Foto reproduzida do site: musica.terra.com.br
Postada por Isto é SERGIPE, para ilustrar artigo.
Publicado no blog Ney Vital, em 4 de janeiro de 2016.
Música Brasileira e os 6 anos de ausência do
João Ventura (2016).
Por Raymundo Mello*
A data 05 de janeiro
de 2016, marca os 6 anos de ausência do 'João Ventura', um sergipano pelo
coração, cantor, compositor, poeta, que fez sucesso artístico no Brasil e no
mundo, e, por opção própria, ao aposentar-se, em 1980, no auge de sua carreira,
referenciado pelos melhores nomes da música popular brasileira – ele que lançou
artistas como Jorge Ben (hoje Jorge Benjor) e Djavan –, resolve deixar o sucesso
por lá e voltar para o Aracaju de sua juventude, para o seu 'Sergipinho' (ai...
saudade do meu Sergipinho – ele cantava) e vem para a terrinha, lembrar, cantar
e reviver, enquanto pôde, seus carinhos, suas amizades, seus velhos
companheiros de farra e história.
Trouxe a sua experiência, o brilho de sua arte, o calor de
suas emoções para a alegria de seus amigos e especialmente de seus familiares
que o acompanharam Rio de Janeiro – Aracaju (esposa querida, filha, filho,
netos), além de juntar-se aos aqui residentes, eu inclusive, seu irmão. Como
foi bom ter João conosco. É verdade que, por insistente convite de 'Chico
Anysio', ele aceitou mais um ano no Rio de Janeiro, colaborando com o grande
mestre na elaboração e direção musical do famoso 'Chico Anysio Show', mas foi
só um ano e, graças a Deus, ele resistiu aos insistentes – insistentes mesmo –
convites do diretor de novelas 'Herval Rossano', que o queria, a todo custo, na
produção da segunda edição da “Escrava Isaura”.
Eles fizeram juntos a edição da Globo, a original, feita
quando os recursos técnicos ainda eram poucos, e Herval o queria junto na nova
edição da novela para a Rede Record. Mas João resistiu e Herval ficou chateado,
embora entendesse suas razões. Diga-se de passagem, a “Escrava Isaura” da
Globo, até quando João vivia, rendia-lhe alguns reais, poucos, é verdade,
porque no parte e reparte do que vinha da Alemanha, China e demais países do
mundo onde a novela foi exibida – e vejam que ela andou sendo dublada no mundo
inteiro –, sempre lhe trazia satisfação, não pelos valores que eram pequenos,
mas pelas origens – Europa, Ásia, África e Américas.
Tenho umas poucas coisas de João. Poderia ser muito mais,
porque, na verdade, estávamos, calmamente, selecionando materiais,
correspondências, discos, fotos e tudo mais que julgássemos importante para um
'Memorial João Mello' a ser implementado e aberto ao público, com o próprio
João falando, dizendo ao vivo o que significava tal foto, tal documento, tal
disco, a exemplo de um pequeno acervo que já existia, devidamente organizado em
uma dependência da Rádio Aperipê, aos cuidados do funcionário senhor “Anjo”,
que João, carinhosamente, tratava por “Anjinho”, apesar do volume do homem ser
mais para “Anjão”; era um quase atleta, mas delicado, com gosto para cuidar das
coisas, como ele mesmo dizia.
Infelizmente, fomos pegos de surpresa, e na manhã de 5 de
janeiro de 2010, o nosso 'João Mello', o legítimo João Ventura por ele cantado,
foi-nos tomado, mas seguiu serenamente para o outro lado da vida, e nesse outro
lado ele é eternizado e nos aguarda. Quem sabe, lá no “aeter” já está montando
aquele memorial imaginado. Quem sabe? Anjo aqui, anjos lá, tudo é mais fácil.
João, homem simples que nunca pensou em si, como reclamava
seu amigo Luiz Antônio Barreto, fez um auto-retrato em uma canção dos anos 40,
elogiada em artigo publicado no “Sergipe - Jornal” de 1947 pelo insigne
jornalista e homem de letras de Sergipe e do Brasil 'Aluysio Mendonça Sampaio',
que, em texto publicado na 'LB-42 – Revista da Literatura Brasileira' (2006),
diz: “Destaque-se, ainda, que a canção João Ventura ressalta a personalidade
participante do compositor, pois o dito Ventura, cidadão de Aracaju, “não é
malandro nem vagabundo”, “é um cabra inteligente, sonha um mundo diferente, pra
ele e pra todo mundo”. E, como digo na última página (219) do livro 'João
Ventura – Cidadão de Aracaju', “por esse sonho, todo o roteiro de sua vida teve
que ser refeito; mas, valeu a pena”.
Guardo, com muito carinho, a página 'Cultura e Variedades'
(que me foi doada por um “Ilustre Desconhecido”) do Jornal Cinform, edição de
26/12 a 01/01/2006 (Ano XXIII – Edição 1185), onde a jornalista e editora
'Flávia Martins' publica excelente entrevista com João Mello, com o título
“João Mello e vida passada a limpo”. Trata-se de uma entrevista de alto nível,
com excelentes fotos, realizada na então residência de João Mello. Com um sabor
diferente, delicado, a editora e jornalista Flávia Martins repassa a seus
leitores uma leitura correta sobre seu entrevistado, o porquê do seu livro, com
ótimos registros, e cita fatos quase perdidos em minha memória. Penso em
registrá-la, e, se interessar ao 'Museu da Gente Sergipana', passar para os
arquivos daquela casa, onde estudamos, João e eu, cada um a seu tempo. Será um
documento a não se perder. Vou falar com o doutor Ézio sobre o assunto.
Além da manchete acima citada, escreveu Flávia com destaque:
“Aos 84 anos, compositor abre o peito e revela preciosas memórias dos primeiros
anos do rádio em Sergipe, como produtor das gravadoras Philips e Som Livre e
descobridor de talentos como Jorge Benjor e Djavan”.
“Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha”, diz um
verso popular. Não canto, mas lembro e vou lembrar sempre, já que os órgãos de
cultura do estado e do município são omissos quando quem deve ser lembrado não
é um subalterno, porque tem (ou teve) dentro de si a sua arte.
João Mello editou para o mundo o seu “Sergipinho” - “ai,
saudade, saudade do meu Sergipinho, tão pequenininho, mas tão bonitinho que dá
gosto a gente ver. Ai, que saudade, qualquer dia desse eu vou voltar pra lá,
vou ver meu bem querer. Etc... etc...”.
E em seu livro, publica poema sobre seu Aracaju e suas
pérolas artísticas, e como última estrofe, diz:
"E as
lembranças são tantas meu Aracaju...
das suas
luas de tantas serenatas
que há de
faltar papel pra descrever.
O que eu quero que saibas é que eu
voltei
desta vez
pra ficar, te olhar, te ver,
e te pedir
a terra pra quando eu morrer!”.
Ninguém foi tão
aracajuano e sergipano como ele; por isso, enquanto ainda falo e escrevo, vou
continuar lembrando que o 'compositor João Mello' continua a merecer a
lembrança e a homenagem de Aracaju e de Sergipe – uma rua ou um logradouro com
seu nome, uma passarela ou viaduto onde seu nome seja eternizado e os futuros
sergipanos ou visitantes tomem conhecimento da existência desse homem, lembrado
e sempre citado na imprensa baiana e carioca, onde suas músicas continuam sendo
executadas por antigos e novos intérpretes.
Só pra lembrar:
“Sambou... sambou”, que ele compôs com João Donato, supera a casa de 50
gravações, no Brasil e no mundo.
* Raymundo Mello é Memorialista [raymundopmello@yahoo.com.br].
Texto reproduzido do blog: blogneyvital.blogspot.com.br
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