Praça São Francisco. São Cristóvão-SE.
Foto: Gilton Rosas.
Publicado originalmente no site Defender, em 4 de agosto de 2016.
Dossiê do Patrimônio Cultural Praça São Francisco – SE
Por Viviane Oliveira de Jesus*
A Praça São Francisco foi reconhecida como Patrimônio
Cultural da Humanidade em 1º agosto de 2010, na 34ª Sessão do Comitê do
Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO), realizada em Brasília. Considerada referência
arquitetônica e urbana da colonização colonial Américo-Hispânica, São Cristóvão
foi fundada em 1590 e elevada a categoria de cidade em 1823 sendo testemunho da
permanência da Ordem Religiosa Franciscana e das Irmandades consorciadas na
Colônia Portuguesa no Brasil.
Durante a invasão holandesa de 1630 a 1654, São Cristóvão
foi destruída e somente após a saída dos holandeses teve sua formação urbana
definida. O processo de urbanização é caracterizado pela presença dos edifícios
religiosos, marcos delimitadores do perímetro urbano que define como Conjunto
Arquitetônico, Urbano e Paisagístico a Cidade de São Cristóvão, inscrito no
Livro Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico em 1967 como patrimônio
nacional.
De acordo com o Dossiê enviado a UNESCO, disponível no site
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a Praça São
Francisco é resultado das influências da formação de núcleos urbanos da
colonização espanhola e portuguesa, durante o período o qual Portugal e Espanha
estiveram unidos sobre única coroa nos reinados de Felipe II e Felipe III,
entre 1580 e 1640.
O conjunto da Praça São Francisco compreende um quadrilátero
com quatro vias principais e secundárias convergindo para os quatro vértices,
características da Praça Maior de uma cidade, compreendendo suas relações de
comprimento e largura ajustados ao preconizado na Lei IX das Ordenações
Filipinas, tornando-a singular.
O conjunto arquitetônico localizado na praça é de grande
destaque para todo o perímetro tombado pelo Iphan além de manter as
características originais preservadas contribuindo para registro arquitetônico,
urbanístico e histórico da formação da cidade. O conjunto franciscano, exemplo
do Barroco Nacional, é de grande destaque para o conjunto, com a Igreja de São
Francisco, o Convento de Santa Cruz e a Capela de Ordem Terceira (atual Museu
de Arte Sacra). Ainda nesse espaço arquitetural está localizada a antiga Santa
Casa de Misericórdia, o Palácio Provincial (atual Museu Histórico de Sergipe),
antiga Ouvidoria (atual Casa do Patrimônio do Iphan) e o conjunto de casarios
colonial.
Além do conjunto arquitetônico e urbanístico, outro destaque
é o valor e permanência histórica da Praça São Francisco como local de
manifestações culturais tradicionais e populares. A representatividade
religiosa e civil consolida a estrutura espacial e marca como referência urbana
para tais expressões culturais material e imaterial.
O reconhecimento e consagração da Praça São Francisco como
Patrimônio Cultural da Humanidade certifica a significância cultural do bem
patrimonial. Destacam-se algumas especificidades que fortalece a chancela
adquirida: o testemunho único e excepcional da formação de uma cidade colonial
no Brasil que permanece íntegra e com qualidades arquitetônicas e urbanísticas;
a unidade arquitetônica e a integridade estético-visual, harmonia e
autenticidade; os valores culturais, de memória e de história do período colonial
brasileiro e; o registro das modificações ao longo do tempo caracterizando sua
paisagem.
A Praça São Francisco além de outros bens culturais
inseridos na Lista do Patrimônio Mundial são regidos por uma convenção
internacional para proteção, cooperação e assistência que garante a integridade
e longevidade do bem cultural. No início do século XX protegia-se em face a
guerra, mas com o surgimento da UNESCO o conceito e ideia de preservação foi
ampliado e outros fatores de risco são levados em consideração, como ações
destrutivas do meio ambiente, crescimento desordenado, ameaças ao entorno,
catástrofes naturais e precauções e fluxos de turistas.
É papel do arquiteto e urbanista, enquanto cidadão e gestor,
a importância do conhecimento técnico aplicado ao planejamento, desenvolvimento
e preservação dos sítios históricos dado a importância que representam para
toda a humanidade. Preservar não apenas para as gerações futuras mas, preservar
para o hoje, para a permanência dos valores culturais e históricos, preservar
em respeito aos fatos e acontecimentos ao longo dos séculos, preservar pela
relação que o homem tem com os antepassados e pelas tradições.
*Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade
Tiradentes (2004) e é Especialista em Conservação e Restauração pela
Universidade Federal da Bahia (2006). Exerceu cargo de Chefe de Divisão Técnica
da Superintendência em Alagoas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional (2009). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase
em Projeto Arquitetônico, Urbanístico, Conservação e Restauração de Monumentos
e Cidades Históricas e trabalhos em Educação Patrimonial. Professora Curso de
Arquitetura e Urbanismo (desde 2012) da Universidade Tiradentes.
Fonte original do artigo: CAU SE.
Texto e imagem reproduzidos do site: defender.org.br
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