Foto reproduzida do site: amase.com.br
Postada por Isto é SERGIPE, para ilustrar artigo.
Publicado originalmente no jornal Correio de Sergipe, em 26 de março de 2017.
Gumersindo Bessa, Memória e Desrespeito.
Por Terezinha Oliva.
Depois de Tobias Barreto, Gumersindo Bessa é o maior expoente
das letras jurídicas em Sergipe; o seu nome identifica ruas, escolas e prédios
públicos em Sergipe, no Rio de Janeiro e no Estado do Acre. O Bacharel pela
Faculdade de Direito do Recife, nascido na cidade de Estância em 02 de janeiro
de 1859 e falecido em Aracaju, em 24 de agosto de 1913, foi advogado, promotor
público, juiz, desembargador, jornalista e político. Em todas as funções,
portou-se com rigidez de princípios e dignidade e por isso, ninguém lhe nega
elogios e reconhecimento. Sergipanos e acreanos cultuam o seu nome. A cidade de
Estância lhe dedicou uma estátua na sua rua principal; a Academia Sergipana de
Letras fez dele um dos seus patronos e bem assim o fez a recente Academia
Sergipana de Letras Jurídicas.
Gumersindo de Araújo Bessa se apresentou
espontaneamente como defensor dos acreanos, publicando no ano de 1906, um
“Memorial em Prol dos Acreanos Ameaçados de Confisco pelo Estado do Amazonas na
Ação de Reivindicação do Território do Acre” em 20 páginas, a que o advogado
constituído pelo Estado do Amazonas, Rui Barbosa, deu atenção e resposta.
Inaugurou-se assim um debate de gigantes, afinal vencido por Gumersindo Bessa,
que, tornando-se advogado do Acre, não tratou apenas da disputa territorial,
mas do direito dos acreanos a decidirem o seu próprio destino.
No mesmo ano de
1906 Bessa foi o jurista que se pronunciou sobre a legalidade do movimento
liderado por Fausto Cardoso que, em Sergipe, intentou substituir o governo
oligárquico e o mando do Senador Olímpio Campos. Fiel ao amigo que perderia, no
desfecho da revolta política, custeou o seu funeral em meio ao doloroso momento
que se seguiu ao assassinato do tribuno e discursou, exaltando-o, em 1912,
quando em decorrência da iniciativa popular, inaugurou-se a primeira estátua de
Aracaju, transformando Fausto Cardoso em herói da cidade.
Pois bem: nada disso
impediu que a memória do próprio Gumersindo Bessa tivesse sido desrespeitada da
maneira mais contundente, atingindo o seu túmulo e os restos mortais. Há alguns
dias, o médico e acadêmico Francisco Guimarães Rollemberg, ex-senador da
República, deparou-se com o túmulo do jurista, no Cemitério Santa Isabel,
servindo de maternidade de gatos e de depósito de lixo. À situação de abandono,
juntou-se a ação de vândalos, resultando no que foi encontrado pelo acadêmico:
lápide quebrada, destruição dos anjos que adornavam a sepultura e ossos
desaparecidos em sua maior parte, incluindo o crânio.
Este quadro macabro mostra
como não cuidamos da nossa memória. Há figuras que são representativas da
inteligência sergipana. As marcas da sua memória, excedendo em importância, não
podem ser confiadas apenas aos cuidados ou à incúria das suas famílias. Já
possuímos estudos sobre os testemunhos existentes nos cemitérios –
particularmente no Santa Isabel – que podem ser a base para um levantamento da
situação desses túmulos e para um trabalho de conservação e cuidado,
significativo do respeito que devemos ter a quem contribuiu para a construção
da sergipanidade. Em todos os lugares, os cemitérios históricos são objeto de
visitação até mesmo turística, por guardarem testemunhos importantes da
memória. Estado, Município e organizações da sociedade civil podem e devem
tomar iniciativas neste sentido, para que não tenhamos que registrar atestados
de incivilidade e de barbárie.
Felizmente o acadêmico Francisco Rollemberg
conseguiu do Cemitério Santa Isabel, em 10 do corrente, a entrega dos restos
mortais de Gumersindo Bessa e do busto que identificava o túmulo. Entregues à
Academia Sergipana de Letras, agora o busto ficará permanentemente na sede da
Academia, ao lado do de Tobias Barreto, enquanto os restos mortais serão
inumados no monumento ao jurista existente na Praça Central da Rua Capitão
Salomão na cidade de Estância. Esta necessária providência respeita a memória
do grande jurista e político, mas Aracaju perde, pelo descaso, mais um
testemunho do seu passado.
Texto reproduzido do site: f5news.com.br
Que texto fantástico! Sergipanos precisam aprender que o respeito pela história dignifica o nosso presente. O respeito promove consciência, sentimento de pertencimento, paixão entre muitas outras coisas. É lamentável o descaso, mas fico feliz pela iniciativa do acd. Francisco e da ASL.
ResponderExcluirDesde a antiguidade que a preservação da memória é fundamental para compreendermos o presente e aflorar o sentimento de pertencimento. Me orgulho de ser conterrâneo de ilustre jurista.
ResponderExcluirDe fato, Sergipe é "bom à Bessa". Ótima matéria.
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