me
caem nas mãos, pois não quero que um só talento me passe despercebido”.
(BARRETO, 1956 d, p. 126-7)
O Livro, Lampião, de Ranulfo Prata, é considerado o primeiro
documento sobre esse personagem, que ajudou a criar a identidade do povo
nordestino, o autor contemporâneo do bandoleiro vivenciou às histórias que
impregnou o sertão nordestino considerado por uns, herói e por outros, bandido,
nele o autor tenta fazer um retrato dessas histórias narrando passagens de
Virgulo Ferreira por cidades e os comentários da população ao saber que este
estava por perto, e os meios de arrecadar fundos para manter o grupo. Algumas
dessas histórias foram narradas nesse livro, conforme o portal do cangaço.
No livro Navios Iluminados é narrada a história de um
migrante nordestino do interior da Bahia para Santos-SP, onde labora como
estivador no cais do porto para sobreviver, realizando atividades quase que
inimagináveis para o corpo humano.
A narrativa trás um caráter naturalista no estilo Émile
Zola, onde o homem é fruto do meio social em que vive. Esses aspectos junto com
a realidade trás para o livro, o meio que vive a população trabalhadora
Brasileira no início do século XX, onde os cortiços, sem instalações sanitárias
são as principais referências dessas habitações subumanas.
LITERATURA PROLETÁRIA
Por volta dos anos 30 do século XX, surgiu no Brasil um novo
movimento da literatura realista chamado regionalista, onde abordava-se
elementos factuais e sinalizava para realidades regionais, esse movimento
trouxe uma nova perspectiva para nossa literatura, surgiu daí grandes nomes
como José Lins do Rego, Guimarães Rosa, Jorge Amado, entre outros.
Estes autores buscaram relatar uma literatura, onde os
personagens geralmente apresentam a singularidades de um povo pobre e oprimido,
eles buscavam fugir dos padrões Modernistas, fazendo com que o retrato fiel dos
fatos fosse mais importante que os próprios personagens.
O Romance proletário faz as observações baseando nos
operários mostrando a miséria Urbano-industrial, dois autores foram felizes ao
escreverem seus romances Os Corumbas de Armando Fontes Santista erradicado em
Sergipe, narra a história de uma família que trabalha nas dificuldades das
indústrias têxteis Sergipanas e Navios Iluminados de Ranulfo Prata, sergipano
que fez do porto de Santos e as mazelas de seus trabalhadores inspiração para
seu Romance.
Nesse período o Brasil estava em ascensão da revolução
Industrial, diversos imigrantes estrangeiros desembarcavam aqui vislumbrando
uma vida melhor, submeteram-se aos trabalhos subumanos nas indústrias, crescia
o movimento comunista baseados nas ideias de Marx e Engels, surgiram os
primeiros sindicatos, que lutavam a favor dos operários, e esse cenário foi
repleto de lutas pelas quais muitos trabalhadores foram mortos defendendo seus
direitos.
O autor de Navios Iluminados também não deixou de esse
gargalo das docas passar desapercebido, as lutas sindicais foram apresentadas
através do personagem Valentim amigo de Severino.
“Valentim era a figura popular entre os operários moços, não
só da Companhia, como de toda a cidade, da Inglesa, da City, das fábricas, dos
moinhos. Fora aluno destacado do grupo escolar da Companhia. Sabia na ponta da
língua tudo quanto era regulamento, e lei trabalhista. Possuía no quarto duas
estantes pejadas de brochura e caixas de sapatos entupidas de retalhos de
jornal. Gostava de discutir ,de explicar, de orientar, sendo figura de proa no
sindicato de trabalhadores da Companhia. Rara era a sessão em que não pedia a
palavra e discorria bem, encarando o auditório com firmeza ,como a querer
fasciná-lo. Criou fama de sábio... O seu nome subira a serra a chegou a São
Paulo, onde também fizera amigos no meio operário do Brás, em cujos sindicatos
já discursara em sessões agitadas” (NI, pág. 52, 53).
Nas duas obras pode-se observar que as dificuldades sofridas
pelos seus personagens fez-se salientar que os trabalhadores passavam por
diversas adversidades, levando ao esgotamento físico, vários adoeceram devido à
falta de condições de trabalho, levando-os a morte.
Como médico radiologista Ranulfo atendera muitos desses
trabalhadores, usando o seu conhecimento de médico para observar a vida deles,
como podemos observar nas páginas do próprio, Navios Iluminados.
À tarde, compareceu à consulta dos doentes do peito. A vasta
sala transbordava de homens, mulheres e crianças. Não quis acreditar que todo
aquele povo de modéstia tão ruim e perigosa. No meio dele, viu muitos
conhecidos até o Cassiano, da sua turma, que lhe disse, jovial:
- Que e isto, José por aqui também “chumbeado”?
Severino veio para perto dele, perguntando admirado:
- Você também é doente?
- Como todo esse pessoal que você está vendo, Vai pra mais
de três anos. Toda semana venho aqui tomar injeção. Estou secando um pulmão.
[...]
Severino, passando os olhos pela sala, notou, admirado, que,
a maioria tinha aspecto de boa saúde. Na sua terra quem sofria daquela moléstia
(era tão raro!) afinava como palito, e o povo todo fugia do padecente como se
fosse beixigoso. Felizmente, o pobre pouco durava, se acabando em três tempos.
Ali, pelo que via, as coisas não se passavam do mesmo modo, o mal acatava muita
gente que não fazia caso, vivendo-a misturada com os sãos, trabalhando e até
contente como o Cassiano. (NI p. 151)
O início do século XX foi marcado com uma infestação de
tuberculose, até então sem cura, e essa doença serviu de elementos narrativos
em muitos Romances dessa época, o ambiente operário era propício para o
alastramento dessa doença. A vivência de Ranulfo, atendendo trabalhadores, fez
do escritor quase um personagem do próprio romance como se ele tivesse presente
nas páginas desse livro, ao atender doentes, o médico pode ouvir muitas das
histórias que aconteceu nas docas de Santos, e possivelmente alguns desses
personagens foi paciente de Prata.
CONCLUSÃO
Embora pouco comenta-se sobre esse autor, Ranulfo trouxe
para a literatura sua contribuição, suas obras apesar de desconhecidas, tem um
traço próprio de narrativa desde a sua obra inaugural ainda como estudante de
medicina.
Esperamos que esse trabalho sirva de ponta pé inicial para
que esse sergipano torne-se conhecido por seus conterrâneos e por estudantes de
letras, sua contribuição não só prenda-se ao olhar bairrista, por ser sergipano
e sim pela contribuição a literatura.
A obra Navios Iluminados, tem a importância não só como
romance literário, mas, como um retrato histórico da cidade de Santos principal
entrada e saída de mercadorias e imigrantes em nosso país. O porto serviu para
construção, e formação não só da Região sudeste Como Também do Brasil.
Ranulfo faz de seus livros, verdadeiros objetos de pesquisa,
pois as páginas são recheadas de passagens históricas do nosso país, relatando,
os locais, as pessoas como também as personagens folclóricas, todas essas
apresentações faz do Doutor prata não somente um escritor como também
pesquisador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
FERNANDES, Rosa Maria valente. Retratos do porto de Santos.
São Paulo: Uniesp. 2012. Disponível em:
http://www.uniesp.edu.br/tema/tema60/08rosaMariaValenteFernandes.pdf. Acesso em 15 de mai. 2013.
http://www.uniesp.edu.br/tema/tema60/08rosaMariaValenteFernandes.pdf. Acesso em 15 de mai. 2013.
NETO, Paulo Carvalho. Um lugar para Ranulfo Prata.
Disponível em:
http://143.107.31.231/Acervo_Imagens/Revista/REV012/Media/REV12-11.pdf. Acesso em 15 de mai. 2013.
http://143.107.31.231/Acervo_Imagens/Revista/REV012/Media/REV12-11.pdf. Acesso em 15 de mai. 2013.
PEREIRA, Alessandro Alberto Atanes. História da literatura
no Porto de Santos: O Romance de identidade portuária “Navios Iluminados”. São
Paulo: USP, 2008.
Fontes eletrônicas:
http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/lima-barreto/o-triunfo.php
http://portaldocangaco.blogspot.com.br/2011_12_01_archive.html
_______________________________
¹ Este texto é parte integrante do trabalho
apresentado por Anali Conceição do Nascimento, Celle Reginy Souza de Oliveira,
Gracielle Pinto do Nascimento, Isabel
Cristina dos Santos Gois, Marianne dos Santos, Wagner Oliveira de Almeida,
Walter Ferreira da Silva do Curso de Letras-Português da Faculdade São Luís de
França, como requisito para avaliação da disciplina Optativa I – História da
Literatura Sergipana, ministrada pelo Prof. José Costa Almeida.
Texto e imagem reproduzidos do blog: literaturasergipana.blogspot.com.br
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